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AMB cobra mais qualidade na formação dos médicos

A Associação Médica Brasileira tem pressionado o governo federal para que seja colocada em prática a decisão de congelar, por cinco anos, a abertura de novas escolas médicas. O presidente da entidade, Lincoln Lopes Ferreira (foto), lamenta que devido à baixíssima qualidade dos profissionais que a maioria das novas escolas está diplomando, a saúde da população esteja em risco e sobrecarregando ainda mais o sistema de saúde. Para o médico, “o país claramente extrapolou sua capacidade de formar médicos com um mínimo de qualidade”. A Associação Médica não concorda com o atual modelo educacional e trabalha para modificar as regras e incluir, dentre outras coisas, a implementação dos hospitais escola como um dos pré-requisitos para garantir a boa formação do médico.

 

As escolas estão formando médicos sem a qualificação adequada?

O Brasil extrapolou a sua capacidade de formar médicos de maneira adequada. Nós não temos mais nem mestres, nem professores doutores, nem instalações, laboratórios, cadáveres, hospitais e ambulatórios que possam acolher os acadêmicos que já existem. A formação fica bastante precarizada por falta de um conteúdo técnico e, sobretudo, nos aspectos éticos e humanísticos da profissão. Nós entendemos a necessidade de existir uma moratória de abertura dos cursos de medicina, por um prazo de cinco anos, que nos permita, ao longo desse tempo, estabelecer as bases do funcionamento adequado de uma escola médica no Brasil. Que ela tenha capacidade de produzir um médico que atenda as nossas necessidades como cidadãos e não simplesmente uma faculdade que vai render lucro, mas cujos impactos sociais são imensuráveis e os riscos, em termos de custos, desperdícios, diagnósticos inadequados, sequelas e mortes evitáveis.

 

O próprio governo federal decidiu interromper por cinco anos a abertura de novas escolas de medicina. Por que isso não ocorreu?

Está sendo negociado para ser colocado em prática. Nós estamos atuando diuturnamente junto aos Ministérios da Educação e da Saúde e o Governo Federal. A resistência é o lado político/empresarial, que vê apenas o negócio, que olha apenas o negócio que dá rendimento e não se preocupa com o conteúdo e a qualidade daquilo que eles vão entregar para a sociedade. A maioria dessas faculdades não tem hospital escola e isso pode ser verificado junto aos conselhos de processos éticos. O hospital escola é oneroso e presta serviço à população. É um local de aperfeiçoamento de aprendizado, mas como ele é oneroso, ele não dá retorno, a maioria das escolas não se interessa por mantê-los.

 

As escolas abrem sem os pré-requisitos necessários?

Essas escolas cumprem as regras atuais existentes, que nós consideramos absolutamente insatisfatórias. A Lei dos Mais Médicos permite a flexibilização absurda nos termos da prática do exercício da medicina, que permite o aparecimento dessas escolas, que nós entendemos, sem as devidas condições.

 

Pode acontecer um movimento inverso, das faculdades que mantém hospitais escolas optarem por desativa-los devido ao seu custo, já que eles não são obrigatórios?

Não, isso não deve acontecer. Essas escolas são tradicionais. Isso não ocorrerá. O que pode acontecer é que, em um certo momento. exista uma estagnação desse modelo, ou seja, a maioria dessas novas escolas tem uma grande quantidade de pessoas baseadas no Fies, já que o custo de um curso de medicina é muito alto. O Fies se encontra em uma fase de retração. Não existem mais recursos disponíveis para isto. O que nós estamos tentando é manter uma qualidade. O atual modelo vai se exaurir por um processo de mercado, de exaustão da qualidade e enquanto isso não acabar, a qualidade dos profissionais que vão entrar no mercado vai cair progressivamente. Isso vai gerar um custo social para a população brasileira que vai além de uma geração. O tempo médio do exercício legal de um médico, de acordo com o CRM é de 43 anos.

 

A população pode ficar desassistida?

A população já está desassistida. É necessário financiamento e gestão do Sus. O que nós estamos dizendo é que o padrão da assistência, que já está precário tende, mantida a política atual, a se precarizar ainda mais nos próximos anos.

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