O Brasil precisa respeitar mais os empresários. São eles que geram impostos, empregos e mantém a economia saudável. A realidade, no entanto, é outra. O setor produtivo está sendo cada vez mais penalizado com aumento de impostos, com uma burocracia que impede o crescimento das empresas e com um governo que gasta muito. É revoltante ser empresário no Brasil. Esse retrato foi desenhado por Modesto Araújo (foto), um dos poucos empresários no país que vai fechar 2016 com um crescimento no faturamento de 10%. A receita para sobreviver a essas turbulências econômicas e administrativas é a de usar a criatividade, pessoas competentes e cortando nos custos, coisas que o governo deveria fazer e não faz, segundo ele. Modesto Araújo também critica os parlamentares que, para ele, se comportam como se o país não estivesse passando por uma das suas maiores crises.
A recuperação da economia está mais lenta do que o esperado?
O governo está fazendo um bom trabalho. Mas ainda tem muito mais para ser feito. O problema é que ele está enfrentando muita resistência. Os deputados pensam primeiro neles e depois no Brasil. Os deputados têm um discurso, falam que são a favor, mas na hora de votar, dão as costas. Eles parecem não entender a situação do Brasil, eles querem que o país funcione, mas agem como se não existissem problemas. Em uma empresa, a primeira coisa que se faz é reduzir os gastos e tentar aumentar a renda, acabar com o desperdício. Mas no governo, ninguém quer fazer isso. Todo mundo é resistente a PEC do Teto dos gastos públicos, falam que vai prejudicar a saúde. Não vai prejudicar nada. Vai é acabar com a festa dos gastos.
O presidente da Câmara Rodrigo Maia marcou para terça-feira a votação da PEC do Teto, o senhor acredita que o governo terá dificuldade nessa votação em segundo turno?
Eu acredito que os deputados terão bom senso e acredito que vão votar corretamente. Tirando, logicamente, a turma do PT, que faz oposição ao governo e vai votar contra. O restante, eu acredito que vai votar a favor, porque é preciso um limite. É preciso colocar um limite nas coisas. Eu espero que eles tenham lucidez e votem corretamente.
Os comerciantes estão considerando que 2016 foi um ano perdido. Mesmo estando em uma situação diferente, como o senhor analisa a situação?
Os governos estadual e federal enxergam muito mais a indústria do que o varejo. O varejo não tem nenhum incentivo fiscal, a indústria tem vários incentivos. O varejo gera muito mais emprego e muito mais imposto que a indústria. O varejo quando compra a mais da indústria, ele tem que pagar. O varejo é muito difícil. As pessoas estão sem dinheiro. Nós notamos que as pessoas querem produtos mais baratos, mais populares. O perfil de compra mudou. Antes o consumidor comprava um sabonete de 125 g e agora compra um de 90 g. Na hora em que o consumidor decide comprar um produto mais barato, há uma tendência da redução do faturamento. Por outro lado, o Estado não ajuda em nada. A carga tributária está cada vez mais alta. Existem dificuldades em todos os setores. As dificuldades são crescentes, cada dia são mais exigências, mais burocracia. Para abrir uma loja é “uma peleja”. Tudo é difícil com o poder público. É preciso que haja uma conscientização dos governos municipal, estadual e federal, para pelo menos desburocratizar e nos deixar trabalhar em paz. Perde-se muito tempo com a burocracia, sem falar na loucura que é o nosso manicômio tributário. As vendas diminuíram, muitos fecharam as portas mas daqui para frente existe um otimismo. Eu espero que até 2019 as coisas melhorem.
O senhor credita que a economia só vai melhorar em 2019?
Infelizmente estragaram demais o nosso Brasil. Até que todas essas feridas cicatrizem, estou esperando uma recuperação em 2019.
Os governos estão penalizando demais o setor produtivo, o comércio?
Virou uma indústria louca de multas, de exigências. O governo tem que demitir as pessoas e diminuir os gastos da administração. Nós não estamos vendo diminuição nenhuma. Do mesmo jeito que estamos demitindo e diminuindo a estrutura, o governo deveria fazer o mesmo, deveria fazer a parte dele. Os governos do estado e municipais, todos têm que fazer o dever de casa. O presidente Temer está fazendo o dever de casa.
O senhor está na contramão disso tudo, está abrindo lojas, investindo. Parece que não tem crise, como o senhor consegue se manter com esse cenário econômico e crescer?
Eu acredito que na época de crise é o melhor momento para você expandir. Nós temos trabalhado com muita austeridade de despesa e procurando crescer. O mundo não vai acabar, o país não vai acabar, estamos passando por um momento de dificuldade. Então, vamos aproveitar este momento e expandir para que na hora que acabar essa tempestade, você estar estruturado e com um número maior de lojas. Por isso estamos inaugurando no próximo mês um novo centro de distribuição com 31 mil m², com uma área de 62 mil m², em Contagem. É um investimento de R$ 130 milhões, abrindo novas lojas. Estamos programando abrir mais 40 lojas no ano que vem. Vamos esperar tempos melhores para o Brasil, se o governo nos deixar em paz, principalmente o estadual e o municipal.
O senhor vai investir na região metropolitana?
Nós estamos indo para o interior também. Neste ano nós vamos fechar 2016 com 29 novas lojas.
O senhor já tem uma expectativa de faturamento para este ano?
Nós vamos fechar 2016 com faturamento de R$ 1,9 bilhão a R$ 2 bilhões, um crescimento próximo de 10%. Nós não podemos aceitar as coisas do jeito que elas são, nós precisamos ter competência. Temos uma equipe competente para procurarmos crescer e sair da crise.
Os empresários precisam ensinar o governo a administrar, falta competência nos governos?
Nós temos que ensinar a esses governos a nos deixar trabalhar. As prefeituras precisam parar de implicar com placa, passeio, estacionamento, ser menos burocráticos na hora em que nós queremos construir uma loja, liberar a instalação mais rapidamente. Eles dificultam em tudo. E não é só a prefeitura de Belo Horizonte. Em qualquer cidade nós temos essa morosidade. Eles não têm pressa de nada. Para fazer esse investimento em Contagem, só para aprovar a construção, gastaram três anos, um CD que vai gerar R$ 180 milhões de ICMS e mil empregos. Quando o governo respeitar mais os empresários, que geram emprego e impostos, ninguém segura esse país. O que falta é respeito com os empresários. Todos os governos deveriam respeitar mais os empresários. São os empresários que pagam a conta, o governo gasta. Nós que pagamos impostos e, no entanto, não somos respeitados. Para tudo criam dificuldades. Por isso é revoltante ser empresário hoje no Brasil.