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Candidatos sem discursos e propostas

Paulo César de Oliveira
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A economia brasileira continua patinando. As expectativas de melhora estão se resumindo ao que os economistas chamam de voo da galinha. As incertezas são potencializadas com um quadro eleitoral pouco animador e, ao que tudo indica, a discussão dos problemas brasileiros será feita de forma superficial, segundo o economista e editor-geral da revista Mercado Comum, Carlos Alberto Teixeira de Oliveira (foto). Após dois anos de governo Temer, a crise econômica dá sinais de que ainda não acabou, afasta investidores e mantém os seus efeitos perversos, como o desemprego e o fechamento de empresas.

 

Os empresários estão menos otimistas em relação à economia brasileira. O que está acontecendo para aumentar essa desconfiança do setor produtivo?

O que está acontecendo é que essa situação foi provocada por algumas incertezas. Houve a elevação da taxa de juros nos Estados Unidos, o aumento do preço do petróleo, a crise da Argentina e, claro, o conteúdo político dessas eleições que vão acontecer no Brasil. Juntos, esses fatores influenciam no sentido de puxar para baixo o crescimento econômico. Se antes as projeções indicavam até uma possibilidade de crescimento de 3%, hoje temos alguns institutos trabalhando com índice de 2 a 2,2%. Um detalhe importante da atividade econômica é que o dínamo da economia se chama confiança e credibilidade. Nós temos um cenário obscuro e incerto em relação às candidaturas, isso, necessariamente força uma redução dos níveis de crescimento. De outro lado, nós já esperávamos também que isso pudesse acontecer, porque os ingredientes principais para o crescimento econômico mais vigoroso, mais consistente e contínuo e não para que seja simplesmente um voo de galinha, estão completamente ausentes. Nós não fizemos as reformas, o déficit público continua exorbitante, a legislação brasileira impedindo aumento de produtividade, de competitividade. Em síntese, mesmo que nós estivéssemos crescendo a uma taxa de 3%, esse crescimento não seria consistente. Não seria duradouro, definitivo.

 

O presidente Michel Temer pensa até em antecipar a retirada da candidatura dele à presidência da República para melhorar o humor do mercado. Essa decisão terá algum efeito?

Acho que não. Se ele estivesse bem nas pesquisas poderia ser mas, ao contrário, nas pesquisas ele aparece com um ou dois por cento, o que significa trocar zero por nada. A tendência é a de continuar essa situação até as eleições. Esta crise em que nós estamos, ainda sem sair dela, tem uma característica diferente de todas as demais que já aconteceram no Brasil. É que ela não está atrelada a nenhum fator exógeno e nem a questão cambial. Ela é efetivamente provocada por nós mesmos. A crise foi provocada por N fatores. Não é conjuntural, não é de confiança. Ela é basicamente estrutural. E tem um conjunto de travas que impedem o crescimento mais consistente, entre elas a taxa de juros, até então, elevadíssima, carga tributária violentíssima, uma legislação trabalhista do arco da velha, um regime previdenciário falido. Tudo isso é cúmplice contra o crescimento e contra o desenvolvimento econômico. O país não tem um planejamento estratégico de médio e longo prazo. Nós não sabemos o país que nós queremos. Nós não temos nenhuma meta, não temos convicção em relação a nossa própria economia.

 

Qual será ou deveria ser a pauta dos candidatos à presidência da República?

Eu nunca vi um debate econômico tão fraco quanto o das circunstâncias atuais. Todos eles ainda estão discutindo questões, como a estabilidade da moeda, que nós já alcançamos em certo sentido, com uma inflação de 3%, e, de outro lado, procurando um ajuste fiscal. Nós vamos ficar permeando nesses dois temas. O tema principal ainda não foi colocado: a retomada do crescimento, vigoroso, consistente, contínuo e sustentável e o desenvolvimento. Parece que esses dois temas estão ofuscando toda e qualquer perspectiva de se imaginar um país melhor, um país com crescimento econômico, com melhor repartição de renda, com empregabilidade. Não vejo ninguém dizendo o seguinte: eu quero buscar emprego, quero buscar trabalho novo para o brasileiro. Na minha visão, o debate está muito curto, muito escasso e muito pobre. São as mesmas figurinhas do passado. É um Pérsio Arrida, um Armínio Fraga e tem agora o Paulo Guedes, que todos nós já sabemos qual é a receita dele. Algumas, inclusive, fracassaram no passado.

 

Corremos o risco de ter nessas eleições um pouco mais do mesmo?

Sem novidades. O único que destaca um pouco e que está apresentando alguma coisa nova, mas que está muito abaixo nas pesquisas de intenção de voto é o Paulo Rabello. Ele fala de uma linguagem de desenvolvimento, com uma visão mais de futuro.

 

Temas como a reforma da Previdência ficarão escondidos durante as campanhas?

Eu não usaria a palavra escondida. Esse tema não terá como ficar sem ser discutido. Todos vão tentar tratar o assunto com a maior superficialidade possível, porque as soluções não trarão votos para quem quiser defende-las.

 

Termos uma campanha discutindo na superfície dos problemas?

Eu acredito que sim. O que tem se mostrado é que as discussões irão caminhar nesse sentido. Nós estamos correndo o risco de repetir os 30 anos anteriores, em que toda discussão econômica ficou restrita a estabilidade de preços. Na minha visão, nós estamos correndo o risco de passarmos mais 20 anos simplesmente determinando políticas monetárias no sentido de buscar o ajuste fiscal das contas do governo. Enquanto isso, em relação ao crescimento econômico, nós vamos continuar batendo recordes de taxas inferiores, pífias como tem sido ao longo desse tempo. O principal tema, que é o país se transformar em país desenvolvido, ninguém comenta.

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