Os episódios políticos e econômicos que dominaram a cena brasileira também afetaram Minas Gerais. Sem recursos, o estado foi obrigado a decretar calamidade financeira. A folha de pagamento foi parcelada, o 13º também foi dividido. Mas nada disso abalou o relacionamento entre Executivo e Legislativo. Hoje, dos 77 deputados estaduais mineiros 55 estão na base do governo, inclusive a bancada do PMDB, que virou as costas para o vice-governador, Antônio Andrade. O líder do governo na Casa, deputado Durval Ângelo, disse que o vice não entendeu que em Minas PT e PMDB estão condenados a ficar juntos e avisa que Antônio Andrade vai perder todo o espaço que tem no governo. Durval também quer ampliar a base de apoio do governo para 60 deputados e tem o aval do governador para usar os instrumentos necessários para conquistar os novos apoios. Ele garante que o governador Fernando Pimentel fica até o final do governo, vai disputar a reeleição em 2018 e derrotar novamente o PSDB.
Como foi ser líder do governo em um ano tão conturbado como foi 2016?
O ano de 2016 vai entrar para a história. Foi um ano da morte de Dom Evaristo Arns. Foi o ano da tragédia de Chapecó. Foi um ano que, em plena democracia acontece um impeachment, que foi um golpe. E é o ano do desmonte da era dos direitos. Nem Fernando Henrique, nos tempos áureos do neoliberalismo, teve coragem para tanto e o governo interino está tendo coragem. Então, 2016 vai ser comparado a 1964, ou um pouco pior, pelos acontecimentos tristes na história do Brasil. Eu tento mostrar que em contrapartida, foi um ano que também despertou a intelectualidade. A exceção de uma, todas as Universidades Federais têm movimentos de resistência, com reitores comprometidos com a resistência. Algumas ações do PT desagradaram muitos setores intelectuais e esses setores despertaram agora. Vimos as ocupações nas sedes do Ministério da Cultura como resistência ao fechamento do Ministério da Cultura. O movimento cultural se reaproximou do PT de quem tinha se afastado devido a práticas erradas e equivocadas nossas. Estamos vendo aqui o que não víamos desde os anos de 1968 e 1970, o despertar do movimento estudantil, que a partir da Lei 5692/1971, que foi a lei que mudou muito as diretrizes da educação no Brasil . Teve um despertar no movimento das Diretas, mas não foi muito grande. Agora nós estamos convivendo com as ocupações o despertar do movimento estudantil. E os movimentos tradicionais de luta, por terra, por direito à moradia, estão despertando. Os anos sombrios produziram uma resistência. Eu acredito que teremos tempos melhores pela frente, não produzidos pelos maus exemplos na política, mas produzido por outro protagonista, que é o povo, com os movimentos organizados.
Assim como aconteceu no governo federal, o PMDB também está se distanciando do PT em Minas. O governador e seu vice mal se falam. Como está esta relação e como não deixar essas desavenças contaminarem a base na AL?
Em Minas Gerais, PT e PMDB tem uma caminhada diferente. Estou aqui há 22 anos e nós já tínhamos um bloco de oposição PT/PMDB, no governo de Eduardo Azeredo. Nós tínhamos um bloco que abalou uns seis, sete meses, mas depois foi retomado. Nós mantivemos esse bloco no governo Itamar, quando fomos governo juntos e quando fomos oposição ao Itamar no final do governo. Nos 12 anos do governo tucano nós estivemos juntos, tanto que nós revezávamos PT e PMDB no bloco de oposição. E nos 12 anos, qual foi o momento em que houve apartação durante um ano e dois meses do PT e do PMDB? Foi quando o PT foi se aliar ao PSDB e apoiar o Marcio Lacerda. Aí, por incrível que pareça, o PMDB demonstrou em Minas muito mais coerência do que nós. A propaganda eleitoral daquele ano era a Minas da Propaganda, ninguém mora na Minas da Propaganda. A propaganda do PMDB era mais dura do que a nossa do PT. Aqui em Minas, na Assembleia Legislativa, é isso, que talvez o Toninho Andrade não tenha entendido e alguns deputados federais também não entenderam. Aqui nós estamos um pouco condenados a ficar juntos. Nós temos uma tradição entre PMDB e PT de estar juntos aqui, que é uma tradição totalmente diferente do Brasil. Nós temos aqui 22 anos de caminhada e na oposição. Em dois anos e meio em que nós fomos governo, foi PT e PMDB juntos no governo Itamar e fomos para a oposição juntos. O vice Toninho Andrade não percebeu o sentimento do PMDB mineiro. Por isso hoje ele está isolado, por isso hoje está em minoria dentro do PMDB mineiro. Ele brigou não foi com o governador Fernando Pimentel. O Toninho Andrade brigou foi com a bancada estadual, com unanimidade dos 13 deputados do PMDB. Ele ficou isolado, porque quem tem maioria no diretório estadual do PMDB são os deputados estaduais. Quem tem maioria nos diretórios municipais, são os deputados estaduais, até pela visão deles, porque os deputados federais passaram a cuidar mais do diretório nacional e eles ( deputados estaduais) a cuidar do diretório estadual. A briga não é entre o governador Fernando Pimentel e Toninho Andrade. Toninho Andrade se afastou do PMDB. Ele não percebeu que o PMDB mineiro tem 22 anos de resistência ao neoliberalismo, de resistência às políticas erradas e sempre caminhando com o PT. Hoje não é a reconciliação do governador com o seu vice. Primeiro, o vice tem que reconciliar-se com os deputados estaduais que têm hoje a presidência da Assembleia Legislativa, que têm secretarias importantes no governo do estado e o espaço do vice vai acabar no governo, porque quem vai ocupar esse espaço é o PMDB da Assembleia Legislativa, o que tem princípio e tem ética.
Para 2017, como segurar os servidores com a questão salarial, principalmente depois do governo ter declarado calamidade financeira?
É um ano de dificuldade, mas não é em Minas, é em todo o Brasil. Nós estamos conseguindo pagar os salários no mês os servidores, coisa longe do Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul pensarem. O Leonardo Boff esteve três dias conosco em um encontro, ele é professor aposentado da Universidade Estadual do Rio de Janeiro e está recebendo o 13º salário de 2015, R$ 300 por mês. Nós, em 2016 estamos pagando para todos os servidores 50% do 13º e em janeiro nós vamos pagar para 95% dos servidores, o restante do 13º. Em março, os 5% restante, que são os altos salários, acima de R$ 10 mil é que vão receber. Porque fizemos o decreto de calamidade financeira? É para permitir que nós tenhamos no ano que vem um fôlego. Minas Gerais retomou bem a geração de empregos neste ano. Nós estamos fazendo política pública. A Codemig hoje é uma agência de desenvolvimento, tanto que com essa retomada e essa ação da Codemig, nós aumentamos em 9,5% o ICMS em Minas, coisa que foi no Brasil inteiro negativo . Nós aumentamos 9,5%. O ano que vem vai ser difícil, mas será um ano melhor. E nós temos diálogo com os servidores públicos. Nós estamos sendo transparentes, tanto que nós não tivemos nenhuma grande greve neste ano. Durante 12 anos do PSDB nós tivemos 12 greves, chegamos a ver uma greve de 150 dias. Nós não tivemos em dois anos de governo, nenhuma greve dos professores. Porque? Porque os olhos do governador Fernando Pimentel são bonitos? Não. É porque o jogo está sendo transparente. Nós temos fórum, nós temos mesa de negociação. Nós temos conselho, onde as coisas estão sendo discutidas. Servidor público não quer ser enganado, ele quer dialogar é com a autoridade. Tanto que o governador disse que abre as contas para os servidores públicos é só eles nomearem os auditores. Em 2017 vai ser melhor. Minas vai ser melhor em 2017. E vamos poder anunciar boas notícias de obras no ano que vem. Não vai ser a fartura que gostaríamos, mas o governador é um grande administrador, tem uma boa equipe e será um ano de boas realizações.
A decisão do Supremo em relação ao processo do governador até agora indica o que?
Indica o que nós temos dito. Porque o artigo 92 da Constituição Estadual, diferentemente de outras Constituições, não prevê autorização do Legislativo para abertura de processo por crime comum. O mesmo artigo fala que há o afastamento imediato do governador quando a denúncia for aceita no Superior Tribunal de Justiça. Os dois primeiros votos que nós tivemos foram dados no sentido de que não precisa de autorização da Assembleia, mas que não há afastamento imediato. Foi uma no cravo e outra na ferradura. Mas o voto de um grande defensor, que é o Marco Aurélio de Melo, que acha que não deve ter autorização da Assembleia, o voto dele foi em qual sentido? Que a iniciativa do DEM é inepta. Ele desconsiderou e para mim, esse vai ser o voto médio da desconsideração. Se ouvirmos o comentário que o Fux fez depois, que a Cármen Lúcia fez e o comentário do próprio, aquele que tem o bico grande, o Gilmar Mendes, o comentário dele fica claro que vai ter uma regressão. Mas mesmo os dois primeiros votos não são ruins. Não há afastamento imediato. Eu digo, Fernando Pimentel vai governar os dois anos no poder, ganha do PSDB em 2018 e governa mais quatro anos. Quem quiser tirar no tapetão não vai tirar. Em Minas nós não vamos ter golpe. Nós temos 55 deputados fiéis dos 77. E quero chegar no início do ano que vem com 60 deputados fiéis na Assembleia, não quero mais do que 17 deputados na oposição. Pedi ao governador para que ele me dê os instrumentos e ele disse “você tem os instrumentos que você quiser”. Então, quem quiser ganhar a eleição em Minas não vai assumir mandato pelo meio. Vai ter que disputar e ganhar no voto. Mas no voto, quem vai ganhar somos nós, porque nós estamos com a sociedade no interior e estamos com os movimentos sociais e com aquilo que tem de mais generoso nas lutas políticas de Minas Gerais. Se nós ganhamos com cinco partidos, com 125 prefeitos, hoje nós temos 550 prefeitos que estão conosco em Minas Gerais, temos 18 partidos e queremos chegar a 22. Nós vamos entrar na eleição com a demonstração de força. E quem não quiser perder a eleição fica com a gente, onde o povo está.