Os últimos meses não foram fáceis para ninguém no planeta devido a pandemia da Covid-19. No Brasil e em Minas Gerais a situação foi um tanto quanto confusa. O pânico tomou conta da população, dos governos e, em meio a informações desencontradas, o país tenta retomar o seu rumo. Mas o presidente do Grupo Hermes Pardini, o médico Víctor Pardini (foto), têm muitas considerações e críticas. A empresa acompanha de perto a evolução do coronavirus no país e como tem sido a atuação dos diversos níveis de governo.
Com esse trabalho, foi possível observar como os governos se prepararam para a pandemia? Os estados estavam preparados?
Se tem uma coisa que podemos apontar como diferença no enfrentamento deste vírus e o vírus da Aids, é a qualidade da informação. A China não repassou informação alguma, a não ser a de que era uma gripezinha que iria passar. O mundo não se preparou para aquilo e a China apresentou 3.800 casos de Covid e só depois de muita reclamação e dúvidas de todo o mundo, passaram para 4.200 casos. Foi diferente de quando teve o HIV, em que os Estados Unidos passavam todas as informações possíveis para todo mundo, para o mundo inteiro trabalhar junto. Em relação ao Covid ninguém sabia nada. Inclusive vimos a OMS e a Universidade de Oxford perderem muita credibilidade em relação a orientação ao coronavirus. Lembro que estava no aeroporto e a orientação era para que não usássemos máscara. Os que estavam usando eram orientados a tirar. Isso é rotineiro em alguns lugares, como no Japão, que quando alguém está com gripe usa máscara. Hoje as pesquisas mostram como a OMS estava errada, inclusive ao passar a informação de que crianças não pegavam a doença. Foram uma série de condutas erradas. Os governos agiram de diversas formas. As nossas referências são mais dos Estados Unidos e do Brasil. Eles agiram tanto no modelo econômico, para preservar empregos e acho que o modelo brasileiro adotado pelo governo ajudou muito, para preservar os empregos. Nós aqui temos hoje mais funcionários do que antes da crise, porque não houve demissão em massa e ao mesmo tempo, agora que as coisas estão melhorando, nós temos mais funcionários, principalmente porque tivemos que contratar mais pessoal para limpeza. No modelo econômico foi muito bem, teve o auxílio emergencial também. Na parte da saúde, não gostei.
Por quê?
Podemos dizer que politizaram a doença de tal forma e toda vez que há uma pressão externa em relação à saúde não dá certo. Essa politização fez com que fossem utilizados medicamentos que agora estão provados que não funcionam. Não geram nenhum benefício para o tratamento da doença. Uma das coisas que a OMS fez certo foi dizer que a cloroquina não funcionava. Já havia sido trabalhos publicados no mundo inteiro, e realmente não funcionava. A ivermectina, e até mesmo a hidroxina, que seria o último pilar de defesa da politização do medicamento foi provado por um grupo de médicos de universidades brasileiras que não funcionava como medicamento de combate ao vírus. Tudo isso atrapalhou muito, porque foram utilizados canais de política para se vangloriar e muitas pessoas perderam a oportunidade de fazer o tratamento certo e alguns médicos perderam a oportunidade de fazer experiências com outros medicamentos que poderiam ter dado certo.
E os planos de saúde?
Acho que eles deveriam ter tido outra postura. Nós criamos um sistema de telemedicina e dois meses depois os planos de saúde também estavam criando a teleconsulta para atender a seus conveniados. Aí veio a surpresa de que os médicos receberiam menos de R$ 30 pelas consultas. Sempre se aproveitando da oportunidade em uma situação em que se tem o poder muito grande nas mãos e as pessoas estão dependentes. Particularmente achei que os planos poderiam ter uma política melhor, mais cidadã. Causou estranheza ver essa situação de falta de compromisso, foram omissos.
O vírus foi superdimensionado no Brasil?
Não é que foi superdimensionado. Foi estranho a forma que fechou por 120 dias e soa estranho que a população, nas pesquisas de opinião pública, achava que deveria estar fechado. É a politização da saúde? Nós vamos fazer pesquisas de opinião pública para ver se fica fechado ou vamos seguir a recomendação dos médicos infectologistas, que tem conhecimento, sabem que um nível de 4% é um nível muito baixo e não tem como saturar o sistema de saúde. Nós não fizemos imunização de rebanho nesse período, nós criamos uma quebradeira nas empresas de todo tipo em Belo Horizonte, causamos uma perda gigantesca. Mesmo com apoio do governo, empresas não tinham como manter os funcionários, porque não sabia nem se iriam voltar. Causa muita estranheza os índices estarem relacionados a opinião pública. Em uma situação em que a opinião pública diz que toda pandemia acaba quando as pessoas se cansam, perde-se a oportunidade de fazer a coisa certa. Tem pessoas que estão com antipatia da máscara, do álcool gel, porque ficaram em casa durante 120 dias. De repente começa a abrir e pelo comércio chinês, o que não paga imposto.
Por onde deveria ter começado?
Os shoppings deveriam ser os primeiros a abrir, porque têm controle sanitário, controle de entrada, orientação, tratando diferentes como iguais. Por exemplo, um restaurante grande pode abrir respeitando o espaçamento. O pequeno vai atender uma pessoa, também com limites. São testes que deveriam ter sido feitos e que só estamos fazendo agora. Quando nós vamos adquirir uma experiência que deveríamos ter adquirido há seis meses? E de novo vem a pesquisa falando que a opinião pública cansou e que está na hora de abrir. Só que agora estamos com 25% de positividade em Belo Horizonte e 25% de positividade em Minas Gerais nos casos suspeitos. Esses são dados que encaminhamos para a vigilância sanitária para que ela tome medidas e defina junto com o seu corpo clínico de infectologistas as medidas que devem ser tomadas. Estamos vendo pacientes assintomáticos que não estão fazendo exames, até pela banalização da situação em que estamos vivendo. A regra é testar, notificar, isolar e rastrear. Acabou notificação e rastreamento.