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Érica Drumond: Belo Horizonte precisa acordar e se tornar mais dinâmica

Paulo César de Oliveira
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Érica Drumond

Belo Horizonte precisa acordar para se tornar um roteiro turístico mais atraente, no entendimento da empresária Érica Drumond(foto/reprodução internet), que tem investido pesadamente na modernização do Hotel Ouro Minas, que passa a ser um resort urbano. Ela tem muitos planos na cidade, mas alerta que, para atrair turistas, a cidade precisa acordar, ter uma noite mais vibrante e com opções. Ela tem muito potencial, mas tem perdido espaço para cidades como Nova Lima, que tem uma noite vibrante e intensa, enquanto BH dorme.

Você está com muitos planos para o Ouro Minas. O resort urbano é uma tendência?

Ele tem facilidades que permitem às pessoas ficarem mais tempo. Num hotel simplesmente corporativo ou de convenção, a pessoa vai ali para fazer o seu business naquele destino, naquele hotel, e vai embora. Quando muda o nome de Palace Hotel para resort urbano, o que queremos dizer é que você pode permanecer mais tempo, tem mais coisas para você fazer. Nós ampliamos a parte do lazer e gastronomia para que o hóspede permaneça mais tempo no hotel. Como destino propriamente dito, quando o Ouro Minas abriu, em 1997, ele criou um destino de convenção. Não tinha hotéis de convenção em Belo Horizonte. Então os eventos vinham para Belo Horizonte, porque o Ouro Minas captava. Esses eventos cresciam, iam para o Minascentro. Depois o Estado construiu, em 2009, o Expominas. Cresceram mais, mas o Ouro Minas continua captando eventos para o seu próprio centro.

O que acontece quando ele se torna um resort urbano?

As pessoas já têm uma outra visão de que “eu posso chegar antes, porque tem uma massagista. Eu posso chegar antes porque tem um barbeiro, eu vou cortar meu cabelo, vou fazer minha barba, tem um salão de beleza, eu posso fazer minhas unhas, posso depilar, posso fazer meu cabelo.” Então tem todo um aparato e, além disso, em se tratando da mulher ou da família, eu posso levar o meu filho, meus filhos, minhas crianças. Não é um hotel corporativo, que não recebe criança e não recebe pets. Fizemos toda uma conversão para que os pets sejam bem-vindos, para que as crianças possam ter suas amenidades, shampoo e sabonete infantil dentro dos apartamentos. Os apartamentos passam a ter algum tipo de brinquedo ou uma cabaninha para que eles tenham ali, entretenimento. A loja de conveniência tem um pouco de coisas para crianças, como lápis de cor, livros de colorir, bichos de pelúcia e todas as coisas de comer infantil. Tem a copa família, que também não tínhamos nos apartamentos, para que as mães preparem ali, em um ambiente confortável, com uma mesa para família, tem uma mini cozinha que elas podem fazer mamadeira ou somente esquentar, usar air fryer, tem a geladeira de armazenamento deles, porque o hotel não pode armazenar comida de hóspedes. É uma cozinha de manuseio de hóspedes. Então, foi criada essa estrutura. Vivemos do movimento da cidade e Belo Horizonte melhorou bastante com shows no Mineirão, depois da concessão, e o próprio Expominas também tem um movimentado bastante bom, talvez 200% mais do que quando era gestão pública. Eu mesma fui gestora pública lá durante 8 anos. Então, a gente sabe da dificuldade de negociação. Era uma gestão engessada. Então, a cidade mudou. A própria concessão do BH Airport mudou. Belo Horizonte é uma outra cidade nesses últimos 15 anos. Nesses últimos três anos, com a Arena do Galo, com a privatização do Minascentro, enfim, mudou Belo Horizonte.

Com isso, os que procuram o Ouro Minas, a trabalho ou turismo aproveitam mais as estruturas do hotel?

Antes das mudanças no Ouro Minas, homens e mulheres de negócios tomavam café da manhã em 10 ou 15 minutos. Hoje, tem um público que toma café de uma hora, uma hora e meia na mesma mesa. Isso faz parte do lazer dessa viagem, mesmo sendo de negócios. Então a gente ampliou também o coffee, que tem o dobro do seu tamanho de origem, de quando o hotel inaugurou. Ampliamos as salas de eventos, reformamos as salas de eventos e então estamos agora, em fase de aprovação de uma outra piscina. A prefeitura tem essa lei de fachada limpa. Aprovando a segunda piscina, nós vamos continuar também com uma piscina interna, que é térmica, é aquecida para esse público corporativo que só usava de manhãzinha ou à noite, porque estava sempre trabalhando. Então ela tem ficado muito ocupada durante esses finais de semana com as famílias, com esse turismo de lazer. Então, estamos adaptando um prédio de 28 anos para que ele fique melhor ainda.

Esperava-se que Belo Horizonte se tornasse um destino de turismo de negócios. Esse projeto se concretizou?

Eu era presidente do Belo Horizonte Convention e Visitors Bureaux, quando fizemos uma campanha “Eu amo BH radicalmente”, uma fundação presente em todas as capitais que têm essa vocação de turismo de negócios. Essa é uma atividade que depende exclusivamente das empresas instaladas na cidade, o que leva a uma confusão entre o turismo de negócios e o turismo de eventos. São dois business diferentes. O turismo de negócios, como eu disse, depende das empresas instaladas no local do evento e quando as empresas saem de uma cidade, como aconteceu em Belo Horizonte, esse turismo acabou. Isso porque não tem mais a vinda de empregados, diretores e presidentes das suas matrizes ou filiais para a cidade. Então, quando a gente perde a matriz de uma empresa, ou fecha um escritório de uma grande empresa aqui em Belo Horizonte, nós estamos perdendo o fluxo de turismo de negócios. É importante trabalhar para a captação de empresa para Belo Horizonte. Belo Horizonte, Rio, São Paulo, são capitais que têm um ISS muito caro. Então Belo Horizonte perdeu muitas empresas para Nova Lima. É uma diferença de 23 % somente no imposto. Então, você pensa em todas as empresas de tecnologia, escritórios de advocacia, empresa de franquia, de prestação de serviço, que saíram de Belo Horizonte e foram para Nova Lima por causa de imposto. Por isso aquele tanto de hotel que abriram em Nova Lima, mesmo o aeroporto sendo do outro lado do mundo, em Confins. Então, perdeu-se um pouco, sim, do turismo de negócios pela ausência de captação de novas empresas. Ficaram muito poucas empresas em Belo Horizonte.

Em compensação entrou o turismo de eventos e eventos de entretenimento. Os grandes shows não vinham para cá. Hoje nós já estamos aí participando dos roteiros dos artistas. Eu posso dizer que a cada 10 artistas que têm vindo para a América Latina e Brasil, dois têm passado por Belo Horizonte. Tem um caminho longo aí para Belo Horizonte para poder captar. É preciso mostrar que Belo Horizonte é uma cidade que é boa para se viver, boa para fazer negócios. Se ela é boa para fazer negócio, é boa para instalar sua empresa aqui. Hoje, Belo Horizonte, é considerada a cidade mais segura do que Rio e São Paulo. Nós não podemos perder essa captação de empresas. Nós não vemos, há muitos anos, nenhuma propaganda de Belo Horizonte fora de Belo Horizonte por nenhum prefeito. Eles não têm interesse porque o voto está aqui. Então, eles só vão ficar fazendo campanha, gastando dinheiro público em Belo Horizonte e você não traz visibilidade para a cidade.

Por isso essa estratégia nova do Ouro Minas é uma estratégia visionária, porque o prédio oferece espaço para essa conversão para resort. Está sendo possível essa inovação e transformação para mais um nicho de mercado, que é o turismo de família e de lazer.

Aproveitando que a eleição está batendo na porta. Qual o recado para os candidatos a prefeito?

O problema do poder público em geral, com relação ao turismo e talvez a outras áreas, é que cada um que assume não dá continuidade à política do seu antecessor. Mais especificamente à atividade turística. O poder público não tem hotel, não tem agência de viagem, não tem companhia aérea. Ele só quer arrecadar. Ele não oferece nada na cadeia turística, a não ser a segurança pública. O recado para os candidatos é que eles ainda não saíram da pandemia. Um município que não tem transporte público noturno, é um município que está morto, porque todas as cidades funcionam 24 horas e em Belo Horizonte o transporte público para as 10h da noite. Para se fazer turismo, a cidade tem que ser 24 horas. Quanto mais ela funciona, mais ela gera renda e riqueza, emprego de qualidade. E outra coisa é a cultural. O mineiro quer morar na terceira capital de um país e quer que ela seja silenciosa. Capital, não é silenciosa. Capitais não têm silêncio, não têm silêncio meia-noite, não têm silêncio uma hora da manhã. Quem quiser morar na terceira capital do Brasil, tem que conviver com bares e restaurantes abertos, shows, festas noturnas e casas noturnas. Nós não temos. Tem a lei do silêncio, que obriga os bares a fechar 10 horas da noite. Isso não existe em nenhum lugar do mundo. O que foi bem feito, acho que foi até no governo petista de Pimentel, foi a utilização de calçadas a partir de tal hora, porque é cultural de Belo Horizonte, os bares nas calçadas. Essa é a nossa praia.

Podemos melhorar na questão da beleza da cidade. São muitos anos sem investir no paisagismo da cidade, nas calçadas. A cidade está muito feia. Muito. A entrada da cidade é feia. É um impacto na hora que você sai do aeroporto, que é o aeroporto mais bonito do Brasil, com o melhor serviço do Brasil, e você cai numa zona, que você não sabe onde está. Essa falta de boas-vindas. Mas eu acho que a iniciativa privada está indo bem, a cadeia do turismo está bem, tem muito restaurante bom, muito bar bom, muito hotel bom, a oferta está boa, muitos roteiros renovados. É cultura, artesanato e gastronomia. Está tudo ótimo. Só falta transporte.

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