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FIEMG prepara pauta para levar a candidatos

Os últimos dias tem sido uma prova de fogo para o novo presidente da Fiemg, Flávio Roscoe. Ele assumiu a presidência de uma das mais poderosas Federações das Indústrias do país em meio a uma das mais graves crise do país. O movimento dos caminhoneiros paralisou as atividades das indústrias, causou desabastecimento e o caos generalizado. Atuar em meio a essa turbulência não é tarefa para qualquer um, garantindo o fôlego para o setor produtivo, cobrando medidas mais efetivas para a retomada da produção foram ações que Roscoe (foto) negociou com o Governo do Estado. Para o final do mês ele prepara, com centena de líderes empresariais, uma pauta da indústria para levar aos candidatos das eleições ao governo de Minas e à presidência da República. Ponderado, Roscoe diz que toda esta crise é oportunidade de aprendizado.

 

O pior já passou em relação ao bloqueio das estradas?

Para a sociedade talvez sim, uma parte dela, mas para a indústria não. As vias de abastecimento não foram resolvidas. Eu acredito que nós temos que, imediatamente, desbloquear totalmente as estradas, não só em relação aos gêneros alimentícios básicos e combustíveis, como todos os insumos para que a cadeia produtiva possa produzir e não venha desempregar em breve.

 

Alguns empresários ainda sofrem com bloqueios, estão reclamando que não conseguem sair com os caminhões das fábricas. O que falta para liberar essas passagens?

Já não são caminhoneiros, são grupos que se apropriaram do movimento e contra esse grupo nós precisamos de uma ação enérgica por parte da Polícia Militar e dos órgãos de inteligência, para que se libere as estradas e a sociedade não fique à mercê dessas pessoas, que viraram sequestradores. Estão mantendo os caminhoneiros presos contra a vontade deles. Eles estão sob ameaça. Nós temos vários relatos de ameaças armadas. Isso é um bando de criminosos, que tem que ser colocado em seu devido lugar. Eles estão ameaçando toda a sociedade, a realidade é esta.

 

O governo demora a agir nesses casos?

Todos os governos, não só o de Minas Gerais, ficaram temerosos porque o movimento teve, inicialmente, o apoio da população, pois todos nós estamos muito abalados com a situação que o Brasil está vivendo. A população teve uma empatia inicial muito grande com o movimento. Mas com o passar do tempo e com essa ação indevida do movimento por outros grupos, eu acho que esse apoio vem se revertendo e a população está vendo que isto que está acontecendo não é bom para ela. Talvez isso, agora, dê ao governo maior liberdade de agir, porque eles estavam temerosos de agir e serem acusados de estarem tolhendo a liberdade, quando na realidade, aconteceu o contrário. No estado de direito, as pessoas têm que ter liberdade de ir e vir. Aqueles caminhoneiros que não querem mais andar de caminhão, que tenham o seu direito de não andar, que fiquem no acostamento. Grupos armados com outros interesses, manterem cativos milhares de caminhoneiros nas estradas, isso é um absurdo. Para mim é terrorismo. É um sequestro, em grande escala e isso é caso de polícia, caso de Exército, da Polícia Federal. É o caso de todos os aparatos do Estado agirem.

 

O senhor esteve com o governador Fernando Pimentel. Qual o cenário apresentado a ele?

Eu tracei o cenário de caos, que é o cenário que a indústria está vivendo. A indústria está há dias totalmente paralisada, sem poder faturar, com seus compromissos vencendo. Ou seja, os industriais estão vendo a folha de pagamento chegando e eles não sabem como vão arcar com os compromissos com os funcionários. Eles estão tendo que pagar uma série de compromissos assumidos anteriormente, sem ter receita. Para piorar, uma parte significativa dos bancos fechou o credito. Nós estamos vivendo um cenário de caos, que, se não for revertido imediatamente, nós vamos comprometer os empregos dos mineiros e a arrecadação do estado, porque vamos priorizar o pagamento dos funcionários, antes de qualquer conta, depois o pagamento dos fornecedores e por último o imposto, porque, se a empresa não pagar o fornecedor não tem como produzir. Pagar funcionário é até uma questão de humanidade. Nós teremos uma situação muito difícil ao longo dos próximos dias. Várias cadeias produtivas foram esfaceladas e isto terá que ser recomposto. Temo que algumas empresas não consigam retornar desta crise.

 

O que ficou mais visível para a população foram os problemas nas empresas ligadas a cadeia alimentar. A situação nos outros setores também é grave?

A cadeia alimentar, com o ser vivo precisando ser alimentado para viver, foi mais crítico, porque se estava correndo o risco de exterminar o plantel inteiro, sem uma ação rápida. Mas vários segmentos industriais têm uma complexidade muito grande e parar o processo produtivo é muito sério. Se uma siderúrgica abafa um forno, a empresa demora até 40 dias para retornar. Não se trata de uma semana parada, mas de uma semana mais 40 dias. Os impactos são muito maiores do que os calculados diariamente. Sem contar as empresas que já estavam vindo de um mau momento da crise e que esse último episódio pode ter sido a gota d’água nas finanças. Nós estamos passando por um momento de três anos consecutivos de crise. No final disso, a empresa vai ficar uma semana, oito dias sem faturar e arcando com todos os seus compromissos. É muito difícil!

 

A recuperação da economia já estava muito lenta. Essa crise pode jogar todo esforço até agora por terra?

Com certeza essa greve terá um impacto significativo no crescimento do país nesse ano, porque não são apenas os dias parados, são as consequências que virão nas carreiras produtivas ao longo dos próximos meses. Acredito que nós subestimamos o poder de destruição desta greve e acredito que o Brasil tem que sair dela com um aprendizado, com a lição aprendida, porque custou muito caro para nós não aprendermos. De maneira geral a população se iludiu em um primeiro momento, porque estava se sentindo representada pelos caminhoneiros, mas a medida em que o movimento se alongou e possibilitou a apropriação do movimento por esses grupos, aí sim, isto se tornou extremamente danoso. Acredito que os caminhoneiros queriam voltar desde domingo e o movimento continuou. Pelos relatos que tenho recebido, em todo o estado, está totalmente regularizado. Mas a maior parte das cargas está bloqueada nas barreiras ainda. O governador foi sensível a alguns de nossos pleitos. Ele por exemplo, prorrogou o prazo de validade das notas fiscais, que foram emitidas nesse período, elas iriam vencer e as empresas seriam autuadas. Um absurdo maior do que este não existe. O governador foi sensível e publicou um decreto prorrogando o prazo de validade dessas notas fiscais que ficaram dias nas estradas. Ele também se comprometeu conosco de prorrogar os prazos de pagamento dos impostos estaduais enquanto perdurar a crise e não protestar, neste mês, aquelas empresas que venham a atrasar suas obrigações para com o Estado. Ele também se comprometeu a fazer uma ação e, de fato, a polícia parou só de observar e começou a agir em alguns casos para desmobilizar os bloqueios. A nossa preocupação é a de que isso se dê de maneira mais incisiva.

 

Faltou ação da polícia?

Como agora são grupos menores, devemos ter uma ação mais enérgica, porque em breve vai faltar comida. Se faltar comida é o caos.

 

O senhor assume a presidência da Fiemg em um momento como este. Está sendo um aprendizado?

Com certeza. Acho que todas as dificuldades você tem maneiras de encará-las, uma delas é como uma lição é aprendida. Esse aprendizado custou muito caro para a população e ela tem que aprender com isto e os nossos governos também. Está na hora de mudanças. Qual foi o recado que a população mandou para o governo, para os nossos dirigentes? Nós não aguentamos mais o peso do Estado. Não adianta falar que tem que reduzir impostos se o Estado continua do tamanho em que ele está, isso não resolve. Nós temos que reduzir o tamanho do Estado. Nós temos que discutir questões como o fim da estabilidade do emprego público, porque esta é a causa de vários dos nossos males. O poder público não tem produtividade e com a estabilidade é impossível ter produtividade, porque as pessoas não têm esse tipo de compromisso. Ela tem compromisso com o prazo para a aposentadoria. Depois que ela entra e adquire estabilidade, o compromisso dela não é com a sociedade, é com o dia em que ela vai aposentar. É claro que tem servidores públicos que são exemplares, diligentes e atuam de maneira séria. Mas é da natureza do ser humano. O ser humano se acomoda muito fácil. Não é culpa do servidor público, mas é algo que tem que mudar. Hoje não existe estabilidade em nada na vida. Por que uma pessoa tem que entrar em um emprego e tem que ter a garantia de que vai aposentar naquele emprego. O mundo está mudando tudo em dois, três anos. O Estado também tem que estar preparado para as mudanças e o primeiro ponto é o fim da estabilidade do servidor público, para que possamos ter produtividade, porque, tendo produtividade, nós podemos gastar menos. Nós já gastamos muito percentualmente do PIB em educação, em saúde, só que o serviço que a sociedade recebe é muito ruim.

 

A Fiemg vai apresentar uma pauta defendida pelos empresários para os candidatos à presidência da República e ao governo de Minas? O que o senhor acha que deve mudar já?

Sim e esse é um dos pontos. Nós vamos discutir isso no nosso encontro no final de junho com todos os presidentes dos sindicatos do estado de Minas Gerais, nos dias 28, 29, e 30. A questão ambiental tem que ser discutida. Em nome do meio ambiente têm sido cometidos crimes ambientais todos os dias no Brasil. Isso tem que ser discutido. Toda vez que uma termoelétrica é construída no lugar de uma hidrelétrica, para mim, isto é um crime ambiental e a termoelétrica está sendo construída porque as hidrelétricas não conseguem licença e a outra consegue. São situações que, infelizmente, alguns grupos conseguiram captar o imaginário em relação a alguns temas e impuseram eles mesmos as regras e a sociedade não sabe o preço que ela paga. O preço que ela paga é altíssimo. Nós não temos grandes empresas de grande porte vindo para Minas Gerais há muito tempo. Isso porque esse é um dos estados mais burocráticos para se fazer uma instalação ambiental. Não se pode esperar cinco anos para ter uma outorga da água aqui. Quem pode esperar cinco anos? Se ele quiser água ele vai para outro lugar, não vem para cá. O governo do estado vem fazendo um trabalho nesse sentido. Houve uma evolução, mas nós temos muito o que evoluir e temos que discutir isso com a sociedade. A sociedade precisa saber o que ela ganha e o que ela perde. Às vezes ela está mal informada a respeito do que está acontecendo. Nós pretendemos levar esses pontos para discussão. Pontos sensíveis que pouca gente quer dar a cara a tapa para debater, mas a Federação das Indústrias vai mostrar a sua cara.

 

Com o movimento dos caminhoneiros, quanto tempo as indústrias vão demorar para voltar à normalidade?

Esta não é uma resposta exata. Cada setor reage de maneira diferente. Alguns reagem mais rápido, em três dias e outros algumas semanas e outros em meses. Cada setor reage de um jeito. Nós tivemos um prejuízo de mais de R$2 bilhões, fora os impactos futuros dessas cadeias que vão demorar a normalizar no estado.

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