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Fuad Noman: O prefeito que se descobriu escritor

Em meio a disputa pela presidência da Câmara Municipal, o prefeito Fuad Noman (foto), prefere não se envolver nessa briga, mas deixa claro que é bem melhor quando se tem alguém da base no comando. Ele entende que cada Poder tem o seu papel e todos devem trabalhar juntos pela cidade. Belo Horizonte, que completa 125 anos, tem muitos problemas e muitas carências e, apesar de todas as dificuldades, Fuad Noman, arranja tempo para desenvolver a sua nova paixão: a literatura. Mas agora, o seu foco é fazer uma boa administração.

O Executivo está perdendo espaço para o Legislativo? Os prefeitos estão perdendo poder e estão ficando amarrados em relação ao Legislativo?

Quem está falando isso não entende democracia. A democracia estabelece os três poderes, que são três poderes independentes, são três poderes autônomos e que trabalham conjuntamente em prol da cidade. Falar que o prefeito tem poder sobre a Câmara é um erro democrático. Falar que a Câmara tem poder sua prefeitura é outro erro. O que precisa é de ter uma convivência harmônica em prol da cidade e é isso que acontece em Belo Horizonte. Nós temos hoje uma Câmara muito atuante, mas com diálogo permanente, trabalhando juntos. Eles apresentam projetos, nós melhoramos, nós apresentamos o projeto e eles melhoram. Isso é o normal. Um país republicano exige ações republicanas do Legislativo e do Executivo. A Câmara tem sua função, que é importante e a prefeitura tem sua função importante e, trabalhando juntos, nós temos um conjunto de servidores trabalhando em prol da cidade. Não há disputa de poder. O poder do executivo está claro e definido. O poder da Câmara está claro e definido. É só trabalhar harmonicamente.

Os vereadores tiveram muito problema de diálogo na administração Kalil. Com o senhor essa relação mudou?

Não posso dizer da gestão passada, porque foi um momento muito difícil para todo mundo. Nós estávamos vivendo uma pandemia, nós tínhamos coisas para fazer, então houve ali um atrito sim com a Câmara e quando assumi, nós estávamos entrando num outro ciclo, de um outro governo e, ao assumir, procurei a Câmara, a Câmara também me procurou. Fizemos um trabalho harmônico, um trabalho conjunto resolvendo os problemas da cidade e acho que isso foi muito bem-sucedido. Quando inicia-se agora a disputa pela presidência da Câmara, tem lá os lados disputado, mas de forma harmônica, de forma conversada, sem nenhum tipo de busca de poder, de supremacia em relação a outro Poder.

O senhor tem alguma preferência para a presidência?

Há 40 vereadores e 35 podem ser candidatos possíveis. Tem alguns que são da base da prefeitura e que eu gostaria que pudesse ser um deles. Eu não tenho um nome, eu tenho um conjunto de nomes, mas são os próprios vereadores que vão escolher. Espero que eles escolham alguém da minha base, porque vai ficar mais fácil para mim do que se escolher quem não é da base, quem é da oposição, porque eu posso ter uma Câmara um pouco mais hostil e eu não gostaria. Mas a Câmara tem que ser livre, o presidente tem que ser republicano, o presidente tem que ser presidente da Câmara, não representante do governo na Câmara. Democracia é isso, não se pode querer mandar nada. Temos que discutir e debater tudo.

 Como é o prefeito escritor. Como é que é sair da área técnica para essa veia poética?

Tem gente que gosta de pescar, tem gente que gosta de andar de bicicleta, tem gente que gosta de escalar montanha. Cada um gosta de uma coisa. Eu sempre gostei de contar a história e resolvi colocar essa história no papel. Fiz o primeiro livro em 2017, chamado “O amargo e o doce”. Tive um retorno muito interessante das pessoas que leram e gostaram muito, me incentivaram a escrever o segundo. Eu escrevi “O Cobiça” que era para lançar em março de 2020, mas foi quando a cidade fechou e ele não foi lançado. O livro não teve um lançamento formal, mas era vendido pela internet. E agora lançamos o “Marcas do passado”, que teve o lançamento “legal”, com muita gente. Fiquei com uma vergonha danada, porque teve gente que ficou três horas na fila esperando para ter o autógrafo. Mas não tinha jeito. Foi muito bom. Às vezes chego cansado à noite, com a cabeça cheia de problema, a mulher fala que vai fazer o jantar e peço para esperar um pouco. Vou para o computador começo a escrever, a inventar história e vou afastando os problemas. Às vezes acordo de madrugada perco o sono, vou lá e escrevo mais duas ou três páginas ou capítulos, e vou escrevendo, sem pressa. Não tem um compromisso contratual de ninguém para fazer. É só diletantismo, uma forma de expressar um pouco.

O que é melhor ser prefeito ou ser escritor?

Costumo falar que eu não sou escritor. Eu sou escrevedor, porque escritor é um título muito importante para a gente poder assumir assim. A minha vida profissional sempre foi de trabalhar no setor público. Poucas vezes eu estive na iniciativa privada e isso me dá muito para ver e trabalhar. Tanto é que eu já tenho 75 anos e já podia estar cuidando dos netos há muito tempo, mas resolvi entrar na briga de novo. Faço isso com muito prazer, com muita alegria, porque eu acho que eu tenho muito a contribuir. Tenho uma experiência muito grande do setor público. Já trabalhei no governo federal, fiz reforma no governo federal, participei no grupo, já fui do Banco do Brasil, do Banco Central, do Ministério da Fazenda, do Estado, na Fazenda, na Secretaria de Obras, na Copa do Mundo. Rodei tudo e agora estou a prefeitura de Belo Horizonte. É uma experiência acumulada muito grande e quando Kalil assumiu e me pediu para ajudá-lo na transição, ele me chamou exatamente pela minha experiência. Ajudei, ele acabou convidando para ficar eu já estava querendo aposentar, mas fiquei. Em 2002 eu comprei uma fazenda aqui no interior de Minas, na terra da minha mulher e falei com ela que ia encerrar o meu trabalho na Brasilprev e depois iria cuidar da fazenda. Só que eu acabei vindo para a Fazenda do estado. Ela virou para mim e disse “mas não é essa fazenda que você falou que ia cuidar não”. Mas é isso. Tenho prazer no trabalho. Tenho prazer na escrita. Não sei qual é melhor do que o outro. No dia que o personagem me encher a paciência eu “mato ele”, fica mais fácil. A vantagem do escritor é essa. Ele comanda a vida do personagem e pode fazer o que quiser. (Foto/Tião Mourão)

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