Os últimos acontecimentos que estremeceram o país não devem interferir na economia brasileira que, para o ex-ministro e ex-presidente do BNDES, Luiz Carlos Mendonça de Barros (foto), está em uma recuperação cíclica. Para ele, os números vão melhorar mais e por isso, a importância das reformas, como a da Previdência para permitir a melhora nos índices da economia. Não será surpresa, segundo Mendonça de Barros, se o presidente Michel Temer chegar ao final do seu governo com 50% de aprovação entre ótimo, bom e regular. Para ele, mesmo se houver uma nova denúncia do Procurador-Geral da República contra o presidente, ela não terá credibilidade, porque “quem vai acreditar em um crápula como o Joesley?”
Nessa bagunça que se transformou o Brasil, com as gravações do empresário Joesley Batista, as malas de dinheiro de Geddel Vieira Lima, que impactos essas situações podem ter na economia?
Na economia de curto prazo nada. Isso porque a economia está em uma recuperação cíclica, natural depois da crise que nós vivemos e, como a gestão da economia está muito correta, essa recuperação vai continuar e vai se acelerar até o ano que vem. É uma recuperação cíclica, ela não é estável e com prazo mais longo, e isso vai depender da eleição do ano que vem. Se for eleito um presidente que mantenha a política econômica correta, aí, lentamente voltam os investimentos e nós vamos engatar em um ciclo com um prazo mais longo.
O ministro Henrique Meirelles está otimista e fala em entrar 2018 com um ritmo de crescimento de 3%. O senhor acredita nessa previsão?
É a minha leitura há bastante tempo. Tenho escrito, no ano passado ainda, dizendo dessa recuperação cíclica de qualquer maneira. Os números do Meirelles são os mesmos números, na virada do ano 3% e no ano que vem 3,5, podendo chegar até 4%.
Em termos reais isso significa a volta de investimentos e empregos?
O emprego volta lentamente, mas o que é mais importante no Brasil não é a pessoa que está desempregada. É o que está empregado e que ficou com medo do desemprego e pisou no freio. Á medida que o desemprego voltou a cair, a geração de emprego voltou a ser positiva, o sujeito volta a consumir. Esse número no Brasil é de 90 milhões de pessoas que estão empregadas contra 12 milhões que estão desempregados. A recuperação cíclica vem do maior conforto desse grupo de começar a gastar o que está ganhando. Com a inflação muito baixa, o salário dele começa a crescer também. Isso está no livro de qualquer manual de macroeconomia, quando tem um ciclo desse tipo. Independe da política. É um ciclo de curto prazo, onde se recupera um, dois, três ou quatro anos do que se perdeu, e daí para frente depende de mudanças estruturais e por isso essa recuperação cíclica vai até o ano que vem e a partir daí depende do resultado da eleição.
Fala-se muito da importância da reforma da Previdência, o senhor acredita que o presidente Michel Temer tem condições de votar essa matéria?
Essa é uma reforma que precisa ser feita, não necessariamente agora, mas tem que ser feita no próximo mandato. Como é um assunto desgastante, o ideal é que o presidente Temer fizesse isso, mesmo não sendo a ideal, mas que desse um passo mostrando para a sociedade que sem reforma da Previdência o nosso futuro é muito complicado.
Depois desses últimos episódios da Lava Jato o presidente Temer ganhou fôlego e força no Congresso Nacional para aprovar essa reforma?
É só observar a manifestação dos deputados. Até o presidente da Comissão de Constituição e Justiça, Rodrigo Pacheco, que é aí de Minas, ele já disse que mudou o humor do Congresso. O procurador-geral da República, Rodrigo Janot se complicou de forma incrível por causa da JBS e ainda tem um outro fator, na medida em que a economia for melhorando neste ano e no ano que vem, o apoio ao Temer vai crescer bastante e vai chegar na época das eleições do ano que vem entre ótimo, bom e regular a 50%.
Será? Com esse índice de rejeição, o presidente Temer é o mais impopular de todos os presidentes do Brasil.
Eu estou falando o que penso. Esta é a maior recessão que o Brasil já teve e o povo olha para o presidente e acha que a culpa é dele. Não tem nada demais ele ter 3, 5 ou 10% de apoio. A medida que a economia voltar a crescer, eles vão seguir pelo bolso. Não tem outra razão. Por isso é importante a continuidade dessa recuperação, que está acelerando. Nós vamos ter os juros mais baixos da história do Brasil, a inflação mais baixa da história do Brasil.
O senhor acha que os juros fecham abaixo de 7% como tem sido dito?
Tanto faz 7 ou 6,5%. O importante é que são números bastante baixos e que vão fazer com que o consumo volte. Nós temos hoje um saldo comercial que nós nunca tivemos na história, com o dólar está indo para R$3 de novo. O dólar sobe um pouco e depois cai mais. Agora é ter paciência. Todo mês vai melhorando e a população vai começando a olhar para o governo Temer com outros olhos.
O ex-ministro Antonio Palocci começou a fazer as declarações ao juiz Sergio Moro. O senhor acredita que as denúncias chegam ao BNDES?
Não. Eu conheço o BNDES, o que claramente teve foi um arranjo por cima e a diretoria do BNDES seguia a escola de pensamento da Unicamp, que acredita em tudo o que eles fizeram, que é expandir o crédito. Nada foi forçado, só que eles estavam errados. Mas não vejo corrupção dentro do BNDES. Conheço bem a casa e não vejo nenhuma razão para acreditar nisso. Eles fizeram acreditando que estavam fazendo o correto. Certamente há acertos e o Palocci vai mostrar isso, fora do BNDES.
Permanece o suspense do Janot em relação a nova denúncia contra o presidente Michel Temer. Essa denúncia fica enfraquecida diante desses novos fatos?
Quem vai acreditar em qualquer coisa que o Joesley Batista falar? Acabou. Ele mostrou que enganou todo mundo. Como vão acreditar na delação de um crápula como ele? A Justiça não vai considerar válido mais nada do acerto que foi feito com ele.
E em relação ao Rodrigo Janot, nesse final de mandato dele na Procuradoria-Geral da República?
Muito ruim. Ele, no atropelo de fazer uma série de coisas antes de sair, ele foi enganado pelo pessoal da JBS. Isso desmoraliza. Vai sair uma pessoa correta, eficiente, mas que se entusiasmou tanto com o objetivo que era derrubar o presidente da República que se aliou a bandidos e está pagando o preço dessa aliança.