O PSDB perdeu espaço político nas últimas eleições e trabalha para recuperar algumas pautas importantes e se posicionar para o eleitorado brasileiro. O presidente nacional do partido, Marconi Perillo (foto/reprodução internet), critica o excesso de partidos e a responsabilidade que o Supremo Tribunal Federal tem no quadro em que o país se encontra atualmente. A reforma política é necessária e ele acredita que existam parlamentares interessados em realizar essas mudanças.
Hoje o Executivo federal e dos estados estão engessados. O que é preciso mudar para que se possa governar sem tanta interferência?
Eu acho que a mãe de todas as reformas é a política. Enquanto nós não tivermos uma reforma política, que pode ser discutida com muitas cabeças, incluindo o TSE, o Congresso e outros atores, como a imprensa, nós não vamos conseguir ter um país mais justo e um equilíbrio verdadeiro de forças, de instituições e de Poderes. Infelizmente, tínhamos aprovado há 30 anos, a chamada cláusula de barreira, cláusula de desempenho. Dez anos depois de aprovada, ela foi derrubada pelo Supremo Tribunal Federal, que, na minha opinião, cometeu um grande equívoco. Nós poderíamos ter hoje no país, seis partidos. Temos 30 partidos ou mais. A cada dia nasce um partido novo. Isso confunde tudo. Ninguém tem compromisso com fidelidade partidária, com fidelidade programática, e esse é o grande problema. Essa é a grande raiz dos problemas brasileiros, especialmente aqueles relacionados à corrupção. Porque a corrupção começa já na própria matriz partidária. Tem partido demais e muitas vezes alguns partidos atraem parlamentares ou atraem lideranças visando manterem-se como partidos e aí acabam sucumbindo a todo e qualquer tipo de atitudes não republicanas para se manterem. Continua reféns disso tudo. Hoje a gente vive um semipresidencialismo. Alguns chamam de presidencialismo de coalizão ou semipresidencialismo. Defendi sempre o que está no programa do partido, que é o parlamentarismo. A Constituição é parlamentarista e o regime presidencialista e hoje todo mundo percebe que o executivo federal está literalmente refém do Poder Legislativo.
Esse Congresso que está aí tem vontade de mudar essa situação? Hoje o Congresso tem muito poder sobre Estados e o Governo federal?
Eu acho que a maioria não quer mudança alguma, porque ela interferia em seus projetos pessoais. Mas eu sei que tem uma parte considerável que gostaria de mudanças profundas, especialmente na legislação eleitoral brasileira. Eu sou um daqueles que defende uma mudança forte. Infelizmente, quando se tomou a decisão de vetar ou de matar a cláusula de barreira, pensou-se em um ou dois partidos pequenos, nanicos e isso foi prejudicial, porque aí houve uma proliferação de partidos sem nenhuma nitidez ideológica, sem nenhum tipo de compromisso com o país, com a nação. Agora, eu acho que uma atitude como essa requer o envolvimento não só da política partidária, mas a política institucional também, do formador de opinião, profissionais liberais, OAB, imprensa, entidades representativas da sociedade civil, a Justiça Eleitoral, o Congresso. Eu acho que precisaria envolver todo mundo. Tem que haver uma provocação forte para que haja uma reforma e uma reforma definitiva. A cada dois anos a gente tem uma mudança na legislação eleitoral para atender interesses particulares, que não são interesses do país, que não são interesses da sociedade brasileira.
Estamos assistindo Estados, até para se protegerem, formando consórcios, como o do Sul e Sudeste, como o do Norte e Nordeste. Essa é uma tendência, o país se dividir em blocos?
Eu não diria dividir. A primeira ideia de consórcio foi nossa, lá na região do Brasil Central. Nós lideramos a criação do primeiro consórcio brasileiro, que foi o consórcio Brasil Central, com sete estados, não só do Centro-Oeste, mas também estados do Norte do Nordeste e começamos esse trabalho mais com o objetivo de discutir políticas públicas comuns. Tínhamos reuniões mensais e, em cada uma delas, debatíamos, aprofundávamos em temas como educação, saúde, segurança. Tínhamos um fórum de secretários de Segurança. Nós estabelecemos um programa para aquisição de medicamentos em conjunto com os sete estados para baratear o preço dos medicamentos, sobretudo medicamentos de alto custo. Debatíamos temas como meio ambiente, enfim, era um consórcio que também era capitalizado anualmente pelos governos. Eu deixei a presidência do consórcio quando sai do governo de Goiás, com mais de R$ 30 milhões em caixa para investir em pesquisas, para investir em consultorias, para investir na melhoria da qualidade da gestão. Então eu acho que não há separatismo. Eu acho que a formação desses consórcios tem como objetivo dar vigor às políticas públicas, a troca de ideias permanente e experiências entre governantes de uma mesma região ou, no caso do Brasil Central, de três regiões importantes e que estavam e estão em processo de desenvolvimento.
Enquanto o país estiver nessa estrutura de Poder, a tendência é a do Judiciário continuar determinando o que deve e o que não deve ser feito?
Essa judicialização da política, existe desde, pelo menos, nos últimos 30, 40 anos. Existia há 30 anos, quando eu era deputado, já havia esse tipo de judicialização exatamente para suprir algumas lacunas. O Congresso fica muito forte, mas deixa lacunas e o Judiciário vai tentando suprir essas lacunas. Eu acho que a gente tinha que ter uma preocupação forte em garantir a Independência total de cada um dos Poderes para cada um dos Poderes possa exercer a sua função precípua, constitucional.