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Mario Campos: a indústria brasileira se reinventando e modernizando

Passado o Carnaval, o Congresso Nacional se volta para a discussão de temas que interessam ao setor produtivo, que aguarda a regulamentação de pontos da reforma tributária e de projetos para impulsionar a indústria nacional. O presidente da Siamig, Sindicato da Indústria do Açúcar no Estado de Minas Gerais, Mario Campos (foto/reprodução internet), está atendo às questões que envolvem esse que é um dos setores que mais avançam e se modernizam no país.

O etanol está caro, gasolina está cara, qual é a tendência daqui para frente?

Nós tivemos recomposição de tributos e a recomposição de preços. Mas se fizermos um paralelo com os últimos três anos, esse preço que está aí é um preço muito mais barato do que vimos nos anos de 2021 e 22, né. Nós temos um preço mais acessível. As variações durante o ano são comuns. Nós tivemos agora, em fevereiro, essa alteração por causa da mudança da alíquota do imposto da gasolina em todo o Brasil, que passa a ser um valor único. Todos os estados cobram o mesmo valor. O produtor de etanol estava vivendo com uma margem praticamente negativa, em função dos preços que estavam sendo praticados. Não se pode dizer que os preços estão altos, estão mais baixos nos últimos anos. Agora, as variações são comuns e nesse mês de fevereiro, talvez o que a gente mais se lembra é dessa última variação nos preços. 

Como está o diálogo com o Governo Federal?

Temos um diálogo grande com o governo. Nós temos diversas situações. A primeira delas é desse mercado de combustíveis. Nós temos agora uma discussão sobre a regulamentação da reforma tributária. A reforma trouxe algumas questões relacionadas a tributos. Essa questão não entra agora, mas é uma coisa que vai para o futuro e nós temos algumas situações que podem modificar as estruturas daqui para frente, em função das metas de CO2, descarbonização. O governo trabalha com o aumento do uso do biocombustível na matriz de transporte, como alternativa. Existe uma proposta hoje, tramitando no Congresso Nacional e, também, dentro do Executivo, na parte técnica, que é a questão do aumento da mistura de 30% de anidro na gasolina. Da mesma forma, há uma discussão sobre o aumento da mistura do biodiesel no diesel, e há uma possibilidade muito grande de se discutir métricas para biometano. Nós temos aí uma tendência de aumento e uso dos biocombustíveis. Hoje está muito em voga a transição energética justa e igualitária. O que significa isso? Significa que precisamos fazer uma transição energética, analisando não só a questão das emissões, que são extremamente importantes, mas também as questões das cadeias produtivas, do emprego, da geração de renda, da utilização de vocações locais. Não é ser contra ou a favor determinada tecnologia, mas sim, usar aquilo que o país tem de melhor. Então, o Brasil especializou- em produzir biocombustíveis e em produzir veículos que possam utilizá-los. Quando vamos, por exemplo, para a cadeia de baterias, o Brasil hoje, pode até ter materiais para fornecer para essa cadeia, mas não temos condição de produzir baterias. Então isso dificulta todo esse processo. Por isso temos essa discussão da transição energética justa e igualitária, no sentido de entendermos os efeitos como um todo, não só na parte ambiental, mas também na parte econômica, na geração de renda. 

Houve um processo de enfraquecimento da indústria nacional. O país está pagando o preço agora?

Essa situação ensejou a apresentação de um plano de industrialização pelo vice-presidente Geraldo Alckmin.

Mas esse plano é o suficiente para alavancar a indústria?

Eu acredito muito na junção de políticas públicas e da retirada de amarras para o setor produtivo. Política pública são políticas que se direcionam, no sentido de apoio por parte do governo à uma determinada situação. Então, não adianta, por exemplo, eu virar e falar assim, “vamos produzir veículo e usar biocombustível”, se a política pública direciona toda a produção e a utilização de uma frota para veículo elétrico. Que empresário iria investir na produção de biocombustível a partir desse momento? Acredito muito na dupla: na política pública direcionadora, juntamente com a retirada de amarras para que o empreendedor possa fazer os seus investimentos da melhor maneira possível. Nós temos hoje um novo regime automotivo, uma medida provisória que chama Mover, que trata do novo regime automotivo. Nós temos um projeto de lei onde está a questão do aumento da mistura do anidro na gasolina, que chama combustível do futuro e que trata não só de mistura de biocombustíveis, mas que trata de combustível de aviação sustentável, que é uma tendência mundial, trata do diesel verde, trata do biometano, trata do CCE, que é captura de carbono. Ou seja, é um projeto amplo para discutir qual combustível o Brasil vai utilizar no futuro. Temos o Renova Bio há mais tempo e que a cada ano se consolida. São estruturas de políticas públicas que dão, cada vez, mais sustentação para a produção crescer. Há 5 anos praticamente não se produzia etanol a partir do milho no Brasil. Hoje 20% de todo etanol produzido no Brasil é a partir do milho. Isso possibilitou que o Brasil, que tinha dificuldade de escoar sua produção de segunda safra do milho, passasse a processar o produto, incentivando cada vez mais a produção de segunda safra. Então, essa é uma junção de política pública com a vocação do país para a agroindústria, juntamente com a vontade de empreender. É claro que isso depende da condição econômica do país, de uma taxa de juros acessível, de uma condição fiscal adequada. Isso tudo tem impacto.

Os carros elétricos são um problema para o biocombustível?

Não. Quando falamos de eletrificação, é quando aliamos a possibilidade de eletrificação com a disponibilidade de biocombustível no Brasil. Não é uma situação que o mundo vai adotar, porque o mundo não tem isso. Alguns países podem até ir para esse caminho, como a Índia e países do sul global, que têm vocação para a produção de biocombustíveis. Mas o Brasil já tem isso. Então, a gente alia a descarbonização que é necessária, que já fizemos, porque utilizamos muito biocombustíveis, com eficiência de motorizações elétricas. Por exemplo, nós temos o híbrido, que é uma solução onde você alia as duas coisas. E dessa forma você mantém a capacidade da indústria nacional, que vocacionou nos últimos anos a indústria automobilística, na produção de motores a combustão, trazendo aos poucos essa questão da eletrificação. O Brasil, por exemplo, não tem fábrica de baterias de lítio, que é a bateria de estrutura desses veículos. Com a fabricação das baterias, você integraria a indústria mundial, mas não perderia o que nós já temos aqui em termos de produção.

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