A saúde no Brasil está na UTI. Faltam recursos até para o atendimento básico a população. Como as prefeituras não estão recebendo regularmente os repasses para o setor, fica cada dia mais difícil manter os serviços essenciais. O resultado dessa falta de investimentos no setor está no alarmante aumento de casos de dengue no país, com o agravante de doenças como a zika e a chicungunya, causando o nascimento de milhares de crianças com microcefalia. Em Minas Gerais foram registrados 526.622 casos prováveis de dengue de janeiro a julho deste ano, com 195 óbitos confirmados no período. São quatro casos de microcefalia associados à zika, registrados no estado, que monitora atualmente 460 gestantes por meio de uma rede de proteção e cuidado. Estatisticamente, Minas Gerais é o estado com maior incidência de dengue no país. Para o presidente do Conselho de Secretarias Municipais de Saúde de Minas Gerais (Cosems-MG), José Maurício Lima Rezende (foto), a redução, pelo governo, do número de agentes que atuam no combate ao mosquito transmissor da dengue aumentou o problema. Mas para José Mauricio todo o setor de saúde sofre com o atraso no repasse de recursos.
Em se tratando de epidemia de dengue, o pior já passou?
Agora está tranquilo, pois estamos no período seco e o desafio é menor. Mas o grande problema é que precisamos começar a fazer o trabalho agora, para tirar os criadouros e evitar que, na hora que vierem as chuvas, não comece uma epidemia de novo. Neste ano nós tivemos mais 500 casos de dengue no estado e são números que nos deixam muito alarmados.
Daqui a pouco as chuvas começam novamente. Esse trabalho já devia estar acontecendo?
É justamente agora que precisamos dar continuidade ao trabalho dos agentes comunitários de endemia, visitando as casas e conscientizando a população para que ela faça a parte dela. Tentando eliminar os focos nos locais onde tem acúmulo de água, lavando direitinho para quando a chuva vier não termos tanta contaminação assim.
Esse ano a situação ficou assustadora, já que além da dengue veio a zika e a chikungunya. O governo perdeu o controle?
Ficou muito assustadora. E aconteceu justamente por isso. Quando você não faz o dever de casa, você acaba tendo o comprometimento de todo o trabalho. O problema maior foi que o Ministério da Saúde publicou uma portaria estabelecendo o piso dos agentes e diminuíram o número dos agentes nos municípios. A situação só voltou à normalidade a partir desse ano. Em julho, o governo reviu a portaria aumentando os agentes de endemia para os municípios.
Os municípios também tiveram recursos suficientes para fazer esse combate?
A partir do momento que as prefeituras não têm os agentes em número suficiente, diminui-se o número de visitas nas casas. E sabemos hoje que 80% dos focos estão dentro das residências e é justamente aí que nós precisamos fazer um trabalho contínuo e conscientizar a população para que ela faça a parte dela também.
Mas essa dificuldade para manter os agentes pode agravar a situação?
Nós temos uma situação que é a seguinte: os prefeitos, como estão no final da gestão, eles estão desfazendo as equipes de endemias. Nós tivemos um nível muito elevado de casos neste ano em Minas e se não continuarmos com um trabalho contínuo, nós podemos ter no próximo ano consequências ainda mais graves.
Vai acontecer a mudança nas prefeituras justamente no período de chuva. Os novos prefeitos já vão começar enfrentando uma crise como esta, de combate ao mosquito da dengue?
Justamente, vai estar bem no meio do período das águas. Esse é o nosso maior receio. Com essa mudança, até os novos prefeitos se inteirarem do que está acontecendo e de como agir, a situação pode se agravar ainda mais. Nós não podemos baixa a retaguarda de jeito nenhum agora. O momento é de trabalharmos juntos e começar agora. Como estamos em um período mais tranquilo, mais seco, a população começa a esquecer de tomar alguns cuidados e na hora que começarem as chuvas, não termos tempo para socorrer e combater os mosquitos, que são muito mais rápidos do que nós.
Os casos de zika e chikungunya assustaram a população?
Assustou e muito. Nós tivemos muitos casos de zika e algumas mulheres grávidas estão sendo monitoradas por causa da chikungunya. Nós estamos em um cenário muito preocupante e temos que aproveitar esse momento para agir. Se nada for feito agora, poderemos ter casos mais severos da dengue, da zika e da chicungunya, se considerarmos também que estão prevendo a possibilidade de aumento do volume das próximas chuvas.
As prefeituras não têm recebido os recursos necessários para manter o setor da saúde?
São as políticas do estado, entre elas o programa Saúde em Casa, os recursos para os hospitais, obras, para as Unidades Básicas de Saúde e as farmácias. Falta todo o recurso que o Estado está devendo dos seus programas. O montante acumulado, devido pelo Estado aos municípios para investimento em saúde, teria chegado a R$ 1,03 bilhão neste ano, dos quais R$ 360 milhões começaram a ser repassados somente em julho.
A saúde como um todo está no vermelho?
Sim está. E esta situação preocupa muito. Os atrasos na liberação dos recursos estão prejudicando a saúde como um todo, seja na atenção básica ou no atendimento hospitalar. Estamos passando por um momento muito delicado.