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Muita coisa vai mudar nas relações do homem com o trabalho

Paulo César de Oliveira
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As relações entre patrões e empregados vinham sofrendo alterações desde a reforma trabalhista. A pandemia de coronavirus, no entanto, está fazendo com que as mudanças aconteçam de uma forma mais rápida e irreversível. Muitos empresários descobriram que é possível conversar com alguém em São Paulo, em Nova York, Pequim ou qualquer lugar do mundo, sem precisar perder várias horas em aeroportos e em longos voos para, muitas vezes, participar de reuniões rápidas e, muitas vezes infrutífera. A pandemia, ao forçar o isolamento social, fez com que as empresas buscassem alternativas para continuar funcionando e foi aí que descobriram os aplicativos para realizar essas reuniões. Descobriu ainda que o funcionário trabalhando em casa rende tanto ou mais do que na empresa. Para Eliane Ramos (fogo) diretora da Arquiteturas Humanas, presidente da Associação Mineira de Recursos Humanos e presidente do Conselho de Recursos Humanos da ACMinas, esse não é um momento fácil, mas com certeza, está sendo importante para as pessoas descobrirem as suas potencialidades e a conhecer melhor a tecnologia e trabalhar com ela a seu favor.

 

A pandemia da Covid-19 pode ser um divisor de águas nas relações do trabalho?

Acredito que sim. Acho que muda muita coisa e uma delas é em relação ao universo digital. As empresas que não estão digitalizadas estão tendo necessidade de acelerar o processo de digitalização. O home office, é uma novidade onde percebemos que, em alguns setores, em alguns negócios, a produtividade tem até aumentado. Vai ter essa possibilidade de trabalho em home office. Não será generalizado, mas será implantado. As pessoas também estão vendo a importância de investir nos talentos, de ter pessoas certas nos lugares certos, as pessoas que são mais produtivas, as essenciais para o negócio.

 

Alguns empresários perceberam na quarentena, que eles perdem muito tempo em viagens e estão conseguindo se reunir usando alguns aplicativos e resolvendo os problemas sem precisar se deslocar pelo país ou no exterior. Essa também é uma tendência?

Eu acho que sim. Nós vamos ter uma preocupação muito maior com essa qualidade do tempo. Já se falava muito de otimizarmos mais o tempo. O mundo digital está aí para nos ajudar. Nós usamos o computador para realizar uma reunião e nós vemos que ela funciona. Temos uma economia do tempo, no desgaste da pessoa, economiza no custo. São vários os benefícios.

 

Depois da reforma trabalhista houve uma mudança significativa nessa relação do trabalho?

Eu acho que sim. Por mais que as pessoas estejam mais distantes fisicamente, as pessoas estão também mais próximas. As empresas atualmente estão muito preocupadas com o bem-estar das lideranças, como bem-estar das pessoas. Para o RH, essa é a hora do protagonismo, porque o setor nunca esteve tão presente, com essa preocupação com as pessoas, com a saúde mental. Essa já era uma preocupação devido as doenças psicossomáticas, como a depressão, ansiedade, doenças que estavam crescendo bastante.

 

Aumentaram também as ações por assédio moral, abusos de algumas chefias?

 Na China, por exemplo aumentaram as separações, em decorrência desses abusos. Uma das coisas que vamos aprendendo é que existe comando e controle, que as pessoas estão sendo mais protagonistas das suas carreiras, elas estão sendo mais independentes, elas vão para casa, tem que tomar decisões. O que nós esperamos é que esse comando e controle diminua, porque precisamos das coisas mais leves. Não dá para ter esse controle de tudo. A crise não é fácil, a dor é muito grande e está acelerando esse processo de adoecimento de algumas pessoas. Nós vemos que elas sofrem porque nós não temos certeza das coisas. O maior sofrimento e angústia acontece quando nós não sabemos o que vamos fazer. Ninguém tem essa resposta. Tem duas formas de realizarmos as coisas: com paixão, quando temos muita paixão pelo que fazemos e queremos fazer acontecer e pela necessidade. A crise aflora o melhor que cada um tem para fazer pela necessidade, porque não tem outra solução, porque ou você enfrenta ou enfrenta. Se a pessoa ficar paralisada nessa crise, ela não vai enfrentar e não consegue avançar. Infelizmente temos muitas pessoas nessa situação. Temos que pensar que teremos esse novo papel. Nós estamos sentindo muita falta porque somos seres humanos, somos sociais, precisamos do contato com o outro. Mas estamos vendo que podemos ter esse contato de outra forma. Esperamos grandes aprendizados. As empresas vão passar a usar muito desse conceito da inteligência social. É o autoconhecimento, é esse momento em que nós vamos para nossa casa, quando nos voltamos mais para nós mesmos e nos questionamos sobre o que estamos fazendo, qual é o nosso papel, qual o nosso propósito. Tenho dois exemplos de pessoas em cargos estratégicos que pediram demissão nesta semana, porque entenderam que não é isso que eles querem para eles. Em uma crise como esta, eles pediram demissão. Um é gerente e o outro um diretor de uma grande empresa.

 

O que motiva esse tipo de atitude é a busca de algo mais satisfatório?

É isso, eles não estavam felizes, não estavam fazendo o que eles gostavam. Eles queriam fazer essa mudança. Esses conceitos da inteligência social e a emocional estão interdependentes e para desenvolvermos as habilidades sociais, é preciso desse autoconhecimento, de conhecer o perfil do outro, trabalhando muito as diferenças. Essa cooperação, essa solidariedade entre as pessoas, é muito maior. Estamos em uma era do cuidado. Nós estamos muito com essa preocupação de um com o outro. Nós não estamos em casa só para nos protegermos, nós estamos protegendo o outro também. Não é uma coisa egoísta. Estamos pensando no outro também. Para desenvolver essas habilidades sociais, as empresas vão ficar mais preocupadas agora com a inteligência emocional. Para nós interagirmos positivamente com o outro, nós temos que ser muito fortes, ter uma autoconfiança muito grande, ser automotivado e lidarmos com as nossas próprias emoções de forma equilibrada. Porque essas pessoas vão passar por uma transição mais tranquila, talvez.

 

Quando voltarmos ao normal, o desemprego estará maior ainda. Como os profissionais devem agir para se recolocar no mercado?

 

As pessoas podem aproveitar esse momento, já que algumas têm um tempo maior, para se desenvolver. Olha quantas plataformas gratuitas estão sendo oferecidas pelas universidades, as grandes universidades às quais a maioria nunca teve acesso. É bom aproveitar para estudar uma língua, fazer um curso. Ela tem que se preparar porque essa crise vai passar e as empresas vão retomar suas atividades. Nós não estamos vivendo só uma crise de saúde. As empresas estavam começando a dar uma respirada. E temos ainda essa crise política. É complicado, porque temos que administrar isso tudo, mas é o momento para as pessoas se prepararem, até para dar uma guinada em suas carreiras, buscar um plano B, fazer o seu network, aproveitar esse momento para fazer contato com as pessoas. O network é um trabalho continuo que o profissional deve ter, porque uma hora você pode ser lembrado por uma empresa para fazer um trabalho de free lancer. A inteligência emocional é importante nesse processo. A essência da Inteligência emocional é a simpatia, a compreensão e entender a emoção do outro para que as coisas sejam mais leves.

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