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O perigo já passou?

Paulo César de Oliveira
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Após um longo período de isolamento, há um sentimento de que o pior da pandemia da Covid-19 já passou. A última mutação do vírus detectada, a Ômicron, não chegou a assustar e isso preocupa as autoridades de saúde, porque é justamente nos momentos de relaxamento, que surgem as variações. Essa é a preocupação do cardiologista Marcos Andrade (foto), que pondera que o momento ainda não é o de aglomerar. Ele também ressalta que estudos mostram o surgimento de muitos casos cardíacos em decorrência da Covid.

Tem gente falando que a pandemia está chegando ao fim. O senhor está percebendo isso, que estamos próximos do fim?

Existem várias nuances. Nos moldes em que ela está, nós não temos dúvida de que a contaminação foi muito rápida, com a Ômicron, e com isso, um número grande de pessoas contraiu a doença e isso contribui para que a velocidade de propagação diminua, porque as pessoas sensíveis são em número menor. O problema é que isso não está acontecendo na mesma velocidade no mundo inteiro. Em vários países a propagação ainda está tão intensa quanto aqui. Enquanto existir a doença, com muitas pessoas contaminadas, você continua com o risco de ter novas mutações. Quando todo mundo já foi contaminado, o vírus não tem mais ninguém para ele atingir, então ele acaba. Mas se tem gente que ainda não se contaminou, que está em um processo mais atrasado no país, o vírus, que está vivo, pode, a qualquer hora, sofrer a mutação. O número de contaminações está diminuindo, a mortalidade foi menor, porque o vírus tinha menos predileção pelo pulmão e coração e mais por via de faringe, amídala, enfim, na face. As CTIs já estão começando a ter menos ocupação de novo e isso é um bom sinal. Nós temos que ficar de olho é no que está acontecendo no resto do mundo e ao mesmo tempo não esquecermos que as complicações das pessoas que foram cometidos pelo Covid no último ano, ainda estão existindo. Nessa semana saiu um trabalho Internacional na revista Nature, que é uma revista muito importante, e muito interessante. Eles fizeram estudo de pessoas que tiveram Covid e que na fase aguda da doença não tiveram nenhum comprometimento cardíaco, e seguiram essas pessoas por um ano. A conclusão é que em até um ano é possível surgir problemas cardíacos que não tinham existido lá, quando a pessoa teve Covid. Então, na verdade, temos que acompanhar as pessoas por até um ano. Esse é um trabalho muito sério, com um estudo populacional muito grande, feito por um grupo de muito respeito. Não tem nada de fake News, é trabalho muito sério, de medicina mesmo. Pelo estudo, a pessoa que teve Covid com complicações, em uma fase aguda, tem complicação que só vão aparecer até um ano depois de ter contraído o vírus. Já tem casos relatados. O que é interessante é que não tem muita relação de como foi a Covid na pessoa. Pessoas que tiveram a forma de Covid leve ou mais acentuada, os dois grupos, indiferentemente, vieram a ter complicação cardíaca.

Que tipo de complicação?

Todas as complicações circulatórias, como miocardite, que a inflamação do músculo, trombose na coronária, trombose vascular cerebral, todas as complicações próprias da Covid. Tem um grupo que estamos vigiando bem, que é um grupo de pessoas vacinadas, um grupo pequeno, em termos percentuais, mas que tem complicações da vacina. É importante deixar claro para as pessoas entenderem, que todo mundo tem que vacinar. A complicação é muito rara de 0.0001 de pessoas que se complicam com a vacina. Mas essa é fácil explicar. Se tem mil pessoas vacinadas, 01 é um paciente. Mas se você tem um milhão de pessoas vacinadas o número absoluto passa a ser maior. Em regra geral, neste momento a expectativa é para ver se em todos os países do mundo, realmente a Ômicron conseguiu disseminar-se sem que surja uma outra mutação.

Em um país onde poucas pessoas têm acesso a um plano de saúde, como acompanhar essa evolução?

Na verdade, as estatísticas começam a ficar muito ruins, como a doença tem se apresentado de maneira muito branda, com um dia de febre isolada, com dor de garganta, então o que está acontecendo, é que muita gente não está fazendo exame mais. Se um dia amanhece febril, com dor de garganta e no dia seguinte não tem nada, os que não tem acesso aos exames, tocam a vida. Certamente, os casos estão subnotificados. A notificação que se tem é dos casos mais graves que vão para o hospital e os casos que vão para o CTI. O número de pessoas acometidas está subestimado.

Muitas prefeituras como Belo Horizonte adiaram o Carnaval, mas estão acontecendo muitos eventos fechado. Isso é prudente nesse momento?

Esse adiamento do Carnaval, o gestor público está certo em fazer pois tem que adiar mesmo para evitar a contaminação muito rápida. Na verdade, teremos dois carnavais, em de eventos fechados e, em abril, haverá o Carnaval público. Esses eventos fechados são muito perigosos, porque imagine que tenha alguma mutação aparecendo, o vírus não sai mostrando a carinha dizendo que “sou novo”, se tiver alguma coisa começando, se nós formos aglomerar, pode ter a disseminação de uma outra uma outra variante. Não é hora de fazer nada. Mas percebo claramente, conversando com as pessoas no dia a dia, que elas cansaram da doença. Não é que realmente as pessoas cansaram e perderam medo. É porque está complicando menos, os sintomas são muito leves. Tomara que realmente essa seja a última cepa. Vamos torcer para isso. (Foto reprodução internet)

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