Os últimos dias têm sido uma lição sobre o que é a política brasileira na sua essência. Manobras, conchavos, decisões na calada da noite, candidaturas enterradas, alianças improváveis sendo costuradas e as possibilidades de mudanças, aquelas sonhadas pelos eleitores, ficando cada vez mais distantes. Ao que tudo indica, haverá pouco espaço para mudanças no Congresso Nacional e nas Assembleias Legislativas. Isso acontece, segundo o ex-ministro e hoje comentarista político, Roberto Brant (foto), porque os partidos políticos brasileiros não são democráticos. Eles têm donos, que decidem quem disputa e contra quem. Um sistema com regras definidas por um pequeno grupo que elege presidentes, governadores e parlamentares, que se tornam reféns da vontade deles. O brasileiro parece ter entendido essa lógica e por isso, talvez esteja tão descrente da política.
Os partidos políticos acabaram. Essa estrutura mostrada nessas eleições vai acabar?
Como expressão de vontade popular, eles acabaram. Os partidos não têm nenhum sentido mais. São organizações comandadas por meia dúzia de pessoas e, em alguns casos, menos do que isso. Os partidos são propriedade particular nas mãos de algumas pessoas. A lei brasileira permite que os partidos estabeleçam as próprias regras de funcionamento. São instituições não democráticas, dirigidas de cima para baixo por um pequeno grupo. Isso não é partido político. Nesse sentido, não temos mais partidos políticos. Nós temos cartórios políticos.
Esse episódio com o ex-prefeito Marcio Lacerda, que teve sua candidatura rifada pela executiva nacional do PSB…
É um exemplo típico do que são os partidos hoje. O presidente do PSB, Carlos Siqueira, é um burocrata. Nunca disputou um voto na vida. Ele herdou a presidência do partido como os aristocratas, com a morte do ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos, que morreu em um acidente. Ele pode ficar na presidência do partido o tempo que ele quiser, porque controla o partido de uma maneira absoluta, sem nenhuma democracia interna. Ele vai ser dono do PSB até o dia em que ele morrer. Ele combina tudo, de acordo com a vontade dele. O Roberto Jefferson é dono do PTB, o Valdemar da Costa Neto é dono do PR, o Ciro Nogueira é dono do PP, esse Carlos Siqueira é dono do PSB e o Lula preso, é dono do PT.
São pequenos feudos?
Pequenos não. São feudos grandes, porque eles usam dinheiro público, eles têm franquia de acesso a rede pública de comunicação para fazer campanha eleitoral e eles têm o monopólio do registro de candidatura. Só se pode disputar eleição sob o manto desses partidos e eles admitem quem eles querem. O dinheiro das campanhas, agora, está entregue a eles. É tão absurdo que eles escolhem até quem será eleito. Isso é um escândalo. Não podemos continuar com os partidos dessa forma. E o pior, essa eleição vai consagrar o domínio desses grupos. Aliás, nem grupos são. Nesse caso, a eleição vai consagrar essas poucas pessoas. Os dirigentes partidários brasileiros não enchem um ônibus. São eles que comandam o país. Eles é que fazem os presidentes e fazem os governos serem reféns deles. Isso tem que explodir.
Como mudar isso? Que alternativas a população tem?
A única alternativa é nós temos uma Constituição exclusiva para reformar o sistema político totalmente. Esses partidos viraram empresas privadas, alimentadas com dinheiro público. Elas são concessionárias ou cartórios. Não tem convenção, não têm nada. É cada um por si. Eles são candidatos deles mesmos. Não existe mais política. Acabou.
O país está vendo tudo isso estarrecido. Como fugir desses candidatos?
Não tem como fugir disso. Com as mudanças que foram feitas na legislação piorou muito. Antigamente, tinha o financiamento privado de campanha e quem não era protegido do dono do partido, conseguia captar recursos nas empresas e se elegia. Agora isso é proibido, então, só quem os donos dos partidos dão dinheiro é que conseguem se eleger. Eles colocam quem eles quiserem.
Corremos o risco de ter um Congresso pior, Assembleias piores ou iguais as que estão aí?
Esse Congresso será exatamente o mesmo que esta aí. Não vai ter ninguém novo. Como uma pessoa nova vai disputar uma eleição? Só se o dono do partido der a ele dinheiro para ele fazer a campanha.
Com essas pessoas comandando a política brasileira, como se muda esse sistema?
Não muda. São pessoas que não são os melhores brasileiros presidindo os partidos. Quem é esse Carlos Siqueira? Ninguém sabe quem ele é. Ele não tem biografia, currículo, não tem nada. Nós estamos reféns, votamos em quem eles mandam. Não temos liberdade de escolha, porque elas são limitadas. Virou uma esculhambação. É o fim do mundo e espero que seja o fim e não o começo de uma história triste.