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Paulo Paiva: os desafios com o envelhecimento da população

O envelhecimento da população brasileira é uma realidade que avança a passos largos. Nascem menos bebês e o brasileiro vive cada vez mais. Em relação a 2010, houve uma alta de 57,4% na população idosa. Por outro lado, houve uma queda significativa nos nascimentos. Nos últimos 10 anos, a queda chegou a mais de 11%. Segundo o ex-ministro Paulo Paiva (foto/reprodução internet), que na década de 1980 já trabalhava com a projeção desses números, o país tem muitos desafios pela frente e vai precisar encontrar respostas rápidas para a mudança no perfil da população e na aplicação de políticas públicas

Com a população brasileira envelhecendo mais rápido do que o esperado, que reflexos isso tem na economia?

A primeira coisa que posso dizer é que não existe nada de novidade nessa situação. A novidade é a velocidade da queda da natalidade. Eu tenho um tanque que abre e fecha. Tem uma torneira que põe água no tanque e tem uma outra que abre para a água sair. A água que entra no tanque são nascimento. A água tem que sair, e nesse caso, são as mortes. Em outros países tem outras entradas e saídas, que são as migrações. Em alguns países, antes da revolução industrial a torneirinha de abertura da água e a torneirinha da saída da água tinham o mesmo fluxo. Tinha um volume grande de pessoas que nasciam, com taxa de natalidade alta, e um volume grande de pessoas que morreram. Morreu por causa de pandemia, morreu na guerra, por conta de fome, por vários motivos. Então, se partir de um ponto em que nascimento e morte são equivalentes, a taxa de crescimento é zero. Isso foi desde que o mundo é mundo até é o final do século XVIII, coincidindo com a revolução industrial.

Ocorreram mudanças?

 Depois, nos países desenvolvidos na década de 60, de 70, a mortalidade infantil diminuiu , o que significa aumentar o número de nascidos, porque havia uma mortalidade alta até os 12 anos. Uma grande causa de um aumento de crescimento da população a partir daí, foi a redução da mortalidade infantil. Havia mais sobreviventes nascidos vivos e que sobreviveram ao primeiro ano do que antes. Depois, as populações dos países que entraram no processo de esterilização e de urbanização, as mulheres foram tendo menos filhos e foi diminuindo a fecundidade. Com a industrialização, houve um apelo maior pelo consumo e outras mudanças que levaram a mudanças no mundo. Houve um processo, até que chegou a um ponto em que a população começou a diminuir e chegou a uma situação de não crescimento e até de crescimento negativo. Esse é um processo natural e irreversível. Só houve uma exceção nos Estados Unidos, durante a Segunda Guerra Mundial, com o chamado Baby Boom. Nos anos 40 até os 50, as mulheres nos Estados Unidos passaram a ter mais filhos, com um aumento da população. A partir dos anos 60 foi diminuindo e esse é um processo inexorável. Ele acontece a partir de uma mudança de uma vida rural para uma vida urbana, com renda maior, com mudanças culturais, maior liberdade que as mulheres. O acesso a meios anticoncepcionais. Essa situação foi mais forte nos países de religião protestante. 

Onde essa mudança ocorreu mais forte?

Nos países religião muçulmana e religião católica resistiram muito. Países como Portugal, Espanha e países latino-americanos mantiveram a natalidade alta até que lá pelos anos 70 a taxa de fecundidade começou a cair no Brasil. Vai chegar a um ponto, e os estudos mostram isso- inclusive participei de alguns, de se ter escolas sem aluno e vai ter uma demanda para a saúde de idosos. São processos que começaram, primeiro, nos países desenvolvidos e depois expandiram nos países menos desenvolvidos, em desenvolvimento, como é o caso do Basil. A novidade é que a velocidade dessa queda, aqui na América Latina, principalmente, ela foi muito mais rápida. Aquele modelo que o homem vai trabalhar e a mulher fica em casa. Hoje os dois vão trabalhar. O peso do catolicismo diminuiu muito. Esse processo está acontecendo e, segundo os últimos dados do IBGE, foi acelerado no Brasil. A população contada no Censo é menor do que estava sendo projetado. São muitos os fatores, inclusive o da independência das mulheres, que têm controle sobre o corpo, muito mais que tinham na minha geração. 

E os impactos?

O crescimento da população não é como taxa de juros. Nascimento e morte são outra questão. Não tem como planejar. A China tentou planejar e deu zebra. As famílias só podiam ter um filho. Só nasceu menino. As famílias preferiam os meninos. Em país democrático não é assim. Agora, isso tem efeitos, sim, sobre a economia, que merecem atenção. O primeiro deles, deve- se ao envelhecimento. São processos históricos, de décadas. Nós fizemos um relatório de pesquisa sobre isso, mostrando que no futuro teríamos uma demanda maior devido ao envelhecimento da população e com a queda na natalidade, com problemas com a Previdência, com hospitais, devido ao aumento da população idosa, que é o que nós estamos tendo. O impacto maior é com a Previdência. Por exemplo, tenho 83 anos de idade. Meu pai morreu em 1985 com 65 anos. Vivemos 20 anos mais. Imagina o impacto na Previdência. Como no nosso sistema são as pessoas que estão trabalhando, contribuindo com o pagamento da Previdência, esse recurso é utilizado durante o ano para pagar as aposentadorias. Naquele modelo piramidal, você tinha muito mais gente trabalhando do que gente aposentado. Você tinha superávit. Com menos nascimentos e com as pessoas vivendo mais, você vai mudando a base da pirâmide e parte para o déficit.

O governo tem que achar uma alternativa para cobrir esse buraco?

É um tema extremamente complexo. Nós tentamos fazer uma reforma no governo Temer e no governo Bolsonaro, para que fazer com que as pessoas trabalhassem mais tempo. Imagina você se com 55 anos de idade, tivesse parado de trabalhar. Esse é o maior impacto que se tem com o envelhecimento da população. A área de saúde é a que vai mais demandar do governo e essa é uma outra bomba. O Sistema Único de Saúde, o SUS, é referência, mas as pessoas vão demandar cada vez mais por tratamentos mais caros. Outro problema é em relação ao mercado de trabalho. As economias cresceram mais rápido graças ao aumento da produtividade, com inovação, tecnologia e com trabalhadores bem qualificado. Com menos pessoas entrando no mercado de trabalho, você tem primeiro, escassez de pessoas a trabalhar e num país como no caso do Brasil, onde nós nos descuidamos com os principais recursos econômicos, que são os recursos humanos, o capital humano, a situação é grave. São poucas pessoas no mercado de trabalho e a qualificação nas escolas no Brasil é muito ruim. Os índices mais altos do Brasil são inferiores aos mais baixos do Vietnã. Esse é um enorme problema, porque sem produtividade você não cresce. Isso fica mais assustador com a velocidade com que a inovação transforma o mercado. A inteligência artificial pode tirar o trabalho, principalmente o trabalho mais simples.

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