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Paulo Paiva: Os desafios da economia brasileira

Ao contrário do que aconteceu na primeira vez que assumiu o governo, dessa vez Lula encontrará a economia desorganizada, um cenário externo desfavorável e uma série de problemas, que levaram ao empobrecimento da população brasileira. Para o ex-ministro Paulo Paiva, o governo também terá que mostrar, logo de início, um programa de ajuste fiscal, que garanta o equilíbrio das contas. Para ele, muito do barulho que tem acontecido, principalmente em relação a escolha de Fernando Haddad para o Ministério da Fazenda, é mais reflexo do desastre do que foi o governo Dilma, do que pela capacidade do ex-prefeito de São Paulo.

O que está se desenhando para o governo Lula?

Muito difícil saber. Do ponto de vista de cenário comparando ao primeiro governo dele, esse é um cenário diferente, muito pior. Ele não recebe uma economia organizada como foi da outra vez, pós Plano Real. Tem o quadro internacional, que somente em 2023 e 2024, teremos uma situação mais clara, com as incertezas geopolíticas em relação a Ucrânia e a Rússia, com reflexos que terão que ser administrados. No cenário interno o governo vai administrar a economia e ainda não sabemos exatamente quais as medidas serão tomadas. É a primeira vez na história do Brasil que um presidente assume sem o controle sobre a política monetária e sobre a política cambial, que estão sujeitas ao Banco Central, que hoje é independente em relação ao Poder Executivo. Cabe ao governo cuidar da política fiscal.

O que significa, o presidente do Banco Central independente e com mandato até 2024?

No ano que vem, lá para abril, tem dois diretores que terminam o mandato no Banco Central e o governo pode mudar esses diretores. Essa é a regra do jogo. Pode-se imaginar que a permanência do presidente do banco é uma restrição ao governo, porque se ele quiser fazer uma polícia muito monetária expansionista, no momento em que se processa alta da inflação, o Banco Central tem mandato e independência para agir. O que isso significa na prática? Na prática isso significa que se estamos com uma inflação de 6.7% , ou um pouco menos, a meta do BC é de inflação de 3%. Então o BC segue usando os seus instrumentos para fazer inflação baixar. O instrumento que o BC tem é a taxa de juros para que a inflação seja controlada. Isso significa mais austeridade na política fiscal. Se houver a expansão do ponto de vista fiscal, isso significa que o Banco Central terá menos flexibilidade para administrar a sua política é isso leva a aumentar mais a taxa de juros.

Além desses problemas todos, tem a PEC da Transição que vai estourar os gastos e os nomes indicados pelo presidente Lula, como de Fernando Haddad e Mercadante, não estão agradando o mercado. Como isso interfere na economia?

Para o mercado esse ponto é o menos relevante. Relevante é a questão objetiva. Não se pode expandir os gastos da forma que está sendo pensado. Não se pode acabar com o arcabouço fiscal. Em economia existe restrição. Não existe economia sem restrição. Os recursos são escassos e o governo tem limites para gastar que é a receita que ele arrecada dos impostos. Se ele gasta mais, ele gera dívida. Se aumentar, ninguém no mercado vai financiar uma dívida que ele sabe que não vai pagar. Se você precisar de dinheiro e for ao banco, o banco vai olhar o seu crédito e seu fluxo de renda. Se você quiser comprar um avião de US$ 100 milhões, o banco provavelmente não vai financiar. É simples assim a situação. Já essa questão do Haddad é uma bobagem. A principal transformação econômica do Brasil foi feita no Ministério da Fazenda por um sociólogo. Ele não era economista, não tinha experiência de economia. Esse é um cargo que, por sua natureza, é um cargo político. Não é um cargo técnico, diferentemente do presidente do Banco Central, que é um cargo, por sua natureza, técnico. O ministro tem que ter capacidade de montar uma boa equipe, que possa oferecer soluções para o país. O Haddad, pelo que ele fez na prefeitura de São Paulo, tem condições para isso. Como prefeito, ele não fez bobagem em relação a questão fiscal. Fui convidado pela Fazenda de São Paulo na época para, pela Fundação Dom Cabral, organizar e preparar a equipe da Fazenda. Não há nenhuma razão para se temer o Haddad. Acho que o mercado tem cobrado do Haddad pelo que aconteceu no governo Dilma.

É o trauma deixado pelo governo Dilma?

Exatamente, o governo Lula carrega esse passado. De um lado foi positivo na economia, que foi o primeiro governo dele. Mas foi desastroso com a Dilma e isso pesa.

A partir de hoje qual que vai ser o principal é desafio do presidente Lula?

Encaminhar programa de ajuste fiscal com um arcabouço que garanta que, em um período determinado se atinja o equilíbrio fiscal, que estabiliza a relação da dívida pública /PIB. Se não fizer isso, será muito difícil administrar o governo, do ponto de vista da economia. A demanda para gastar é infinita. O avô do presidente do Banco Central, Roberto Campos, dizia que para cada real de aumento da receita, a demanda para isso é infinita. Todo mundo quer que o governo gaste. Administrar isso é fazer escolhas e manter a capacidade de ter a confiança da sociedade. É definir prioridades. (foto/reprodução internet)

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