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Paulo Paiva: Quando o BC deve reduzir a taxa de juros?

Desde o início do governo Lula a pressão sobre o Banco Central só aumenta. O presidente quer interferir na condução da taxa de juros. Só que na última legislatura, deputados e senadores decidiram tornar o Banco Central independente para evitar justamente a interferência política. Mas o coro para que as taxas de juros caiam só aumenta e fica a dúvida: o que pode acontecer com a economia se o BC mantiver a taxa Selic em 13,75%? Para o ex-ministro Paulo Paiva (foto/reprodução internet), essa é uma decisão acertada, porque existem muitos riscos que devem ser levados em consideração.

A decisão do Copom de manter as taxas de juros em 13,75% é a mais correta na avaliação do senhor?

Na minha, é. É o seguinte: tem uma polêmica e uma tensão por parte do governo que quer amentar os seus gastos, quer gastar, não quer cortar nenhum gasto e quanto mais você tiver uma política fiscal de consumir, menor o espaço que o Banco Central tem de fazer política monetária. Nenhum banco vai chegar a um lugar tendo uma política monetária expansionista. A política monetária tem que ser mais conservadora. Para se ter uma taxa de juros mais baixa, para valer mais baixa, tem que se ter o equilíbrio entre as duas partes. O fiscal tem que colaborar com o monetário. Essa questão está evidente agora porque não existe uma ação colaborativa. Do lado do Banco Central, há sinais, indícios, indicadores de desempenho que a taxa de inflação está cedendo, está baixando e isso abre a possibilidade de o Banco Central também baixar os juros. Isso mostra a eficácia da política monetária. Se não tivesse uma política monetária com essa austeridade, a inflação estaria mais alta. A inflação está baixando e isso significa que a política do Banco Central está sendo eficaz na tentativa de acomodar a inflação dentro do espaço da meta e isso é um indicador lá na frente. Isso porque as expectativas da taxa de juros na frente estão menores. Isso é um indicador positivo do Banco Central de que pode abaixar os juros. A questão crucial é quando.

E quando pode baixar?

Pode ser agora, no mês que vem, em setembro, mas, ao longo deste ano, ele vai baixar. Mas o momento certo de se fazer isso que é crucial. O Banco Central tem razões do ponto de vista externo, porque a situação ainda é desafiadora. Ainda há incertezas quanto uma resistência maior de acomodação das taxas de inflação nos Estados Unidos e na Europa e isso é um lado que preocupa, que chama atenção e não se pode brincar e isso não é só com Brasil, mas com os países emergentes de maneira geral. Mas no Brasil, em particular, temos vulnerabilidades neste campo. Uma delas é que nós lutamos em um período de hiperinflação e que depois foi superada com um Plano Real. Essa situação está na memória da economia brasileira e nós temos do lado, a Argentina com situação de inflação de mais de 100% ao ano. Nós não temos uma moeda como a dos Estados Unidos, não temos uma moeda como o euro, então nós temos que ser bem mais cautelosos, porque o risco do Brasil é bem maior do que desse países. Nesse ambiente o Banco Central entendeu que ainda não é hora de fazer e, além disso, há uma questão muito delicada: mês que que vem nós teremos uma reunião do Conselho Monetário e o Banco Central vai ter três votos, ou seja, estará em minoria e há a possibilidade de o governo querer elevar a meta de inflação. Essa decisão dá um sinal de que o Brasil quer aumentar a inflação para poder continuar gastando e não vai fazer o ajuste fiscal que é necessário. Se isso acontecer, se o Banco Central tivesse baixado os juros, se tivesse reduzido a taxa de juros agora e no mês que vem, com o aumento da meta, certamente seria desastroso. Isso do ponto de vista de ter a taxa de juros, que lá na frente ia subir. Também tem ainda a expectativa do mercado, que nesse cenário, seria a de que o Brasil abandonou o cenário fiscal e monetário. Então, nesse contexto, acho que o Banco Central foi cauteloso e tomou decisão correta.

Há uma forte pressão para baixar os juros, com críticas pesadas do presidente Lula.

Tudo bem. Política monetária se chama política por ser uma decisão política, mas ela não se confunde com política. Pressão existe e sempre existiu. Quem não quer pressão vai ficar na praia tomando banho de sol e lendo. A vida é cheia de pressão. É evidente que o governo quer que baixe para criar um clima de euforia. Parte do mercado financeiro quer que baixe a taxa de juros para aumentar os seus negócios. Os representantes da indústria querem, e sempre quiseram, juros mais baixos porque com isto se supõe que terão um crédito mais baixo, podem tomar dinheiro emprestado com taxas mais baixas, podem investir mais. O consumidor vai ter possibilidade de consumir com um custo mais baixo. Isso tudo é verdade. Só que a realidade não é bem assim, ela é mais complexa do que isso. O mercado de trabalho no Brasil está bastante aquecido, a taxa de desemprego está no nível de 8,5%, que embora altíssimo, é essa a taxa que é compatível com a estabilidade da inflação. A economia é isso, tem pressão dos dois lados. A economia está crescendo a uma taxa razoável, parece que as crises políticas não afetam a economia, exceto no que se refere as medidas econômicas, como o arcabouço fiscal, a reforma tributária, que são decisões que afetam o comportamento a economia. Já questões como nomear fulano para o Supremo, criar CPIs em Brasília, não afetam mais a economia.

One thought on “Paulo Paiva: Quando o BC deve reduzir a taxa de juros?

  1. Corajosa opinião do Ministro Paulo Paiva. Quanto todos atacam Roberto Campos Neto, ele explica com autoridade que a taxa está correta até que a inflação recue!

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