A decisão do presidente interino Michel Temer de retomar as pequenas obras paralisadas em todo o país, animou a indústria da construção pesada, que acredita que, lentamente, o governo federal começa a colocar a economia em movimento. O setor agoniza, segundo o presidente do SIcepot MG, Emir Cadar Filho (foto), e mesmo que essa medida do governo não atinja todo o setor, pelo menos ele sai dessa paralisia, que causou o desemprego de pelo menos um milhão de trabalhadores. Este é um ano perdido, segundo Emir Catar, mas para 2017, ele acredita que o governo pode voltar a investir em infraestrutura e retomar os rumos do crescimento do país. Amanhã o ministro-chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República do Brasil, Moreira Franco, vai falar para empresários mineiros, na Fiemg, sobre os objetivos do governo com o Programa de Parceria de Investimentos.
A decisão do governo federal de retomar obras inacabadas atende a indústria da construção pesada?
A ação do presidente Michel Temer foi muito oportuna e inteligente. Ele está mostrando ser uma pessoa com decisões corretas. Com essas medidas serão movimentadas muitas obras com pouco dinheiro. São obras de até R$ 10 milhões, que estão paradas e quase sendo concluídas. Elas vão gerar um volume enorme de empregos, com um recurso pequeno. São duas mil obras movimentadas com dois bilhões de reais. É uma atitude muito boa. Essas obras serão concluídas agora e a geração de empregos será pulverizada. Se ele priorizasse, por exemplo, duas obras de um bilhão de reais cada uma, ele iria gerar muitos empregos, mas concentrados em apenas dois lugares. Com essa atitude, ele vai gerar emprego no Brasil inteiro. Além do que, as obras inacabadas significam prejuízos para o país. Isso tem que ser o começo da retomada dos investimentos em infraestrutura. A retomada da economia e do crescimento, passam pela retomada da infraestrutura.
Essa retomada será um alívio para o setor?
Por enquanto é uma água na fervura, mas vai cair e acabar rápido. Não vai atender ao setor. Mas é um começo e o importante é isto recomeçar.
O governo com essa decisão sinaliza para a retomada dos investimentos em obras de infraestrutura depois dessa liberação?
Não existe prazo, porque não existe um prazo para terminar essas obras. Uma obra pode terminar em dois meses, outra em seis meses. O que importa é que o governo voltou a movimentar o nosso setor. Não são novas licitações. Isso quer dizer que quem está sem contrato vai continuar sem, mas quem tinha e estava acabando uma obra pequena vai poder trabalhar. Essa decisão do governo não atende a todo o setor, mas no meu entendimento, está atendendo muito mais ao país ao gerar empregos e não deixar obras inacabadas.
O Sindicato da Construção Pesada tem um levantamento dessas obras que estão inacabadas no estado?
Nós estamos fazendo um levantamento para ver quais as obras que não têm problema com o meio ambiente para ver quais serão contempladas.
Qual é a situação da indústria da construção pesada em Minas Gerais?
Continuamos da mesma maneira, com poucas obras de infraestrutura em andamento tanto estadual, quanto federal. Nós estamos em agonia, fazendo praticamente só as manutenções. O estado tem mantido as suas estradas, não tem feito novas licitações e não está iniciando as obras contratadas. Estamos esperando para o país dar uma movimentada para retomar com essas obras.
O ministro Moreira Franco reclama que não existem bons projetos de infraestrutura no país. Há uma carência desse tipo de projeto?
Eu acredito que tudo que for passado para a iniciativa privada vai andar com o dobro de agilidade. Não tenho dúvida em relação a isto. Nós teremos uma reunião nesta segunda-feira com o ministro Moreira Franco, para entender isso melhor. Mas o governo não tem um plano. Na minha opinião, o ministro está tateando. Ele disse quero fazer isso, mas quando foi buscar os projetos, viu que não dá. Ele chegou à conclusão de que não tem bons projetos. E não tem mesmo. O país não se preparou para ser um país com as PPPs (Parcerias Público Privadas ou Programa de Parcerias de Investimentos, como rebatizou o governo), mas é o futuro. Realmente não tem projetos, mas não é o imediatismo que vai resolver a situação atual. Na minha opinião, o que vai resolver serão os contratos assinados que o governo tem e que hoje não tem dinheiro para tocar. Existe uma enxurrada de obras contratadas, necessárias, já com os contratos assinados para serem executados, mas que estão sem ordem de início. Seria importante colocar para funcionar o que já foi contratado.
A interinidade do presidente Michel Temer atrapalha na tomada de decisões mais ousadas?
Ele mesmo já falou que quando isso acabar, o impeachment, é que ele vai tomar as atitudes que ele não quer tomar agora. Ele está se preparando, desenhando as atitudes que devem ser tomadas, mas só depois de confirmado o impeachment é que ele vai tomar essas atitudes necessárias, mais estruturantes.
A indústria da Construção pesada está com alguma expectativa para esse dia seguinte?
Nós temos expectativa de que o orçamento para o nosso setor aumente para o ano que vem. Este é mais um ano perdido. Não temos expectativa de aumento no orçamento neste ano, mas que no ano que vem espero que eles desenhem um orçamento com a infraestrutura sendo bem contemplada para voltar a movimentar toda a cadeia produtiva. Nosso setor é responsável por praticamente 10% do desemprego no país. Nosso setor demitiu um milhão de trabalhadores. O setor automotivo, por exemplo, deve representar 0,1% e, no entanto, está sempre sendo contemplado pelo governo, enquanto nós ficamos à míngua. A construção pesada precisa de investimentos governamentais em todas as instancias, federal, estadual e municipal para garantir o bem-estar do cidadão. Nós construímos as ruas, as estradas, os canais. Nós construímos, o tempo todo, o bem-estar. Quando não se investe em infraestrutura, os serviços para o cidadão pioram cada dia mais.