Os empresários do setor de transporte aguardam resposta a um pedido de ajuda ao setor de transporte público. Com uma diminuição drástica no número de passageiros, as empresas acumulam dívidas e problemas que se avolumam. O presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros Metropolitano (Sintram), Rubens Lessa (foto), disse que sem ajuda, as empresas não terão como pagar os salários nesta terça-feira.
O que ficou resolvido nessa questão do transporte? O governo vai ajudar o setor?
No transporte estamos com uma dificuldade muito grande, em uma crise sem precedentes. Vários decretos limitando a capacidade de circulação de veículos. No transporte urbano, nós temos vários decretos, que exigem capacidade máxima de passageiros assentados. É muito difícil de conscientizar o passageiro que entra de que ele não pode viajar em pé. Ele não quer sair e pode esperar um pouquinho o outro ônibus que está vindo atrás. Apesar de, como não tem ninguém nas ruas, o tempo das viagens diminuiu muito. Mas ele não espera, quer entrar no primeiro veículo que passa. E nós temos um outro grande problema: houve uma queda de 70% da demanda na Região metropolitana de Belo Horizonte, no interior caiu 80%. O que nós estamos produzindo nas viagens é duas vezes menos do que é necessário. Não tem como manter o transporte se não tiver uma fonte de custeio do serviço público para mantê-lo e para que nós possamos cumprir com as nossas obrigações de manter o serviço, que muitas vezes é o de levar pessoas que estão no serviço essencial, nas áreas de saúde, de limpeza. São vários setores que estão funcionando e a cidade precisa funcionar. Esse é um déficit grande e as prefeituras estão procurando uma forma de custeio. Temos uma demanda no Ministério da Economia, que está sendo discutido pelas entidades nacionais, mas é urgente que isso seja resolvido. Nós levamos várias ideias, uma delas é a de um vale social para se utilizar depois da crise pelas pessoas baixa renda. O governo faria uma compra desse vale e ganharia crédito no transporte das empresas. Apresentamos também uma proposta de baixar o preço do diesel para as empresas de transporte público. É necessário que se tenha alguma coisa porque o setor vai ficar em muita dificuldade. As empresas estão correndo o risco de não conseguir amanhã de abril, pagar sua folha de pagamento que é 50% de seus custos.
O governo já sinalizou para liberar alguma coisa para o setor ou deu alguma resposta?
Tivemos reuniões no Ministério da Economia, junto com o pessoal de Brasília e com a Frente Nacional de Prefeitos. Está bem encaminhado.
O prefeito Alexandre Kalil decidiu proibir a entrada, em Belo Horizonte, de ônibus de Lagoa Santa a partir de segunda-feira porque a prefeitura de lá não está adotando o que está sendo pedido, que é manter as pessoas em casa, longe do convívio social. Que tipo de impacto isso pode ter para o setor?
Tem decretos de prefeitos do interior a fora em Minas Gerais proibindo o transporte de passageiros. Hoje não tem ninguém andando em Belo Horizonte. Do jeito que nós estamos rodando, se parar tudo, pelo menos para o prejuízo das empresas. Só que a cidade não pode parar. Não quero entrar nessa questão política dos prefeitos. Mas ele corre o risco de deixar de trazer uma enfermeira ou alguém do serviço básico para trabalhar.
Quem está trabalhando é quem precisa, não é?
Quem está vindo é porque tem trabalho essencial para fazer. Alguns profissionais podem deixar de trabalhar por causa disso, alguns hospitais podem perder profissionais fundamentais para funcionar.
Qual é o prejuízo até o momento do setor aqui em Minas?
O prejuízo do setor de transporte metropolitano é de R$ 1,5 milhão por dia. Para se ter uma ideia, na Região Metropolitana de Belo Horizonte nós temos hoje 3 milhões de passageiros por dia. Estou carregando um milhão. Estou deixando de levar dois milhões de pessoas por dia. O prejuízo é muito grande. O prejuízo diário do sistema está chegando a R$ 3 milhões ao dia. É muito grande e as empresas não conseguem suportar isso.
As empresas aguentam até quando?
O nosso pagamento é neste dia 7 e nós não vamos conseguir pagar integralmente. Se o Sindicato dos Trabalhadores não parcelar, não encontrar uma saída, vai ser difícil. Nós temos diversos funcionários que estão no grupo de risco e que estão em casa, não podem trabalhar. Mas vários tem que trabalhar para fazer a cidade funcionar. É preciso arrumar uma forma para ajudar no custeio do transporte público, porque o risco é não ter transporte público nesse período.