Para o setor produtivo, a economia tem dado passos demasiadamente lentos. Após uma recessão jamais vista no país, ninguém acredita em um salto, mas alguns setores amargam perdas por um período longo demais, como é o caso da indústria mecânica, que funciona como um termômetro da economia. E há pelo menos 10 anos os empresários estão trabalhando sem grandes perspectivas. O presidente do Sindicato das Indústrias Mecânicas de Minas Gerais (SINDIMEC/MG), Humberto Zica (foto), reclama que as empresas encolheram pela metade nesse período e ainda não há perspectivas de melhoras a curto prazo. Muitos empresários só pretendem investir após as eleições de 2018.
As conversas dos empresários com o diretor geral da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), Décio Oddone, têm sido proveitosas?
A Agência Nacional de Petróleo tem como função capitanear investimentos nesta área para o Brasil, com uma visão mais voltada para o desenvolvimento da indústria, para fazer negócios. É uma perspectiva muito boa, pois conseguiram executar novos leilões, que estavam parados há cinco anos, e isso permite que daqui há algum tempo, ainda é uma perspectiva de médio para longo prazo, para daqui há cinco anos é que nós vamos ter o desdobramento desses leilões e dessa nova perspectiva de mercado que a Agência está vivendo hoje. As perspectivas são excelentes, são muito boas, mas nós temos que esperar ainda um pouco para que isso se torne um negócio.
O que o governo precisa fazer de imediato?
De imediato era fazer o leilão e foi o que ele fez após cinco anos. Só depois desse leilão é que serão feitos novos investimentos, o desenvolvimento das áreas para termos novos investimentos. Nessa fase os investimentos são pequenos. Os investimentos grandes são na área de desenvolvimento da produção efetiva. Nós temos que aguardar, não há muito o que fazer. Uma notícia muito boa é que hoje tem pessoas na agência regulatória que são pessoas que estão lá para que os negócios aconteçam. Algumas outras pessoas estavam lá para atrapalhar. Hoje as pessoas estão fazendo de tudo para que os negócios aconteçam. A primeira etapa é o leilão, agora tem várias outras etapas para serem desenvolvidas.
O que os empresários mineiros querem. Onde eles vão entrar nesse processo?
Na cadeia de equipamentos nós queremos que as empresas de petróleo façam investimentos, colocando novas unidades de produção, o que vai permitir a nós fornecer equipamentos para que essas unidades de produção, que são aqueles navios chamados de FPSO (navio flutuante de produção, armazenamento e descarregamento de petróleo e gás) que serão instalados.Isso nos levará a fabricar componentes para esses equipamentos. O que nós queremos é que sejam feitos negócios por parte das operadoras de petróleo, para que elas descubram novas reservas e que elas possam desenvolver a produção delas. Isso vai se desdobrar em contratações, no Brasil, de serviços e equipamentos.
A política de conteúdo local para compra de equipamentos de fornecedores brasileiros por empresas estrangeiras tem sido seguida?
As empresas estrangeiras têm que seguir, senão elas são penalizadas. O que nós temos que fazer é ficar competitivos. Tem alguns trabalhos ainda na área de regulação. O que está mais próximo de executar é a continuidade do Repetro, que é um regime aduaneiro especial para a área de petróleo e que permite, de certa forma, equalizar a carga tributária dos equipamentos importados e dos nacionais, para ficarmos mais competitivos no mercado nacional de curto prazo, nos próximos 90 dias, 120 dias. A resolução do Repetro, vai nos ajudar bastante. A questão do conteúdo nacional já está colocada e é só ser colocada em prática.
Nessa crise econômica, como o setor foi afetado?
O setor de bens de capital, e bens sob encomenda foi muito afetado nos últimos 10 anos, porque nós fornecíamos para a área de mineração, que passou a importar, depois a de equipamentos de siderurgia, que passaram a ser importados também. Eles não tinham conteúdo nacional. A área de petróleo é uma área que nós acreditamos que vai ser de demanda contínua, que é diferente desses setores que investem e depois ficam um bom período sem investir em novos equipamentos. Nós enxergamos que a área de petróleo vai ter uma perspectiva de um ciclo contínuo de investimento nos próximos 10 anos. Mas o setor de bens de capital teve um decréscimo de 50% no faturamento, de 50% da força do trabalho.
No ano de 2017 já houve uma sinalização de retomada do crescimento?
Não. Até 2018 acredito que será difícil, bem complexo mesmo, em relação aos projetos que estão para acontecer. Uma boa parte dos investidores está aguardando as eleições e acredito que em 2019 haverá uma retomada com mais intensidade. Em 2018 será muito próximo, no nosso segmento, muito próximo do que foi 2016 e 2017, que foram os piores dos últimos 10 anos.