A pandemia mudou a forma das pessoas se comunicarem e se ajudarem. A vice-presidente do Instituto Ramacrisna, Solange Bottaro (foto), conseguiu manter as aulas e a formação de crianças e jovens, mas percebeu que muitas famílias estavam precisando de ajuda. Houve uma mobilização de todos os envolvidos nesse trabalho para conseguir não só a distribuição de cestas básicas, mas criar alternativas para as mães conseguirem uma renda extra para ajudar no orçamento doméstico. O Ramacrisna reverterá R$ 60 mil com gasto de energia em ações sociais para 400 crianças e jovens. Isso corresponde a 6.600 refeições servidas
Como tem sido o trabalho realizado pelo Instituto Ramacrisna na pandemia?
Nós temos um trabalho que tem um apoio muito grande. Nós temos 62 anos de atuação, uma caminhada muito longa. Fomos criando uma rede de parceiros, inclusive internacionais, que nesse momento foi muito importante para nós. Nosso trabalho é mais de formação, de conhecimento, de preparação das pessoas para se libertarem e caminharem. São famílias em situação de alta vulnerabilidade e nós preferimos que as crianças e os jovens estudem. Nós trabalhamos muito com qualificação profissional e consideramos que essa é uma forma da pessoa se libertar e caminhar sozinha e não dependa mais de nós e das outras pessoas. É um trabalho de igualdade, que a pessoa caminhe por si mesma. Mas na pandemia surgiu outro viés. As pessoas não tinham o principal, que é a alimentação. É o que faltava no dia a dia e continua faltando.
Como vocês conseguiram resolver essa questão?
Nós começamos a buscar parceiros que pudessem nos ajudar nesse sentido. Surgiram os parceiros internacionais, como o Brazil Foundation, que é uma grande organização, que começou a nos ajudar e permitiu que nós conseguíssemos apoiar mais de 40 mil pessoas a passar por esse momento. Ramacrisna reverterá R$ 60 mil com gasto de energia em ações sociais para 400 crianças e jovens. Isso corresponde a 6.600 refeições servidas. É uma ajuda com cesta básica e produtos de higiene e limpeza, que é o que eles precisavam.
Muitas entidades tiveram ajuda no início da pandemia, mas agora sentem falta desse apoio. Isso está acontecendo também na Ramacrisna?
Até o mês de fevereiro desse ano nós ainda conseguimos apoio. Nesse momento nós não temos mais a ajuda internacional. Nacional sim, com o Mesa Brasil, pelo Sesc, nós conseguimos doação de alimentos. Eles continuam nos ajudando e nós repassamos os produtos para as comunidades. O início da pandemia foi forte para nós, mas agora está sendo muito mais. Um número muito grande de pessoas ficou desempregada e as mulheres, que são mantenedoras das famílias, elas não podem mais fazer faxina, lavar roupa, cuidar de crianças. Elas não podem entrar nas casas das pessoas e ficam muito desguarnecidas. Nós conseguimos um apoio de fora, que foi muito importante, que foram 600 chips da Central Única de Favelas (CUFA) e o objetivo era não só fazer algumas atividades com as crianças que não tinham acesso à internet.
Foi possível manter as aulas?
Nós conseguimos trabalhar normalmente com os cursos profissionalizantes e com o programa de aprendizagem. Em nenhum momento esse trabalho foi interrompido e continuamos neste ano. Nós temos toda uma equipe de TIs, de educadores, de pessoas de projetos, que trabalharam no sentido de estar se reinventando. No ano passado, logo que suspenderam as aulas, nós penamos o que fazer para não abandoná-los. Nós desenvolvemos programas e uma plataforma que estamos trabalhando com eles. Há alguns anos nós fizemos uma escolinha de fotografia. Hoje eles têm uma produtora supercompetente, que cria vídeos e eles foram fundamentais nos cursos que nós demos aqui.
Formaram aí e agora estão ajudando os alunos durante a pandemia?
Estão ajudando. As coisas também ficam mais lúdicas, não só simplesmente as pessoas falando. Nós continuamos. O chip também tinha a função de empoderar as mães. Nós temos muito foco nas mães, porque os pais nem sempre estão presentes e quando estão, têm uma relação pífia, distante. A mãe pode fazer um bordado, um bombom, um bolo, um salgado e mostrar o que faz pelo WhatsApp, vender esse trabalho e sustentar os filhos dela e isso conseguiu minorar um pouco a situação de penúria dessas famílias.
Quem quiser colaborar com o Instituto Ramacrisna deve fazer o que?
Se quiser ajudar com alimentos ótimo, nós transferimos para as famílias e, também, tem a destinação do FIA, que é a doação pelo Imposto de Renda. Na hora de fazer a declaração 3% do IR pode ser destinado ao Conselho do Direito da Criança. Esse é um dinheiro que em vez de ir para o governo pode ser destinado a uma instituição escolhida pelo contribuinte. Muitas vezes as pessoas não sabem que podem fazer isso. É tudo muito sério e organizado.