Este será um ano particularmente difícil na Assembleia Legislativa. O governador Romeu Zema (Novo), que não tem intimidade com a política, terá que encarar uma oposição do PT, que está com a faca nos dentes devido a derrota sofrida nas urnas, além de um legislativo pulverizado, com muitos partidos e muitas incógnitas a serem desvendadas. Talvez por isso a decisão de convidar o deputado Luiz Humberto Carneiro (PSDB) para ser o seu líder. Mesmo vindo do ninho tucano, o seu principal adversário na última eleição, é justamente nele que Zema tem encontrado respaldo e respostas para as dúvidas que tem. Luiz Humberto (foto) foi eleito por seis mandatos e foi líder dos governos de Antonio Anastasia e de Alberto Pinto Coelho. Ele sabe que terá muitos problemas pela frente, mas o momento, segundo ele, é o de ajudar a recuperar a economia mineira.
Como o governador Romeu Zema chegou até o senhor e o que ele quer do seu líder na Assembleia Legislativa?
Foi algo que me surpreendeu muito. Já conhecia o Paulo Brant e o Custódio Matos. Os dois trabalharam nos governos de Aécio, Anastasia e também do Alberto. Vários deputados, também estavam preocupados em relação a quem poderia ser o líder do governo e fiquei honrado ao saber que muitos indicaram meu nome para fazer essa interlocução com o governo. Nós sabemos que será muito difícil, porque sei que uma das coisas que terá que ser feita é a reforma da Previdência. O Brasil inteiro precisa dessa reforma, não só Minas Gerais. Todos os estados brasileiros e os municípios precisam fazer essa reforma, porque senão eles não sobrevivem. O Estado arrecada com a Previdência em torno de R$ 6 bilhões e gasta mais de R$ 20 bilhões. É um rombo muito grande. São algumas coisas, às vezes doída, e muitas vezes é difícil o parlamentar querer votar um projeto desses, porque ele acha que vai perder popularidade. Mas a eleição deixou muito claro que é preciso fazer as mudanças. Tivemos a eleição do governador Romeu Zema com mais de 70% dos votos dos mineiros, que acreditaram que ele fará as mudanças. Entendo que elas terão que ser feitas. Aceitei esse desafio, porque não só acredito que ele irá fazer, como acredito que elas são necessárias. Uma coisa interessante é que quando fui chamado, já confirmado o convite, pedi um tempo para fazer uma consulta ao partido e ao Anastasia, e ele de cara me disse que nós temos todos que ajudar Minas Gerais, ajudar o governador para o povo mineiro sair dessa crise brava. É um momento de todo mundo contribuir. Depois da indicação deputados de vários partidos me ligaram cumprimentando e se colocando a disposição. Na hora que se faz uma composição de blocos dentro da Assembleia, nós temos blocos da situação, da oposição, independentes. Muitos vão contribuir com o governo para que possamos resolver o mais rápido possível.
O senhor foi líder dos governadores Antonio Anastasia e de Alberto Pinto Coelho e conhece bem a Assembleia Legislativa. Quais os principais erros cometidos pelo governo passado na Casa?
Não vou falar na Assembleia, mas no próprio governo. Nós fizemos, inclusive, oposição pela primeira vez e fizemos muitos alertas, de inchaço da máquina administrativa, e ao inchar a máquina temos essa dificuldade toda hoje, esse imenso número de funcionários que foram demitidos. O governo não se preocupou em trazer desenvolvimento para Minas Gerais, buscar empresas. Nós fizemos alerta para não aumentar os impostos, porque isso iria penalizar de imediato a população mineira e ia impedir que outras empresas viessem para o estado, além de prejudicar as daqui. Os alertas não adiantaram nada. Foi muito difícil esse relacionamento com o governo, que pensava no partido, não pensava na população. Essa foi a grande dificuldade do governo passado. Agora, a preocupação do governador Zema de criar a comissão para analisar a crise em Minas e com certeza, nós teremos os reais motivos que levaram o Estado a essa crise e apontar os caminhos que nós teremos para sair dessa crise. Algumas reformas terão que ser feitas e temos que aguardar o que a equipe técnica, que está fazendo este levantamento, nos apontará. Essa comissão da crise foi criada pelo governador Zema e está fazendo esse levantamento, inclusive pela Renata Vilhena, que tem muito conhecimento em termos de administração e em um tempo curto nós teremos o diagnóstico do que levou a essa crise tão séria em Minas.
Houve uma pulverização de partidos nessa última eleição. Como o senhor vai trabalhar com esse quadro e trazer esses deputados para apoiar o governo?
Uma parte que já está na Assembleia vem de outros mandatos e eles já entendem e se assustaram com as decisões tomadas nas urnas dessa eleição, porque esperavam ter uma votação mais ampla e não tiveram, o que reflete esse desejo de mudança. Essa turma nova que vem, já é dessa mudança e vem com uma proposta diferente. Esse perfil da turma nova é muito em cima dessas mudanças e acredito que teremos uma facilidade de fazer as reformas pelo resultado das eleições e pela necessidade de fazê-las. O que nós não podemos é ficar com um Estado em que não se pode fazer nada. Um Estado que não pode investir, não pode honrar com os compromissos. Está muito difícil, porque afundou todo mundo. Nós estamos em um buraco só. É aquela estória: às vezes não gosto do piloto do avião, mas se eu estiver no avião e torcer para ele morrer, eu também vou morrer. O avião vai cair e morre todo mundo. Temos que dar as mãos e torcer pelo sucesso.
No início dos trabalhos, qual é a prioridade do governador Romeu Zema, que projetos ele vai mandar para a Casa?
Nós ainda não temos os projetos que serão enviados, porque a comissão da crise está analisando com agilidade, mas está sendo analisada a causa da crise para enviar os projetos. Existem vários vetos que vão sobrestar a pauta e que nós vamos derrubar e isso demora um pouco e dá um tempo para o governo preparar os projetos. Mas sentimos que o governador está muito preocupado em colocar as contas em dia com os municípios, com os servidores, há uma preocupação de pagar os salários dentro do mês. Nós também teremos que conhecer a base do governo, que só será conhecida depois do dia 4.
Com a composição dos nomes que vão trabalhar na administração estadual podemos dizer que terá uma boa pitada de PSDB no governo?
Sem dúvida. Nós deputados tivemos uma reunião com o governador em dezembro e naquele momento nos colocamos à disposição do governo. A bancada do PSDB foi lá e nós colocamos para ele que estaremos prontos à ajudar o governo em tudo aquilo que for possível resolver, inclusive em relação a projetos difíceis, com a população entendendo, mas em alguns momentos pode ser desgastante para o parlamentar, mas estávamos prontos para isto. Isso em dezembro, ainda não havia nome de Custódio Matos, nem de Luiz para ser líder de governo. O senador Anastasia também já o recebeu. Estamos prontos para somar, para que o país saia o mais rápido possível dessa crise.
Além dessa crise econômica e fiscal, o governador Romeu Zema também começou o seu mandato com o rompimento de mais uma barragem, dessa vez, em Brumadinho. Como tratar dessa questão ambiental, levando-se em conta a pressão dos empresários para que haja maior flexibilidade na legislação?
O que não pode acontecer é erro dentro das liberações. Na barragem em Brumadinho, com certeza ocorreram erros que não poderiam ter acontecido. O que os governos precisam é de ter mais agilidade. Os governos precisam de mais agilidade, porque, às vezes, a licença ambiental que poderia ser dada quando está tudo certo, ou para conceder uma outorga, demora-se quatro anos e empresários nenhum consegue esperar tanto tempo. Tenho certeza que isso será estudado tecnicamente para que o governo haja com mais agilidade.