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Uma campanha de poucos santinhos e cartazes. Falta dinheiro

Um dos setores mais demandados durante as campanhas eleitorais é o da indústria gráfica. Mas poucas empresas até o momento foram contratadas para a produção dos santinhos e dos materiais normalmente usados durante a campanha. Alguns fatores têm contribuído para isto, como a falta de dinheiro, devido as restrições impostas pela legislação eleitoral, o tempo de campanha, que é mais curto e o endividamento de muitos partidos e candidatos, o que está obrigando as gráficas a adotarem algumas medidas para evitar perdas, como ocorreram nos últimos pleitos. O presidente da Associação Brasileira da Indústria Gráfica Regional de MG e Sindicato das Indústrias Gráficas de Minas Gerais, Luiz Carlos Dias Oliveira(foto), também reclama da paralisia da economia e das dificuldades enfrentadas pelos empresários com a alta do dólar, que afeta diretamente o preço do papel e o custo do maquinário.

 

 

Em época de eleição, os setores produtivos costumam apresentar suas reivindicações aos candidatos. O setor gráfico tem uma pauta?

Esse processo, na maneira em que ele está desenhado atualmente, ficou muito confuso. Nós não sabemos ainda quais os verdadeiros caminhos dessas eleições. Os nossos pleitos, as nossas reivindicações, estão sendo feitos dentro de um universo maior, que é o da Federação das Indústrias, unindo todas as entidades ligadas a indústria gráfica associadas à Fiemg, e, também pela Abigraf, que é a Associação Brasileira da Indústria Gráfica Regional MG. O que é de interesse geral é debatido mais amplamente. Os últimos tempos estão muito difíceis. O mundo globalizou e em consequência dessa globalização, em alguns momentos nós ficamos prejudicados. O dólar, por exemplo, ultrapassou os R$ 4,00 e a resposta do mercado é muito rápida em relação ao preço do papel. Nós não temos muito onde mexer. Os insumos, de maneira geral, também estão globalizados, como as tintas, as matrizes. O que incomoda, mesmo, é o custo absurdo da energia elétrica. É a falta de infraestrutura, mas entendemos também que o governo não tem muito o que fazer, porque não consegue nem pagar a folha de pessoal. Como vamos reivindicar alguma coisa quando nós não temos o básico? No caso das campanhas eleitorais, por exemplo, elas nem começaram para valer. As campanhas estão muito devagar, e não abemos ainda como ela será nesse ano. Talvez depois do início da campanha no rádio e na televisão e dos debates, com a fala dos candidatos, como a Viver Brasil está promovendo, o ritmo das campanhas melhore, mas o ciclo da campanha está muito curto e não tem dinheiro.

 

Com essas questões do tempo curto e da falta de dinheiro, como as gráficas se prepararam para as eleições?

Temos tido muito pouca demanda. Tenho um estoque na minha empresa, a Ibérica, de 36, 40 toneladas de papel, mais ou menos três caminhões carregados de papel. Montei toda uma estrutura para a campanha política, porém nós temos que ter segurança de recebimento, que é fundamental. Tem que ser pago antecipadamente ou pelo menos 50% antes da entrega do trabalho. No caso da Ibérica, nós estamos fazendo um esforço grande para receber 100% antecipado, porém, nós não temos um pedido de campanha política até agora. Muitas empresas estão assim. Empresas tradicionais. A Ibérica tem 46 anos, tem nome, mesmo CNPJ, sem confusão. Estamos dando segurança para a execução de um trabalho dentro dos padrões. Tem muitas empresas se atrevem e utilizam papel indevido, linha d’água, papeis que não tem os tributos, Há uma vigílância muito grande e as entidades – a Abigraf e o Sindicato- está atenta porque o uso desse papel compromete a indústria gráfica.

 

Esse material pode ser apreendido, inclusive?

Pode ser apreendido e o político é corresponsável pela distribuição. Às vezes o sujeito faz um preço extraordinário para o político e, até por inocência, ou por achar o preço bom, ele faz, contrata o serviço, só que aquele papel indevido, que não tem tributo, de uso específico para jornais e periódicos. As pessoas às vezes ousam por desespero, arriscam, porque o momento está muito confuso. Nós viemos desses últimos 12, 18 meses, com muitas dificuldades. Temos muitas empresas com problema de dívida tributária, dívida de Refis.

 

As gráficas tiveram muitos calotes na última eleição de partidos e políticos?

Da campanha passada, até nós da Ibérica temos dinheiro a receber. Por isso há necessidade de se ter muita cautela. Acontece que o candidato começa a achar que vai ganhar e ele aposta, acredita, depois vem a realidade das urnas. De uns tempos para cá as coisas estão se modificando, há um maior controle. Mas, mesmo assim o sujeito perdeu a eleição, não paga e a Justiça não toma uma atitude.

 

Os empresários acabam arcando com o prejuízo?

Infelizmente sim. Mas não é esse o nosso maior problema. Um empresário compra uma impressora, faz uma atualização tecnológica com o dólar a R$ 1,50, passa para R$ 2, depois R$ 3,20 e agora o dólar vai R$ 4 e nós temos que pagar uma parcela intermediária da máquina. Acaba pagando duas máquinas e meia e o governo brasileiro, e todos os governos, não conseguem entender que máquina é a bigorna, é a ferramenta que nós temos para gerar riqueza. Nossa riqueza são os produtos manufaturados, as embalagens, tudo o que se faz dentro da indústria gráfica. Nosso estado está parado. A indústria gráfica está pujante, mas pouca coisa se fez em Minas Gerais.

 

A economia está parada?

Nós ficamos a vida inteira com esse erro do minério, minério, minério, só que o minério está acabando, nós não nos industrializamos e daqui a pouco não teremos nem mais minério. Minas ficou medieval. Há anos estamos falando isso, na Fiemg, no Sebrae. Além disso, temos incentivo apenas para poucas empresas.

 

A internet tem prejudicado o setor?

Estou lendo um livro da Amazon, que aborda a indústria gráfica em relação ao livro tangível e ao livro digital. O livro digital significa 2% aproximadamente das vendas, e 98% do que ela vende é de livro tangível. Nesse aspecto não afetou o nosso mercado e com as fake news, a notícia fica girando na internet sem data da notícia, nem de que ano ela é. A imprensa conservadora, tradicional, o jornal, vai ficar um longo período ainda em evidência, porque ele tem origem. O papel é a chancela, ele garante a reputação. Além disso, o papel vem de florestas renováveis, não é de destruição de floresta. O controle hoje é muito grande.

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