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Vanúsia Nogueira: O café e seus sabores

Conquistando cada vez mais consumidores ao redor do mundo, o café é consumido em praticamente todos os continentes. Em alguns países mais, em outros menos. A diretora-executiva da Organização Internacional de Café, Vanusia Nogueira (foto), disse que o consumo na China por exemplo, aumentou muito, mas não do café puro, mas de um produto misturado, como os cappuccinos em saché encontrados no Brasil.

O consumidor de café tem ficado mais exigente e está buscando os cafés gourmet e cafés mais puros. Isso é uma tendência?

Essa questão do buscar o café mais puro isso é meio relativo, porque, por exemplo, está aumentando muito o consumo na Ásia e o consumo na Ásia é muito claramente do que eles chamam de três em um. É o café misturado com leite, com açúcar, muito parecido com aqueles cappuccinos em saché vendidos aqui no Brasil. Isso está aumentando demais na Ásia e está elevando muito o consumo e é uma região e que nós temos um foco muito grande, como a OIC também, porque nós estamos falando de uma população muito grande. Uma elevação de consumo lá pode trazer um aumento de renda e possibilidades para a produção no mundo todo. O consumo deles é um consumo dessas bebidas, é um consumo do café solúvel, que melhorou muito a qualidade, inclusive aqui no Brasil. O aumento do consumo do café solúvel no Brasil deve-se muito a essa melhoria da qualidade e isso tudo vai ajudando de uma forma geral.

Qual a diferença dos cafés especiais dos gourmets?

Quando nós falamos do consumo dos cafés especiais, há uma diferença em relação aos gourmets, porque nem todo gourmet é especial, é um café bom, mas que não chega a ser fantástico. Para esses cafés mais fantásticos, isso segue sendo um mercado de nicho e isso depende de um poder aquisitivo mais elevado, depende de um acesso à informação mais sofisticada, assim como os vinhos de mais alta qualidade. É o mesmo raciocínio que se tem para os vinhos, para os queijos, para os presuntos, para os chocolates. Isso é um mercado de nicho. O que tá acontecendo no nível do café gourmet, desses cafés que são certificados de uma forma geral, aos poucos na medida em que a você tem um mercado um pouco mais maduro, a tendência é a de melhorar a qualidade. Essa é uma tendência de médio prazo. Sempre vai ter um mercado para um produto de mais baixa qualidade, que consequentemente é um produto mais barato e, com melhoria econômica, melhoria de poder aquisitivo, as pessoas vão buscando produtos com melhor qualidade. Tem mercado para tudo.

Se aumentar o consumo na China como está sendo é imaginado, o produtor brasileiro tem como atender esse mercado?

No caso da China, temos que pensar a China também como um país produtor. Eles produzem café e, na China você tem um governo muito forte, que leva as questões de produção de acordo com as suas tendências de mercado. Pode ser, não estou te afirmando, mas pode ser, por exemplo, que um aumento de consumo seja seguido ou venha com um aumento de produção em paralelo. A China pode aumentar muito a produção e consumir produtos locais, assim como existe uma questão bastante relevante a ser considerada, que são os países asiáticos qu têm uma série de acordos entre eles, inclusive, acordos tributários. A China pode consumir muito café produzido na Ásia, antes de vir a consumir muito café brasileiro. Hoje o maior produtor e o maior fornecedor de café para a China e que ainda consome muito pouco, é o Vietnã, que está ali colado. Isso tudo não é uma linha direta. A Ásia é bastante mais complexa de se trabalhar do que do que outros mercados. Temos essa questão de tarifas entre os países, os acordos de parceria entre eles. Tem outra questão que é bastante pesada para o caso brasileiro, que é a da logística. Nós estamos muito longe deles aqui no Brasil. A logística é cara. Não dá para a gente querer transladar para o mundo do café o que o Brasil faz com China em termos de grãos, porque nós temos concorrentes nossos lá coladinho. O fato deles terem decidido ter produção, para mim, sempre foi, desde a época que eu estava aqui no Brasil, sempre foi um sinal de alerta, porque eles podem vir a ser um outro Brasil: um grande um consumidor que também é um grande produtor.

É uma preocupação?

O Brasil tem feito muito bem o seu trabalho. Tem uma produção grande, devido aos níveis de produtividade, profissionalismo, tecnologia, empregados aqui no Brasil e por isso, nós conseguimos ter o produto não só o café, como o agro brasileiro, como um todo, extremamente competitivo. Não acredito que venha a ser uma ameaça para nós.

Em relação ao mercado brasileiro, o que é esperado?

Em termos de safra, o que todo mundo tem colocado para mim, aqui no Brasil, é que a safra deve ser no patamar de 20/20, que seria meio termo entre o que a Conab projetou e o que o mercado está projetando, que é o Brasil ter não só 51 milhões de sacas, ter um pouco mais, mas não chegar no patamar da safra recorde de sessenta e tantos milhões de sacas, que nós tivemos há alguns anos. O mercado de consumo no Brasil acredito, terá uma retomada agora, porque existe uma tendência nesse governo de uma preocupação muito grande com renda. Isso é um dos pontos mais caros para governos de esquerda, essa questão do acesso do pessoal de mais baixa renda a alimentos e produtos de mais alta qualidade. Nós já vimos isso acontecer no Brasil, e acreditamos que isso deve ter uma retomada agora. Essa é a expectativa que se tem por aqui, de todo o mercado de varejo. (Foto/divulgação)

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