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Não, acidente não foi

Não, não foi um acontecimento casual, fortuito, inesperado. Não se pode dizer, portanto, que foi um acidente. A morte de uma, duas centenas de pessoas, os números vão demorar a ser fechados, é o resultado da incompetência, do desprezo com pessoas e com a natureza, da irresponsabilidade gerencial e do conluio entre empresas e setor público, soma explosiva, estimulada pela impunidade em um país onde Judiciário e Legislativo são omissos e o Ministério Público é pirotécnico. O desastre provocado pela Vale, provocado sim, mesmo que se admita não ter ocorrido por um ato de vontade, é resultado da ganância, da busca do lucro a qualquer preço, nem que para isto se restrinja investimentos em segurança coletiva, de funcionários e comunidades situadas próximas às áreas de operações. Falo como leigo, mas rompimento de uma barragem, seja ela de qualquer porte, não ocorre sem sinais de risco anteriores. A não ser, claro, na ocorrência de algum fenômeno geológico, um terremoto, por exemplo. Vão surgir explicações. Muitas. A começar de quem assinou o laudo da Agência Nacional de Águas assegurando que a barragem que rompeu apresentava baixo risco. Mas o que é baixo risco? Não, o risco não era baixo, tanto que rompeu e matou muita gente. Que fossem poucos os mortos ou até nenhum morto. Não se mede uma irresponsabilidade ou a incompetência profissional de alguém pelo número de mortes que causa ou que deixa de evitar. Mede-se pela não ocorrência ou pela minimização de um fato pela prevenção, pelo diagnóstico prévio de um problema, no caso, estrutural. Senhores, sobrevoos, fisionomias compungidas, tapinhas nas costas de parentes de vítimas, pagamento de indenizações, nada, nada disto adianta depois da água e a lama varrerem tudo. Os culpados têm que ser caçados e punidos. E os culpados são os que estiveram ou estão no governo, os técnicos e executivos que tinham o dever profissional e ético de zelar pela segurança de todos. Sem esquecer a empresa, claro. Punir pelo que aconteceu. Punir para que não aconteça mais.

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