Qual o potencial de destruição política da nova bomba lançada pelo presidente Bolsonaro? Seu rompante populista de intervir na Petrobras, arrancando de lá Roberto Castello Branco para colocar um general, em nome de uma política de redução de preço dos combustíveis, e o anúncio de que outras demissões virão – na área elétrica ele promete “meter o dedo” – pode ter agradado a seus militantes talibãs, mas acendeu luz de alerta em outras áreas. Entre os empresários, segmento que foi fundamental para a sua eleição e sustentação até aqui, a repercussão pode ser medida pela fala do mineiro Salim Mattar, até pouco tempo secretário de Desestatização, que deixou o cargo de forma discreta, sem maiores comentários, mas que, desta vez, resolveu se posicionar, numa fala que parece representar o pensamento de muitos. Mattar criticou severamente o novo posicionamento do presidente e se mostrou decepcionado ao dizer que o discurso liberal de Bolsonaro era apenas uma fala de campanha. Ele se mostra descrente quanto a uma agenda de privatizações e definiu o comportamento do presidente na demissão de Castello Branco como truculento e deselegante. Certamente o posicionamento de Mattar não é solitário, mesmo que ele tenha falado no próprio nome, sem se posicionar como representante de um grupo. Bolsonaro precisa estar atento a isto. Seus atos, ou desatinos, vão minando sua base de apoio, forte no meio empresarial, que foi um dos pilares de sua eleição. Para muitos, a sucessão de crises é uma estratégia do presidente para esconder o fracasso de seu governo em praticamente todos os campos. Fracasso potencializado com a pandemia que puxou para baixo uma economia que já se mostrava cambaleante. Esta semana vamos assistir o desdobramento desta nova crise no governo que começa na economia, onde o antigo Posto Ipiranga, o homem que sabia tudo, está absolutamente perdido, mantendo-se no cargo apenas por sua posição servil e por pura vaidade. A fragilidade da posição de Guedes no governo deve se acentuar com o sinalizado afastamento do empresariado da base de apoio de Bolsonaro. A sorte do presidente é que não se visualiza uma liderança capaz de capitalizar seus desacertos, frutos de despreparo ou do afloramento da tendência populista e totalitária dos governantes latinos. A oposição não consegue sentar-se à mesa para uma discussão séria visando a articulação de uma candidatura com credibilidade. O PT, ao insistir em Lula, presta um serviço a Bolsonaro, impedindo negociações sérias. E no espaço vago surgem alternativas que em outros tempos seriam consideradas ridículas, tal o despreparo dos nomes apresentados. O beneficiário desta desarticulação continua sendo o presidente que, no entanto, precisa começar a se preocupar com a possibilidade de ter que enfrentar um nome articulado pelo empresariado. Alguém sem o radicalismo dos super liberais, com compromissos sociais também sem radicalismo. Enfim, alguém que não seja carimbado. E há gente com este perfil que não fugiria da responsabilidade de uma disputa política. Prestem atenção: o palanque de 2022 começa a ganhar novos contornos.