Blog do PCO

A crise não abala o setor de franquias

Paulo César de Oliveira
COMPARTILHE

As franquias se expandem em praticamente todas as regiões do país e é um investimento que tem sido procurado, nesse momento de crise, principalmente pelos que perderam seus empregos? Mas como escolher o negócio certo? Como saber se esse é o momento de investir? As franquias em Minas Gerais tiveram um crescimento de 13,7% no primeiro semestre deste ano, chegando a 12.480 pontos de venda. O faturamento no período foi de 5 bilhões de reais. Para o diretor de Inteligência e Mercado da Associação Brasileira de Franchising, Claudio Tieghi (foto), esse é um setor que cresce nos momentos de crise. Ele fala como escolher uma franquia.

 

É mais fácil manter uma franquia do que montar uma empresa, por isso esse segmento se mantém mesmo com a crise?

Os negócios que tem maior procura nos períodos de crise são os negócios com até R$ 300 mil de investimento inicial e também as chamadas “micro franquias”, cujo investimento total inicial está na ordem de R$ 80 mil reais. Nesse cenário, negócios que tem apresentado maior crescimento são os serviços automotivos, que não são concessionárias e sim oficinas de reparo e manutenção de veículos, porque com a retração das vendas dos carros zero, há um número grande dessa frota de seminovos e, muitas vezes o proprietário não se dispõe a ir a uma concessionária, pois, além da questão do preço e a proximidade. Outro segmento que vem apresentando crescimento nos últimos 24 meses é o segmento que chamamos de esporte, saúde, beleza e lazer. Todos os itens ligados à qualidade de vida e ligados a cremes, shampoos, toda essa parte cosmética, mais a parte de esporte e também lazer, viagens, turismo. Esse segmento, assim como alimentação mais saudável, vem com uma grande força a partir de 2014 e 2015, quando o Brasil teve efetivamente uma melhora na economia, acumulada até 2013, e com isto tivemos novos entrantes no consumo. E o ticket médio da franchising cabe no bolso do consumidor mesmo na crise, pois ele tem a capacidade de entregar produtos e serviços de qualidade com bom preço e bom atendimento. Os brasileiros, com os novos consumidores, também tiveram acesso a uma série de elementos de consumo ligados a bem estar, como alimentação, viagens, cosméticos, a parte de odontologia, enfim, tudo aquilo que contribui para o bem estar do cidadão. Esses segmentos apresentaram um crescimento muito grande e ainda vem apresentando, pois, uma vez que as pessoas passaram a ter acesso a essa gama de produtos e serviços, ela não quer abrir mão deles. A pessoa pode fazer compras esparsas, mudar a marca, mas ela não abre mão desse bem estar.

 

Mas como sobreviver em uma crise profunda como a que vivemos no Brasil, existe uma fórmula?

Vou usar uma referência de fechamento de loja: nós temos um índice de fechamento na ordem de 4,4%. Quando comparamos os indicativos do Sebrae do número de negócios fechados após 12 meses de funcionamento, que pode chegar, dependendo da região do país a 60%, nós percebemos que em uma situação de crise ao se abrir uma franquia – e isto não quer dizer que não haja riscos, todo negócio envolver riscos- a experiência acumulada, a capacidade que a rede tem de entregar produtos e serviços de qualidade, toda parte de comunicação em redes sociais, a estratégia de marketing, a estratégia de produto, treinamento de gestão, treinamento de equipe de atendimento- as empresas de franquia revisam o desempenho das unidades quase que diariamente- fazem com que, mesmo na crise, seja possível empreender reduzindo riscos, pois uma série de custos, experiências e outros ritos são compartilhados. Sendo compartilhado com o franqueador e com a rede, o franqueado tem uma série de custos que são otimizados e ele sai na frente, porque está sendo orientado para desenvolver um negócio que já foi testado.

 

Que regiões no país tem melhor desempenho?

O Brasil tem atualmente 148 mil unidades de franquia em todos os estados da federação. Todas as regiões apresentam um bom desempenho, mas nós temos observado a região nordeste e também a norte ainda com uma tendência forte de crescimento, mesmo em meio a crise. Não falo só em termos de faturamento, como também na expansão, a abertura de novas unidades. No estado de Minas, por exemplo, nós temos um programa de parceria com o Sebrae, que seleciona empreendedores que já tem um negócio e os prepara para tornarem aquele negócio uma rede de franquias. O programa chama “Minas franquias” e nós já tivemos mais de 40 marcas lançadas no mercado com base nesse programa que acontece anualmente.

 

Com o consumidor cada vez mais voltado para a internet, para o e-commerce como as franquias tendem a se adequar a essa nova realidade de consumo?

O que nós temos é há uma modalidade de franquia, operada em casa, que é uma estrutura virtual, serviços de internet, comercialização de seguros em geral são oferecidos pela internet. A opção de comprar pela internet em relação a loja física, como o franqueado mantém o faturamento sendo que a marca pode ter um site para vender? O segredo do sucesso do e-commerce no franchising está justamente no conectar a localidade do consumidor à unidade franqueada daquela região. Os negócios e-commerce em franquia, de alguma forma, passam pela unidade franqueada, seja para a entrega, seja para faturamento. Quando você gera um franqueado naquela região, é um caminho de mão dupla. Você pode por estratégia de comunicação, levar o consumidor à loja para consumir ou pode comercializar virtualmente, remunerando aquele franqueado, independente dele ter feito alguma coisa, mas vinculando-o ao pós venda e a outros processos de envolvimento do consumidor daquela região com a marca, e nesse caso, pode ser física ou virtual.

 

Para a pessoa que está desempregada que pretende abrir uma franquia, como é o processo?

A primeira questão é: tente imaginar um segmento de atuação com que você se identifica. Franquia é um negócio que vai depender muito do seu envolvimento, da sua paixão por aquele negócio. Valores, propósitos e princípios da marca têm que estar em sintonia com você. Mas o primeiro passo é: o que eu gosto de fazer e o que eu gostaria de fazer? Não se pode iniciar o pensamento dizendo “compra essa franquia porque ela dá mais lucro do que aquela outra de outro segmento”. Não. A pessoa deve buscar a atividade com a qual se identifica e que ela acredita que se realizará pessoalmente profissionalmente e financeiramente. O desafio é o de pensar em um segmento. Uma vez pensado o segmento, é importante que a pessoa estude sobre franquia, estude sobre algumas marcas e participe de processos de seleção. Muitas vezes a pessoa não se aproxima das marcas porque pensa “ah eu não tenho certeza”. Na realidade o que ela precisa é se expor ao processo seletivo. Por um lado ela vai analisar se quer comprar aquela marca de franquia e, por outro lado, a franqueadora também estará analisando se aquela pessoa tem o perfil ideal para fazer parte da rede. Eu recomendo que a pessoa passe por pelo menos três processos seletivos de marcas diferentes, porque isso a ajuda a ampliar o repertório, o entendimento sobre aquele segmento e vai poder identificar se a pratica de todo mundo é igual ou não, se é melhor ter essa marca do que aquela Aí entra uma questão de afinidade de modelo de negócio e alinhamento. A ABF oferece jogos e aplicativos para a pessoa simular a gestão de franquia, escolher uma franquia e que ajuda a entender esse universo e se aproximar desse universo. Ninguém pode vender franquia no país sem seguir as regras da lei federal de franquia. Existe uma regulamentação que vai além do contrato, que pressupõe visita a outros franqueados e se existe um plano de negócios para aquela região. Há todo um respaldo do ponto de vista legal para a abertura de uma unidade de franquia.

 

Como surgiu essa ideia das franquias?

Quando terminou a 2ª guerra mundial, não havia emprego para todo mundo. E os empresários não tinham como investir em novos negócios. Com isso começaram a pactuar contratos de franquia com os ex combatentes, que tinham algum dinheiro guardado e foi aí que esse sistema ganhou força. Os Estados Unidos têm, até hoje, um plano de franquia para ex combatentes. No Brasil a franchising chega no final dos anos 1950 para 60, mas ganha mais expressão no fim da década de 1980 para 90- na mesma época da criação da ABF, que completa 30 anos no ano que vem-, e ganha força em uma situação muito paradoxal, num período de constantes mudanças na economia, de moedas e na época da hiperinflação. Ao ganhar expressão no Brasil em um período tão difícil, esse sistema se consolidando e se tornou forte. Por isso que em uma crise como essa, nós ainda registramos crescimento. Nós temos uma indústria de franquia amadurecida no país e ela figura entre as maiores e melhores do mundo. É um sistema que veio de fora, mas que se tornou modelo de exportação. Cerca de 10 marcas genuinamente brasileiras estão presentes ou estão exportando ou operando em todos os continentes.

COMPARTILHE

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

News do PCO

Preencha seus dados e receba nossa news diariamente pelo seu e-mail.