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Cachaça ganha mercado e espaço em mesas sofisticadas

Se antes era tratada como uma bebida a ser consumida nos bares e botequins, a cachaça ganhou nova roupagem e conteúdo. Tornou-se um destilado mais refinado, aprimorado nos alambiques com seus equipamentos cada vez mais modernos e sofisticados. A sua produção aumentou, hoje movimenta R$ 7,5 bilhões ao ano e mantém uma pequena parcela do mercado mundial. O presidente da Expocachaça e da Brasil Bier, José Lúcio Mendes Ferreira (foto), acredita que, ao contrário de outros destilados, a cachaça tem ainda muito espaço para ganhar no exterior.

 

A produção de cachaça foi profissionalizada, se desenvolveu e cresceu. Como está o mercado para a cachaça no Brasil e no exterior?

Hoje o setor de bebidas destiladas movimenta R$ 51 bilhões por ano no Brasil. Nesse universo temos a cerveja e outras bebidas. A cachaça movimenta R$ 7,5 bilhões por ano e nesse valor está incluída a cadeia produtiva como um todo. A cachaça, entre os destilados consumidos no Brasil, representa 86% dos destilados comercializados e consumidos anualmente. É o market share, o restante diz respeito a whisky, vodka, vinho, run e outras bebidas alcóolicas. Nós hoje produzimos na faixa de 1,4 bilhão 1,3 bilhão de litros/ano e exportamos de 0,5% a 1% do que produzimos.  Não saímos desse patamar de 1%. O que está acontecendo hoje no mundo, é que nós estamos vivendo dois momentos: um que é uma tendência mundial da premiunização da bebida. As bebidas premium e a cachaça se encaixam perfeitamente. Não a cachaça que é exportada, que é a de coluna, a branca, de menor valor agregado e sim a de alambique, envelhecida e que tem valor agregado. O mercado internacional caminha junto com uma outra onda, que é da bebida craft, que é a bebida artesanal. Esse movimento está carregando junto o whisky, o vinho e outras bebidas das pequenas destilarias espalhadas pelos Estados Unidos, atingindo também as pequenas cervejarias. Esse movimento está também na Escócia, Irlanda e alguns países da Europa. Esses dois movimentos estão ajudando a alavancar a cachaça de alambique no mercado internacional. A cachaça, há muito tempo, é uma bebida craft, mas não é, como erroneamente tem sido falado, uma produção de fundo de quintal. O artesanal significa o modo de fazer a bebida, o local.  Nos Estados Unidos são pequenas destilarias, com garrafas muito bem feitas, rótulos muito bem elaborados. É a valorização da bebida que é feita com cuidados especiais, destinada a uma clientela que está disposta a pagar mais por um produto melhor.

 

A cachaça ainda sofre preconceito, inclusive devido a esta ideia de que ela é feita no fundo do quintal?

O fundo do quintal não existe para a cachaça. O que é mais fundo de quintal do que uma cerveja feita na panela, em uma residência?   Esse é o embrião das futuras cervejas que vão entrar no mercado. Eles têm que ser valorizados. A cachaça não pode ser trabalhada dessa forma. Qualquer coisa que esteja ligada a alimentação e bebida, tem que ser feita com muita higiene. Quando não é feita com muita higiene, não se consegue produzir. Existe um grau de informalidade no setor de cachaça? Existe. Só que a informalidade está na faixa 10 a 20 mil litros. Existem muitos produzindo menos e um menor volume produzindo mais. Os menores produzem menos e muitos deles trabalham para outras destilarias. No mundo inteiro, todas as bebidas que surgiram no mercado mundial, como whisky, a vodka, começaram escondidas, feitas no fundo do mato, sem muita higiene, correndo da polícia. Com o tempo, o setor foi se organizando, começou o processo de fiscalização, começou o processo de formalização do produto, ganhando qualidade e crescendo a sua presença no mercado. Antigamente, por exemplo, não se via uma garrafa de cachaça em cima da mesa de um restaurante sofisticado, porque as pessoas olhavam espantadas quando viam uma garrafa da bebida, com expressões “olha lá o cachaceiro”. Hoje tem-se garrafas belíssimas de cachaça, que custam muito mais do que alguns whiskys que são servidos nos restaurantes, são colocadas nas mesas e nas cartas de cachaças, como a coisa mais normal do mundo. Mudou muito a visão de lá para cá. De 1998 para cá, o mercado mudou completamente. Mudaram as embalagens, os equipamentos, que hoje são muito mais sofisticados. O processo produtivo é muito mais cuidadoso, o controle é muito mais rígido, a fiscalização é feita pela Secretaria de Agricultura, pelo IMA que estão formando 40 fiscais, e o cenário é totalmente diferente.

 

Era a época em que se dizia que a pessoa ficava bêbado igual a um gambá, que bebia a cachaça no alambique?

Isso é conversa fiada, do folclore. A cachaça fica armazenada. O que existia antigamente era muito mito em relação a produção, que não correspondem à realidade. Já teve gente que falou que para a cachaça ficar boa tinha que colocar placenta de bezerro. Isso é idiotice, nunca foi feito isso. Se fizer isso contamina a bebida e nãos e consegue produzir nada. Muita coisa vem da ignorância e do folclore.

 

O setor tem um grande evento, que é a Expocachaça…

Nós fazemos o evento de 6 a 9 de junho, no Expominas, que nesse ano completa a 29ª edição do Expocachaça e a 13ª Brasil Bier. Esse evento já tem 22 anos, nós fizemos durante um tempo em São Paulo e esta é a maior feira do setor. Ela reúne toda a cadeia produtiva do setor de cachaça, com 20 estados produtores participando e trazendo seus produtos. Nós temos toda a cadeia produtiva, com equipamentos, insumos e serviços. A feira é o retrato do desenvolvimento do setor ao longo dos anos, de como o setor está se organizando. Todas as bebidas destiladas no mercado mundial já tiveram o seu boom. Hoje elas não têm condições de ocupar mais espaço de mercado, elas estão mantendo o mercado ou perdendo espaço. A única bebida que tem condições de explodir no mercado internacional é a cachaça, mas a feira também tem espaço para a cerveja artesanal.

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