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Blog do PCO

A esperança do brasileiro

É da arte de Paulo Pontes, com Clara Nunes e Paulo Gracindo, na década de 1970, que podemos tirar a definição do estado de espírito do brasileiro hoje: brasileiro, profissão esperança. Como em outras situações – com Jânio, com o golpe de 64, Tancredo, Collor e Lula, só para ficar em alguns exemplos – vivemos a euforia da esperança de que tudo, dali para frente, seria bem diferente. Até que começou diferente – exceto com Tancredo que nem começou – mas depois, devagar, ficou “mais do mesmo”, até atingirmos a desilusão. Agora, com Bolsonaro – ou seria mais com Guedes? – estamos de volta ao estado de esperança. Em alguns empresários o nível é de euforia. O enfrentamento direto de questões que ao longo dos últimos anos foram tratadas sim, mas de maneira acanhada, como a reforma da Previdência, já mais avançada, e a tributária, nos primeiros passos, além da guinada ideológica, dão aos esperançosos, a certeza de que agora haverá um voo maior do que o da galinha na economia. Não se sabe ainda se do condor ou do pombo, mas, certamente, mais sustentável do que os anteriores. Muito bom que as expectativas positivas não sejam apenas do mundo empresarial. Criou-se um ambiente tal que a sociedade assumiu este sentimento, com reflexos diretos no meio político. Prova disto é a aprovação em primeiro turno, com facilidade, de uma reforma que sempre foi um tabu e que assustava a todos. A postura da sociedade desnorteou o discurso da esquerda que não conseguiu mobilizações significativas contra a reformas – a situação também não- facilitando sua tramitação. Este quase imobilismo das esquerdas, segundo o cientista político Malcon Camargo (foto), se explica por uma mudança de pauta dos que sofrem com a crise econômica e dos que temem engrossar a estatística dos desempregados e sem renda. Estes deixaram a utopia do coletivo e adotaram uma pauta mais individual. Querem a solução de seus problemas individuais, sem maiores preocupações coletivas. Isto, em princípio, pode ser bom. O risco é a demora na melhoria econômica, fato que já começa ser admitido até por membros do governo, que poderá trazer desesperança e flerte com populistas. Isto explica a atuação das milícias do governo e sua radicalização nos discursos contra opositores. Pode funcionar ou não. E um dos fatores que pode retardar o crescimento econômico, trazendo dificuldades políticas, é a crise internacional que se desenha, provocada pelo conflito estimulado pelo presidente americano, Donald Trump, contra a China. Trump, em indisfarçável campanha pela reeleição, exacerba o discurso nacionalista, causando tensionamento no mercado internacional, com maiores reflexos, evidentemente nas economias mais fracas. Há que se considerar ainda a inércia dos governadores – talvez João Doria, de São Paulo, seja uma exceção- mais preocupados com lamentações do que com ações efetivas de alavancagem da economia. como um ponto negativo no esforço de retomada do desenvolvimento. Nesta hora, é bom ouvir o que diz o ex presidente Fernando Henrique, em artigo publicado neste final de semana: não basta a boa economia. É preciso o bom governo e a boa sociedade. Teremos tudo isto?

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