Pode ser até pelo mar político revolto e turvado por causa do coronavírus, mas a sensação que o presidente Bolsonaro passa é a de alguém que procura, a qualquer custo, manter sua autoridade. Seus atos têm sido de tal forma contrários ao senso comum que, para não falarmos em desvarios, preferimos enxergar como uma reação a uma perda de autoridade. Ao responder a uma colocação de seu vice, General Mourão (foto), que defendeu o isolamento social como uma política de governo, Bolsonaro fez questão de afirmar “mas o presidente sou eu”. Qual a necessidade de reafirmação de poder? Ninguém questionara o fato de ser ele o presidente, aquele que carrega a faixa. Ontem Bolsonaro deu outra mostra de que algo o incomoda, o faz sentir a necessidade de se postar como dono do poder. Ao ir à ruas de Brasília para visitar estabelecimentos comerciais de atividades essenciais em funcionamento, e admitir que poderá editar decreto acabando com o isolamento, buscou o confronto com governadores e até mesmo com membros de sua equipe de saúde. Quer demonstrar que tem poderes para impor seu pensamento, contrário ao da imensa maioria dos governantes de outros países, embora próximo de seu grande líder, Donald Trump. Não será assim que conseguirá. Se não mudar, terá sempre sua autoridade contestada com base no bom senso e na verdade científica. O presidente e os que falam aos seus ouvidos precisam ter consciência de que em tempos de crise e comoção, não adianta ter autoridade. É preciso ser líder. Não adianta ser mito, é preciso ser realidade. Bolsonaro está de todo errado em suas pregações e defesas? Não, é preciso sim pensar na economia para salvar vidas também. Mas não se deve fazer nada de afogadilho. Ouvir as pessoas, agir com prudência, não como líder de grupo que procura fazer valer, não propriamente as suas opiniões, mas os interesses do grupo, usando uma suposta força ou autoridade. Lembrando que a cada ação corresponde uma reação igual e contrária. Não é disto que o país precisa agora.
