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Ciro: próximo presidente terá que ser claro em suas propostas e propor reformas nos primeiros seis meses de governo

O pré-candidato à presidência da República pelo PDT, Ciro Gomes(foto), acredita que as eleições deste ano têm muitas semelhanças com a que elegeu o ex-presidente Fernando Collor de Mello. Na época, os partidos e políticos estavam desacreditados e existia um número exorbitante de candidatos. Collor foi para o segundo turno com Lula com pouco mais de 16% dos votos. O que aconteceu depois está registrado nos livros de história. Esse temor foi um dos temas discutido por Ciro no almoço-palestra do Conexão Empresarial, evento promovido pela VB Comunicação. Com esse quadro eleitoral, o ex- governador do Ceará e ex – ministro do governo Lula prevê dificuldades para o candidato que vencer as eleições para votar as matérias que o país precisa para retomar o crescimento econômico.

 

Com tantos partidos colocando candidaturas à presidência, que cenário eleitoral está se desenhando?

Está se consumando aquilo que eu supunha. O Brasil vai viver, porque isso significa que estamos em um fim de ciclo, uma eleição, que se pudermos comparar com alguma, semelhante a de 1989. As grandes estruturas partidárias estavam desmoralizadas, à época era o PFL e o PMDB, e a população procurando construir um caminho ainda sob influência de lideranças importantes. Naquela data, afloraram quatro nomes e qualquer um deles poderia ter ido ao segundo turno, porque foi uma diferença minúscula: Collor e Lula, Brizola e Covas e mais um batalhão para trás.

 

Como votar o que é necessário para o país, inclusive as reformas, nesse quadro político?

O que nós precisamos fazer para atenuar a lógica de impasse entre o parlamento, que é presa dos lobbies e dos grupos de pressão e um presidente reformista, são quatro providências: a primeira é a de propor, antes de assumir, evitando o risco de sair do caudilhismo do deixa que eu chuto, as ideias antes para que a população aprenda e consiga entender onde entra o interesse dela em jogo, e quem defende o que para sair dessa mistificação de que essa empulhação é a regra. Segundo, propor na primeira hora, pois 100% dos presidentes brasileiros, do General Dutra para cá, se elegeram com minoria no Congresso Nacional. E 100% deles tiveram praticamente poderes imperiais nos seis primeiros meses a um ano. Portanto, o tempo da reforma é crítico. Tem que se propor aquilo que foi propalado na campanha, nos seis primeiros meses. Terceiro, fazer uma grande negociação de atacado, que envolve a lógica dos partidos, a lógica dos verdadeiros vetores de poder no país como as igrejas, os intelectuais, os acadêmicos, os cientistas, os empresários, os trabalhadores, mas aqui, o grande desenho, que é o lado bom da tragédia, é fazer a reforma fiscal no mesmo passo do redesenho do pacto federativo. Veja o que está acontecendo em Minas Gerais. Não é razoável. O Palácio da Liberdade virou uma usina de destruição de lideranças. Assim é no Palácio de Piratini, no Rio Grande do Sul, o Laranjeiras, no Rio de Janeiro e isso por que? Porque a federação está quebrada. E essa engenharia que o conservadorismo impôs não tem saída. Minas Gerais vai continuar picando salário dos servidores, o Rio Grande do Sul vai continuar transferindo 13% da receita corrente líquida para a União, para quem isto é um tostão. Na minha opinião, tudo isto foi montado de propósito para enfraquecer a federação e permitir o monopólio de poder do PSDB e do PT de São Paulo. E por fim, persistindo nesse impasse, com o apoio do Congresso, convocar à população diretamente por plebiscitos e referendos só para as reformas.

 

O pacto federativo está sempre na pauta, mas nenhum presidente conseguiu mudar as regras.

Nenhum presidente porque eu não fui lá, ainda. Fui prefeito, fui governador, fui ministro, sei bem onde mexer. Minas está levando 13% da sua receita para a União. Eu penso em criar um sistema tributário mais progressivo, que tributa heranças e doações, e que seja federalizado, ampliando a alíquota só sobre os ricos, deixando a classe média de fora porque ela não tem mais nada para dar, porque está muito esfolada. E tudo isso, partilhado com estados e municípios. Criar uma CPMF e partilhar com estados e municípios, criar um tributo sobre lucros e dividendos que só não é cobrado no Brasil e na Estônia, repartindo com estados e municípios. Em dois, três anos, viramos o jogo. O mais importante é que com esse desenho você vira as expectativas e aí, você libera o aval. Qual o sentido de para Minas Gerais pedir um crédito ao Banco Mundial, a União tem que dar o aval e para dar o aval fica com uma procuração de Minas Gerais para reter o Fundo de Participação dos Estados, portanto, é um recebível à vista e na loucura que o senhor Fernando Henrique impôs e que o PT manteve, esse recebível à vista é contabilizado a tempo presente contra Minas Gerais.

 

O senhor tem criticado alguns atos do Judiciário. O que está errado?

Tem coisas práticas, como por exemplo, um ministro do Supremo solta uma liminar proibindo um presidente da República de nomear um ministro é uma impertinência constitucional que não tem que ser obedecida. Simples assim. O controle difuso da Constituição é tarefa de todos, tanto mais, do presidente da República.

 

A operação Lava Jato tem cumprido o seu papel?

Pesando e medindo é uma coisa boa, porque o grande mal no Brasil é a desconfiança da população na sua estrutura judicial. A sensação do povo brasileiro por média, e é a minha também, é a de que a lei é para ladrão de galinha, é só pra jovem da periferia, enquanto o baronato brasileiro circula impunemente, com coisas absolutamente chocantes. A Lava Jato parece um contraponto objetivo, concreto para isto. Mas volto a dizer que nunca vi juiz de gravata borboleta todo dia recebendo homenagem aqui e no estrangeiro. Não tem perigo de eu ir fazer uma palestra- sou político, acadêmico-, no estrangeiro e não ter um deles lá. Não tem ninguém para descontar o dia deles não?

 

Falam muito da possibilidade de o vice do senhor ser de Minas Gerais. Como estão essas negociações?

Cogitação de vice é uma justa especulação da imprensa e dos políticos. Não vamos antecipar o futuro e isso faz com que muitas vezes, principalmente os jornalistas, atropelem o amadurecimento dos fatos. Nesse momento, ninguém está aliado com ninguém. É um momento meio solitário para cada um dos partidos e para as candidaturas. Tenho feito a comparação de que eles se comportam como os carros de Fórmula 1, quando eles não estão competindo com ninguém e entram na pista sozinhos, rodam na pista, veem a dinâmica das curvas, ajusta a marcha, ajusta a suspensão, escolhe o pneu para no treino de sábado, se estar em uma boa posição no grid de largada para ir, então, fazer jogo de equipe. Essa travessia agora é solitária. O PC do B, que a vida inteira foi aliado automático do PT, hoje tem candidato.

 

Na onda das especulações, falam, inclusive de o PT indicar o seu vice. Essa conversa existe

Para ser delicado, e eu sou obrigado a ser delicado, o Lula não é uma pessoa que eu conheço pela televisão, pelos jornais. O Lula é um velho camarada de quem eu discordo e com quem concordo ao longo dos últimos 30 anos. Já nos enfrentamos, já nos apoiamos. Eu mais a ele do que ele a mim, ou só eu a ele, mas nos últimos 16 anos que ele ascende ao poder, eu o apoiei todos os 16 anos, sem faltar nenhum dia. O Ceará é o único estado brasileiro que deu dois terços dos votos contra o impeachment. Não estou arrependido de nada. Mas isso também me permite, de um lado, ser solidário neste momento que o PT está passando, especialmente o Lula. Não é solidário politicamente, é solidário no plano humano, no plano cristão, pessoal. Não sei como alguém pode soltar foguete porque um ex-presidente da República, que deu a vida ao país, acertando ou errando, gostando ou não dele, está preso. Um camarada que abandonou a vida pessoal, projetou o país com dignidade lá fora, e de repente a gente ficar feliz de que ele seja culpado. Parece que o Brasil viveu um período meio doentio, de falta de solidariedade humana. Evidente que o PT ajuda muito nisso, mas sou solidário do ponto de vista humano e vou respeitar esse tempo. Do ponto de vista político, o que o PT está dizendo? É que o PT tem candidato e esse candidato se chama Lula. Se eu acredito nisso? De jeito nenhum. Pelo que eles estão dizendo, eles não vão me apoiar.

 

Como o senhor vai organizar os palanques nos estados, nesta que será uma eleição com pouco dinheiro e muita discussão na internet?

Pouco dinheiro para quem tem pouco, como eu. A opinião pública brasileira vai tomar um grande susto quando conhecer a minha estrutura. Como eu sou do ramo, sou profissional, sei que o que interessa neste momento não é essa especulação de bastidor, de pesquisa, nem coisa nenhuma. É você organizar a sua estrutura para que você tenha, somado com seu perfil, com a legitimidade da sua proposta, com a capacidade de demonstrar com a sua biografia, pelo exemplo, não pela retórica, que você enfrenta a corrupção porque você já teve oportunidade de nunca responder, como é o meu caso, com 38 anos de vida pública nunca respondi nenhum inquérito, sequer para ser absolvido. Apresento meu currículo com experiência de ex-prefeito de capital com muito êxito, governador de estado com muito êxito. No Brasil está ficando assim, o camarada nunca administrou um boteco dos pequenos e quer ter como primeira experiência a presidência da República. Nós já vimos mais ou menos onde isso dá, recentemente. Claro que, quem manda é o povo e eu sou um escravo do povo. EStive, inclusive para largar a política, voltei porque considero a minha obrigação moral. O PDT tem hoje 11 candidatos a governador, seis dos quais favoritos.

 

Em Minas Gerais, como fica?

Aqui estamos conversando com Marcio Lacerda. Todos sabem da minha relação com o Marcio. Mas na medida que o PSB lança um candidato à presidência isso impõe a nós uma dificuldade, porque é preciso que haja expressão em Minas Gerais, que é o estado politicamente mais importante do Brasil. Mas tenho esperança de que essas coisas possam amadurecer na nossa direção. O Marcio está pronto para qualquer tarefa, pela seriedade, exemplo, pela bela administração que fez, pela coragem. Por todos os atributos. Mas o que ele deseja ser é governador de Minas. Se não for viabilizada essa dobradinha, o PDT pode lançar outro nome. Nós temos até julho. Temos muito tempo para amadurecer essas coisas. Já estava bastante avançado o apoio do Mario Heringer, símbolo da nossa militância, dedicadíssimo, que se sacrifica para me ajudar, e já o coloquei de sobreaviso e se as coisas não forem a contento, ele vai cumprir uma tarefa. E não é a tarefa de me ajudar, é a tarefa de governar Minas.

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