O governo do presidente Lula (foto) chegou ontem aos 100 primeiros dias sem cumprir as principais promessas de campanha na economia e ainda marcou o início da gestão atacando reformas recentes, como o Marco Legal do Saneamento e a autonomia do Banco Central, além da política de preços da Petrobras. O arcabouço fiscal, regra que substituirá o teto de gastos, pode, ou não, ser apresentado ao Congresso nesta semana, mas ainda não há um texto finalizado. Além disso, as medidas necessárias para aumentar a arrecadação e sustentar a nova âncora ficarão para o segundo semestre, aumentando as incertezas sobre a intenção de zerar o déficit público em 2024. Na lista de grandes projetos, o governo abriu mão de encaminhar uma nova reforma tributária, proposta que será encabeçada pelos parlamentares a partir dos textos que já estão no Congresso e que ainda não tem apoio para ser aprovada. Entre as medidas populares, o governo não aumentou a isenção do Imposto de Renda e ainda não fez a correção na tabela, como prometeu. Lula havia prometido isentar quem recebe até R$ 5 mil mensais. Agora, o Executivo fala em fazer a mudança de forma gradual, estabelecendo a isenção para quem recebe até R$ 2.640 a partir de maio.
Brincando com o país
Mais uma vez, o presidente Lula criticou o presidente do Banco Central ao falar ontem que o Banco Central está “brincando com o país” ao manter a taxa de juros em 13,75%. A crítica foi durante o balanço dos seus 100 dias de governo. Segundo o petista, “eu continuo achando que 13,75% é muito alta para a taxa de juros, continua achando que estão brincando com o país, sobretudo com o povo pobre e com os empresários que querem investir. Só não vê quem não quer”.
Elogios a FHC
Em tom provocativo, Lula elogiou o ex-presidente Fernando Henrique Cardosos, que passou a faixa presidencial no primeiro mandato do petista e criticou o ex-presidente Jair Bolsonaro, que deixou o país antes da sua posse. Em sua fala para ministros e principais colaboradores, Lula disse que “da outra vez eu recebi o governo de um presidente democrata, um companheiro que tinha uma história de luta neste país, pela democracia, pelos direitos humanos, que tinha sobretudo uma marca de civilidade que o ex que estou substituindo agora não tem. Foi muito leve e não sei se nós discutimos os 100 dias naquela ocasião. Hoje, ainda não tenho uma cadeira de presidente para sentar”.
Invasão em Brasília
Para Lula a invasão dos Três Poderes no dia 8 de janeiro “foi um gesto que vai marcar nosso mandato, porque não foi um gesto qualquer, foi uma tentativa de golpe, feita com a maior desfaçatez, por um grupo de reacionárias, de fascistas, de extrema-direita, que não queria deixar o poder, que não queria aceitar o resultado eleitoral. Sobretudo depois de bilhões e bilhões do orçamento que foram utilizados na perspectiva de ganhar as eleições. Se juntar todos os presidentes da república, a soma de todas as candidaturas não gastaram o que esse cidadão gastou na perspectiva de perpetuar o fascismo no país.”
Lulismo ultrapassado
Desde o início da campanha eleitoral, Lula tem batido forte nas privatizações – uma postura que infelizmente não mudou depois que o candidato virou presidente. Ele tem atacado a privatização da Eletrobras, que chamou até de “crime de lesa-pátria” – mandou parar todos os processos de venda de ativos da Petrobras, e retirou os Correios e outras seis estatais do programa de privatizações. Tudo para defender um Estado grande que presta péssimos serviços enquanto cobra uma carga de impostos desproporcional. Essa visão de mundo do presidente, no entanto, está perdendo tração na opinião pública. Uma pesquisa do Datafolha publicada ontem mostra que o apoio do brasileiro às privatizações subiu 12 pontos percentuais em comparação a setembro do ano passado. A taxa de aprovação é a maior da série histórica do Datafolha desde pelo menos 2017, quando apenas 20% da população era a favor da privatização. Parece que quanto mais Lula faz um discurso estatista, mais as pessoas mudam de opinião. (Foto/reprodução internet)