Sem tropa para cobrir os inúmeros flancos que abriu na guerra política, o governo Dilma ainda abre outros. Ontem foi a vez dos delegados da Polícia Federal se posicionarem diante do que consideram uma ameaça ao trabalho policial e ao prosseguimento das apurações da Operação Lava Jato e de outras operações que investigam corrupção no Governo Federal. A ameaça do novo ministro da Justiça, Eugênio Aragão (foto), de mudar toda a equipe de investigações caso sinta “cheiro” de vazamento de informações – não há necessidade de provas, basta que ele sinta cheiro- irritou os delegados que, através de sua Associação Nacional dos Delegados (ADPF), consideraram a afirmação do ministro, em entrevista ao jornal Folha de São Paulo, uma interferência nas investigações. Aragão já foi acusado pela própria PF de, como Procurador da República, ter tentado influir nas apurações do mensalão. Além de bater de frente com os policiais, o ministro provocou o Judiciário e o Ministério Público afirmando, na entrevista, que considera uma chantagem a forma pela qual a força tarefa vem conseguindo as delações premiadas. Ontem o governo recebeu outras notícias ruins. O jornal The New York Times, em editorial, classificou como “ridículas” as explicações da presidente Dilma para a escolha de Lula da Silva como ministro da Casa Civil. Para o jornal, que tem influência na opinião pública americana e sobre investidores, a presidente luta por sua sobrevivência política mas agiu como se fosse detentora de um bom capital político. Esta opinião do jornal parece ser muito próxima à do cidadão brasileiro. Ontem o Datafolha publicou pesquisa mostrando que 68% da população aprovam o impeachment da presidente, um crescimento de 8 pontos em relação a pesquisa de fevereiro. Cresceu também o número de eleitores que defendem a renúncia da presidente, enquanto caiu o número daqueles que apoiam o governo. Hoje 69% consideram o governo ruim ou péssimo. Os números da pesquisa de ontem indicam que a nomeação de Lula da Silva pode ser até ruim para a presidente, considerando o que pensa o povo, não os políticos. Hoje o ex presidente é rejeitado por 57% da população e mesmo entre os mais pobres, ele perdeu sua liderança. Lula é rejeitado por 49% da população mais pobre e alcança o inacreditável índice de 74% entre a população de maior renda. Da pesquisa, o único dado bom é que Marina Silva é, agora, a maior beneficiária de todo o imbróglio político, liderando as intenções de voto em todos os cenários.
Governador Fernando Pimentel manifesta, em nota, apoio à presidente Dilma
O governador Fernando Pimentel rompeu o silêncio em relação aos últimos acontecimentos políticos e saiu em defesa da presidente Dilma Rousseff. Em nota, Pimentel manifesta repúdio ao processo de impeachment da presidente e pede sensatez, serenidade e espírito democrático dos deputados federais. Leia a íntegra da nota: “Manifesto o meu repúdio à tramitação do processo de impedimento da Presidenta da República, Dilma Rousseff, na Câmara dos Deputados. Ainda que o julgamento seja um processo político, ele é regido por normas constitucionais e regras próprias. E é necessário que tenha se configurado crime de responsabilidade para abertura do processo, coisa que sabidamente não ocorreu neste caso. Garantir o cumprimento do mandato eleito livremente é dever dos que prezam a democracia e respeitam o voto do povo. Reafirmo aqui o compromisso de Minas Gerais com as regras democráticas e o respeito à Constituição. As manifestações populares desta sexta-feira (18/3), por todo o Brasil, em apoio à Presidenta Dilma Rousseff, ao ex-presidente Lula e pela democracia, sinalizam a indignação da sociedade brasileira com as manipulações em curso, que desestabilizam o sistema político e provocam a incitação da intolerância e do ódio. O avanço desse processo na Câmara dos Deputados poderá representar retrocessos de efeitos imensuráveis em relação às conquistas alcançadas depois de muita luta e sofrimento pelo povo brasileiro. Neste momento, espero que as decisões dos deputados em Brasília sejam guiadas pela sensatez, serenidade e espírito democrático, fundamentais para que o nosso país supere a crise e retome o seu crescimento econômico, com equilíbrio político, justiça social e garantia dos direitos individuais de todos os cidadãos”.
Para Mujica, Lula é mais do que inocente. É santo
“Lula vem de baixo e tem uma história que o santifica. Não tenho dúvida de que é inocente. Certamente há corrupção no Brasil, como em toda parte, mas acredito que queiram punir a carta perigosa que Lula significa no futuro”, disse Mujica, ex-presidente do Uruguai, em entrevista publicada neste sábado pelo jornal argentino “Clarín”. O ex-presidente pela esquerdista Frente Ampla afirmou que existe no Brasil “uma disputa prematura e um tanto ousada que leva as coisas a termos perigosos”.”É uma batalha em que o que vencer estará tão destruído quanto se tivesse perdido”, disse o ex-presidente, que viajou a Buenos Aires a convite da Universidade Metropolitana para a Educação e o Trabalho (UMET). Mujica se disse mais preocupado “com a imensa maioria, cerca de 200 milhões, que não vão às manifestações”, e apontou como maior problema “o desemprego de 8,5%, somado à recessão global que afeta os países emergentes”. Consultado sobre o retrocesso nos governos progressistas da região, Mujica comentou que “a direita tem a ver com o que acontece, mas a esquerda comete erros infantis que a direita aproveita muito bem”.