A crise política, em grande parte alimentada por interesses eleitorais, aumenta a instabilidade da economia na medida em que a disputa pelo poder vai se afunilando. Um processo sucessório como no Brasil, com eleições para presidente, governadores, senadores e deputados federais e estaduais é, por si só, gerador de insegurança, mesmo em tempo de calmaria. Em tempos de crise o processo se agudiza, espalhando incertezas cujo resultado, na economia, é a retração do investidor que prefere não se arriscar. É o que estamos assistindo. A economia, que dava sinais positivos de superação de sua crise, começa a perder ritmo, embora haja, da parte do consumidor, um desejo reprimido de comprar. A retomada do desemprego, que muitos querem minimizar, vai afetar esta ansiedade pelo consumo, com suas consequências conhecidas. Inclusive aumento do desemprego. A disputa pelo poder é legítima, mas não pode ser irresponsável. O país não pode ficar subordinado à vontade de grupos de se perpetuarem no comando, mesmo sabendo que, para isto, atrasam o desenvolvimento, prejudicando exatamente a quem dizem proteger. Não merece ocupar um cargo quem, para chegar ou se manter nele, acovarda-se diante da decisão a tomar, como fizeram agora deputados e senadores, que empurraram para os escaninhos do Senado e da Câmara projetos que, mesmo necessários, são impopulares. Postergaram decisões importantes apenas por causa das eleições. O país que se dane. O importante é a reeleição. Que não se aponte o dedo apenas para Senado e Câmara pois o comportamento covarde é comum a todas as Assembleias também. Não é diferente também nos Executivos. Presidente e governadores, assim como prefeitos, praticamente abrem mão de governar, ou aumentam o “saco de bondade”, criando benefícios que não poderão ser sustentados nos próximos anos, afundando ainda mais as contas públicas. É desta irresponsabilidade que se queixam os investidores, os empresários, os que geram riquezas e empregos e que sempre são acusados de responsáveis pela desigualdade social inexistente no país. Nada sinaliza que vamos mudar. Caminhamos para ser o que sempre fomos. Ou, como dizia o economista Roberto Campos, “a burrice, no Brasil, tem um passado glorioso e um futuro promissor”.