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O impeachment é dado como consumado. Agora é saber o que será do PT e de Dilma

Os brasileiros acompanham os dias finais do julgamento do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Acusada de crime de responsabilidade fiscal devido as pedaladas fiscais, Dilma assiste o enorme esforço de seus aliados no Senado que se revezam nos microfones, tentando adiar ao máximo o fim do processo, que pode pôr um fim melancólico à carreira política da presidente. O cientista político, Malco Camargos (foto) entende que a presença de Dilma no Senado, marcada para esta segunda-feira, em nada muda a sua situação. Sem apoio político e popular, ela vai entrar para a história como o segundo presidente da República afastado.

 

A semana começa com a presidente Dilma Rousseff no Senado. A partir da fala dela, fazendo sua defesa no processo de impeachment, o que se pode esperar?

Esse ritual todo tal como ele está construído e os sinais anteriores que o Senado nos trouxe, nos mostra que esta última semana foi um desfecho de algo que já estava programado para acontecer. A presença da Dilma no Senado, todos os discursos que estão sendo feitos neste momento, a batalha jurídica entre situação e oposição para tentar inviabilizar algumas testemunhas, a série de pedidos de ordem e as postergações das decisões, nada mais são do que uma encenação para uma decisão que já está tomada. A presença de Dilma não muda em nada o resultado do impeachment.

 

É o fim da linha para Dilma Rousseff?

Collor, quando sofreu o impeachment e que teve aplicado a ele a sanção da inelegibilidade, mesmo renunciando, tinha uma carreira política anterior. A Dilma nunca teve e acho que não pretende ter. Ela ocupou a presidência que por acaso, guiada pelas mãos de um padrinho muito forte e agora ela sai da história política do Brasil. Ela pode entrar, mais na frente, com um registro no processo de impeachment, alegando que não tinha uma razão clara para o seu afastamento. Ela foi afastada sem se ter a clareza de um crime de responsabilidade cometido pela presidente. Mas não há dúvida da perda, por ela, de apoio político durante o seu segundo mandato e a consequência dessa perda de apoio político é a perda do seu mandato.

 

O PT e a presidente Dilma esperavam que ocorressem manifestações populares no país e isso não ocorreu. Foi uma resposta da população?

Os ganhos que o PT trouxe para a população durante os oito anos de governo Lula e até mesmo nos quatro primeiros anos de governo Dilma, se deterioraram muito rapidamente no segundo mandato dela. A vida das pessoas está muito difícil e como a vida mais difícil é ingênuo acreditar que as pessoas vão apoiar um governo, vendo a sua vida piorar a cada mês que passa. O agravamento da crise econômica faz com que o apoio ao governo seja cada vez menor e foi isso que aconteceu de 1º de janeiro de 2015 até agora.

 

E o PT, qual vai ser o futuro do partido?

O PT vai ter que reconstruir os seus princípios, a partir de bases locais. Acho que o PT volta às suas origens e para a sua reconstrução. Para que volte a galgar cargos importantes novamente na União e nos estados, ele terá que partir de bons exemplos locais. Por isso a eleição de 2016 é importante para o PT. Ter prefeitos que façam bons governos de agora para frente, será importante para que aquele famoso modo petista de governar, que existia anos atrás, possa voltar a ser discutido novamente.

 

O partido vai encolher nessas eleições?

Sem dúvida. Não há dúvidas de que o PT de 2017 será bem menor do que o PT de 2013.

 

E o ex-presidente Lula, qual vai ser o destino dele?

Do ponto de vista eleitoral, Lula é uma ameaça constante, mas dificilmente se viabiliza para ganhar uma eleição. Qualquer pesquisa hoje o coloca no segundo turno, mas sabe que ele não ganha. A questão da prisão dele ou não, por mais que haja um anseio de parte da sociedade para que aconteça isso, na minha opinião, é uma injustiça enorme, principalmente pelos razões apontadas. A suposta propriedade do apartamento e do sítio, se for tudo o que se tem para condenar o ex-presidente, eu acho que ele sai da vida pública com a carreira limpa. Eu discordo dos que querem a condenação dele a qualquer custo. Mas isso não apaga que o PT para se manter no poder, para alcançar o governo em alguns estados fez o uso de velhas práticas que ele combateu durante muito tempo e ele está pagando por isso.

 

O indiciamento do ex-presidente Lula abala, principalmente por acontecer no meio do julgamento da presidente Dilma?

É importante para o PT a solução do processo de impeachment o quanto antes. Eu ouvi uma frase, que vou repetir: o PT não pode ser a Geni da política do Brasil. Não pode ser que por qualquer coisa, joga a pedra no PT que resolve os problemas. Os problemas são muito maiores do que o PT. Nesse sentido, é importante o PT sair da vitrine, se consumar o processo de impeachment o quanto antes, definir os processos de condenação de seus representantes, caso ocorra, para que o PT possa repensar sua estrutura como partido e no lugar importante que ele tem na história.

 

Começa agora a era Temer?

Sem dúvida Temer assume o governo agora, sem estar interino, mas sem dúvida será um governo breve e por ser breve, deve ser tão pouco importante quanto está sendo como interino. Nesse sentido, eu acho que dificilmente ele terá capacidade de fazer as grandes mudanças que acha que vai fazer. Uma coisa é ele ter maioria no Congresso para dar a cabo o processo de impeachment, outra coisa é ele ter maioria no Congresso para levar as políticas públicas impopulares que ele quer implementar. A maioria que ele tem hoje no processo de impeachment nem de longe representa a maioria necessária que ele precisa ter para governar. Não podemos esquecer que ele é um presidente impopular, as pessoas não gostam dele, não gostam do seu mandato.

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