O Palácio do Planalto anunciou neste domingo, por meio de nota, que o presidente Michel Temer decidiu transferir o ministro Torquato Jardim do Ministério da Transparência para o comando do Ministério da Justiça, substituindo Osmar Serraglio (PMDB-PR), que estava no cargo desde março. Temer decidiu promover uma troca de lugares, e Osmar Serraglio foi convidado para ser ministro da Transparência no lugar de Torquato. Jurista especializado em direito eleitoral, Torquato (foto) entrou para o governo em junho do ano passado, sucedendo Fabiano Silveira, que deixou o Ministério da Transparência menos de um mês depois de tomar posse em razão de um escândalo. À época, reportagem exclusiva do Fantástico revelou o conteúdo de gravações nas quais Silveira criticava a atuação da Procuradoria Geral da República (PGR) na Operação Lava Jato e dava orientações ao então presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e ao ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, ambos investigados por suspeita de envolvimento no esquema de corrupção que atuava na Petrobras.
Serraglio durou pouco
A curta passagem de Serraglio pelo Ministério da Justiça não foi diferente. Ele também apareceu envolvido em escândalos, relacionados com a operação Carne Fraca. Ele foi pego em um grampo da Polícia Federal. Na ligação, o agora ex-ministro fala com um dos líderes do esquema investigado, o ex-superintendente regional do Ministério da Agricultura no Paraná Daniel Gonçalves Filho. Serraglio chama o ex-superintendente de “grande chefe” na conversa telefônica interceptada pelos agentes federais e fala sobre a ameaça de fechamento de um frigorífico. À época em que a operação foi deflagrada, a PF informou que não havia indício de crime por parte do então ministro da Justiça. Mas na avaliação de alguns analistas do Planalto , Serraglio caiu porque “era considerado um ministro fraco, e que, por isso mesmo, não tinha influência no comando da PF e não conseguia interferir nos rumos da Lava Jato. O governo optou por Torquato por considerá-lo com personalidade suficiente para retomar o controle da PF.
Novo ministro não confirma, mas não desmente trocas na Federal
O novo ministro da Justiça, Torquato Jardim, disse à GloboNews que só vai se pronunciar sobre a situação da direção da Polícia Federal e outros assuntos referentes à pasta após assumir o cargo oficialmente. O Palácio do Planalto ainda não informou a data de posse do ministro. Para a vaga de Torquato na Transparência irá Osmar Serraglio (PMDB). A Polícia Federal é subordinada ao Ministério da Justiça e um dos principais braços da Operação Lava Jato. Perguntado se vai trocar a direção da Polícia Federal, Torquato respondeu: “Tudo vai ser estudado e refletido. Vou ouvir o presidente Temer, o secretário-executivo, e fazer a minha própria avaliação antes de tomar qualquer decisão. Exatamente como fiz na Transparência, mas na Justiça é mais complexa”, disse o novo ministro. Torquato já fez críticas públicas à Polícia Federal e à Operação Lava Jato.
Polícia Federal está preocupada com Torquato Jardim no Ministério da Justiça
Policiais federais estão desconfiados da mudança no Ministério da Justiça. Se Omar Serraglio era considerado fraco e sem comando, Torquato Jardim, que deixou o Ministério da Transparência pela pasta da Justiça, é considerado uma incógnita. A Associação Nacional de Delegados de Polícia Federal divulgou ontem uma nota demonstrando preocupação com a troca. Eles se dizem surpreendidos com a decisão do presidente Michel Temer e alegam desconhecer qualquer proposta de Torquato Jardim para a pasta. O presidente da entidade, Carlos Eduardo Sobral, que assina a nota, argumenta que para evitar dúvidas em relação à possível interferência de ministros da Justiça nas atividades da Polícia Federal, seria fundamental a aprovação da Emenda à Constituição 412/2009, que garante autonomia funcional, administrativa e orçamentária à PF. Torquato Jardim é mineiro e esteve recentemente na sede da Fiemg em um encontro com os empresários falando sobre transparência.