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Haddad fala em ajuste mal feito e renúncia de Dilma

Paulo César de Oliveira
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O plano de ajuste fiscal do governo federal foi mal elaborado e a economia entrou em um círculo vicioso, que deve prevalecer até a próxima eleição. A análise é do ex-ministro da Fazenda no governo Itamar Franco e professor da Uma, Paulo Haddad. Para ele, uma alternativa para tentar equilibrar as contas seria diminuir a máquina administrativa a, no máximo, 10 ministérios e cortar os programas fisiológicos. O melhor para ele, no entanto, seria a renúncia da presidente Dilma para dar lugar a uma nova composição política.

 

Orçamento enviado pelo governo ao Congresso Nacional significa que o Brasil quebrou?

 

Com as medidas que o governo tomou para controlar a inflação, com juros muito altos e corte nos investimentos públicos houve um efeito multiplicador negativo sobre a economia e com isso, a arrecadação do governo caiu. É comum nesses programas de ajuste tradicional a arrecadação cair quando o governo toma as medidas, muito mais do que o governo esperava. O PIB caiu de 1,2 e a arrecadação em 6%. O governo entrou em um círculo vicioso: a arrecadação cai e aí você tem ou que reduzir as despesas ou aumentar os impostos. Esse dilema para decidir qual é a pior medida. Não tem nada bom aí. Aumentar os impostos não tem o menor sentido, porque a carga tributária já está elevadíssima.

 

O setor produtivo não aceita pagar mais impostos, não é?

O setor produtivo não aceita e seria um reforço para cair a produção e como consequência, cai a arrecadação e aumenta o desemprego. Por outro lado, para cortar despesas é preciso levar em conta que algumas despesas são obrigatórias, como folha de pessoal, repasses para estados e municípios, pagamento da dívida que está vencendo, etc. O espaço para cortar é muito pequeno. Aí você diz, não tem saída? Eu acho que o ajuste foi mal concebido.

 

Qual seria a melhor alternativa?

A melhor alternativa seria uma reforma ampla do governo, reduzindo o tamanho do Estado e da economia. Poderia reduzir o ministério para 20 em vez de 39 e cortar uma série de programas que não são prioritários, que são de demanda fisiológica da base aliada.

 

A presidente Dilma teria apoio para implementar essas medidas?

Esse é um assunto para a próxima eleição. Nós vamos viver um período muito ruim, de muita insatisfação, desalento e instabilidade política até chegar às eleições. Eu concordo com Fernando Henrique. Sou contra o impeachment, mas talvez ela tenha que tomar uma decisão para facilitar uma nova composição política. Ela deveria ter uma atitude corajosa e renunciar.

 

Para o Sr, a presidente Dilma não tem mais sustentabilidade?

Ela não tem sustentabilidade no próprio partido dela. O próprio Lula está se lançando candidato prematuramente e a base aliada e, pelo menos, metade do PT, é contra esse tipo de ajuste.

 

Com essa situação, qual é a tendência daqui para frente?

O país tem um potencial de desenvolvimento muito grande. Nós não vamos ter uma crise aberta, no que a gente chama de veias abertas, porque o país sempre vai crescer um pouco. Vai sempre ter uma alternativa, como o câmbio ajudando as exportações a melhorar. A economia vai ficar em banho-maria durante um bom período.

 

Os prefeitos estão muito preocupados porque já enfrentam dificuldades para manter os serviços básicos. Como garantir o repasse desses recursos?

Os prefeitos estão sofrendo muito. A arrecadação caiu e eles não têm alternativa. Nos Estados Unidos, quando teve a crise, o governo federal fez um programa de socorro aos Estados e municípios. Alguns municípios podem sobreviver com um nível de condição de vida muito precário para a população, com serviços de má qualidade.

 

O que está acontecendo no Rio Grande do Sul pode se repetir em outros estados?

Isso vai acontecer em alguns estados. É um problema o atraso na folha de pagamento, demissões. É um problema que o governo federal vai ter que olhar com cuidado.

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