Dilma emocionada e ressentida

A presidente afastada Dilma Rousseff recebeu o comunicado da abertura do processo de impeachment no Senado, com seu consequente afastamento do cargo, com mais de uma hora de atraso em relação ao horário anunciado. Quando surgiu no salão do Palácio do Planalto onde se concentravam políticos e ministros que demitira em atos publicados em edição extra do Diário Oficial da União, procurava demonstrar calma e não mostrava abatimento. Dilma acabou fazendo dois discursos, um no salão e outro à frente do Palácio onde se concentrava um grupo de apoiadores, calculado em três mil pessoas, a maioria do MST. Em ambos os discursos ela demonstrou emoção e ressentimentos. Seguiu a mesma linha de defesa, reafirmando honestidade, numa clara defesa de sua biografia. De seu governo afirmou que pode ter cometido erros, mas não crimes. Reafirmou compromissos com a democracia e lembrou-se de sua luta “contra a ditadura”, das torturas sofridas na prisão, de sua doença quando já no exercício do primeiro mandato. As lembranças a emocionaram sem, no entanto provocar lágrimas. Acusou seus opositores, nominalmente Eduardo Cunha, de terem tramado o seu impeachment que insiste em chamar de “golpe”. Nos dois discursos previu que o novo governo reduzirá os programas sociais e tirará benefícios dos trabalhadores e conclamou que a classe trabalhadora lute contra o seu impedimento. Ela reafirmou que continuará lutando contra o que considera as maiores agressões que se pode cometer contra as pessoas: injustiça de imputar a elas aquilo que não fizeram e a traição. Dilma falou aos seus apoiadores, cercada de ex-assessores e tendo, um pouco atrás, o ex-presidente Lula com fisionomia abatida. Ele não se manifestou e em poucos momentos aplaudiu a fala de Dilma (foto). Ao final do discurso a presidente afastada caminhou entre os apoiadores, entrou em um carro protegida por um batalhão de seguranças e foi embora.