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Ronaldo Fraga lança a moda de juntar prazer com negócio

Paulo César de Oliveira
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O estilista mineiro Ronaldo Fraga (foto) fez e aconteceu em 2016. Em plena crise econômica comprou um casarão de 1920, restaurou e transformou a edificação em muito mais do que um espaço para mostrar as suas roupas, tombado pelo Patrimônio Histórico, o casarão foi totalmente restaurado para atender a demanda do estilista, que a batizou de Grande Hotel Ronaldo Fraga. A ideia é a de que de tempos em tempos, ele também abra espaço para outros estilistas e grifes. O local também terá uma barbearia, o Café Dona Diva, o mesmo do Mercado Central, e alfaiataria masculina, assinada por seu irmão, Rodrigo Fraga, além do clube Rex Bibendi, com vinhos produzidos no estado e uma pequena livraria. Mas Ronaldo Fraga investiu além do imóvel. Ele surpreendeu ao apresentar a sua coleção nas passarelas em um desfile com modelos transexuais para denunciar os assassinatos de transgeneros no Brasil. O estilista também costuma buscar o trabalho de costureiras e bordadeiras em cooperativas pelo país, e é usando a sua criatividade, que está passando longe da crise econômica brasileira.

 

Em um momento de crise, com os investimentos no país parados, você compra um casarão, restaura e o transforma em um espaço de moda e convivência. Como é fazer um investimento como este neste momento?

Tem uma coisa que eu sempre falo: a minha relação com o meu ofício sempre ultrapassou a relação para ganhar dinheiro. Sempre foi uma relação do ofício com uma visão de mundo. A moda é um vetor em que ela é mais do que roupa. Ela reafirma cultura, fala de política e tem tudo para transformar o olhar do outro. Mas tem uma coisa que é ainda mais poderosa, que a moda consegue como a arte, é lançar luz e enxergar poesia em terreno árido. E neste momento em que estamos vivendo em terreno árido no Brasil, é preciso que a gente fale de poesia. É preciso que a gente jogue sementes nesse lugar, porque é só assim que nós vamos transformar. Só assim nós vamos dar força para as pessoas. Não é só eu que quero entrar em uma casa, em um casarão de 1920, que conseguiu escapar da fome das imobiliárias, das incorporadoras. Eu quero, você quer, seu filho quer, o filho da sua empregada quer. Esse era um desejo antigo, que eu sempre protelei.

 

Melhor do que uma loja tradicional?

Os shoppings no Brasil me oferecem loja de graça. Mas o meu negócio não é este. Eu gosto de comércio de rua, de casa. Queria um lugar que tivesse piano, que tivesse música, que tivesse um café, que tivesse uma barbearia, que tivesse um salão de beleza, que tivesse uma livraria, que tivesse até roupa. Mas a roupa aí é até um detalhe. Estou recebendo as pessoas aqui, como se estivesse recebendo na minha casa. Essa é a minha filosofia e sempre foi com o meu trabalho.

 

Parece a realização de um sonho. É isso?

É um sonho realizado. É um projeto antigo, que eu espero que as pessoas que também têm essa vontade vão e façam. É fácil? Não é. Tanto que foi um ano de obra, porque é caro, porque é difícil. O ano do país é difícil. Mas decidi ir até o final. Me perguntaram por que não fiz esse projeto em São Paulo, a minha clientela é toda de lá, tanto quanto aqui. Mas a cidade em que eu nasci, a cidade que escolhi para criar meus filhos, a cidade que é a minha fonte de alimento é Belo Horizonte. Eu posso fazer em qualquer outro lugar do mundo, mas eu começo em Belo Horizonte.

 

Qual foi o custo deste investimento?

É alto, mas eu nem ponho no papel, porque se não, eu não faria. Isso é cabeça de financista: vou fazer isso, vou ganhar isso. Não. O que eu vou ganhar aqui é imensurável.

 

Em seu trabalho você também busca costureiras, bordadeiras e trabalho artesanal com cooperativas. É quase um trabalho social. Onde você busca essas pessoas?

Eu nem falo que é um trabalho social. É um trabalho de alimento e esse alimento é uma via de mão dupla. Elas ganham e eu ganho também. Eu preciso desse oxigênio e passar para elas o máximo do pouco que eu sei. Isso me alimenta deste o início e continua me alimentando. Busco encontrar cooperativas no Brasil inteiro e os bordados estão em via de extinção e é isso que me interessa.

 

Isso faz o seu trabalho e a moda serem mais prazerosos?

Isso é que justifica para mim a existência do meu ofício. Não sei se a moda, mas o meu ofício sim.

 

Como está a situação das indústrias de confecção nessa crise?

No meu caso particular, Ronaldo Fraga, não tem crise. Trabalho com um grupo, que não é esse grupo que trabalha em larga escala. Mas também nunca fui de olhar para o meu próprio umbigo. A indústria têxtil está por um fio. É um setor que está padecendo. Este setor é o segundo maior gerador de empregos no país e padece devido as taxas e impostos. A minha briga é por isso.

 

Nesse momento turbulento no país, o que você acha que o governo deveria fazer para a indústria funcionar?

Esse governo chegou a um ponto em que tem tanto para ser feito, que é difícil falar. Mas sou otimista. Nós estamos passando por um momento em que o reboco da cara está caindo e tomara que o Brasil revele a sua cara para tentarmos consertar. Nós já passamos por tantas crises. Nós estamos em guerra, mas não é só no Brasil, é no mundo. Tem uma nuvem de extrema direita, conservadora, que está tomando conta do mundo e isso eu acho perigoso. O Planeta Terra está em uma situação frágil.

 

E para 2017, quis as perspectivas?

Estamos longe de sair do fim do túnel.

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