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Mário Campos: produção dos biocombustíveis está garantida

Paulo César de Oliveira
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Mario Campos

Com a lei que aumenta a mistura do etanol na gasolina e do biodiesel no diesel, passando de 22% para 27%, chegando até 35%, as empresas do setor têm trabalhado para atender a demanda. A seca prolongada neste ano, não chegou a afetar a produção e segundo o presidente da Siamig, principal canal de interlocução entre o setor de bioenergia, presidido por Mário Campos(foto/reprodução internet), se as chuvas continuarem no período certo, haverá combustível suficiente para abastecer o mercado.

Com o aumento do etanol na gasolina, como fica o setor?

A lei que foi sancionada prevê o aumento da mistura do etanol na gasolina. Ela, a lei, está no meio de um processo, de uma política de transição energética e dentro dessa política de transição energética foi elaborado um projeto de lei que virou lei, chamada de combustível do futuro. Esse combustível do futuro trata justamente do aumento do uso de biocombustíveis. A matriz de transporte do Brasil, como da matriz energética do Brasil como um todo, mais especificamente na matriz de transporte, não tratou só de etanol, tratou de biodiesel, de biometano, de combustível, de aviação sustentável, de diesel verde. A ideia é que o Brasil, tendo metas de redução de emissões de gases de efeito estufa, se conseguir aumentar a participação dos biocombustíveis no transporte, ajudará ainda mais o atingimento dessas metas estabelecidas. Só para lembrar, uma dessas metas do Brasil é zerar as emissões de gases poluentes até 2050. É uma meta bem arrojada e dentro desses itens, está a questão do aumento da mistura do etanol na gasolina.

Como que é hoje?

Hoje, nós temos um tipo de gasolina, a gasolina premium, que tem 25% de etanol misturado, temos a gasolina comum, que é 99% do consumo do Brasil, ela tem 27% de etanol anidro misturado. E o que a lei fala é que o governo poderá estabelecer misturas acima desse nível, hoje de 27%, podendo alcançar até 35%. Então a mistura, lá no futuro, poderá chegar a 35%. Mas o primeiro número que o Brasil está tentando é viabilizar é o 30%. Nó estamos trabalhando na possibilidade de a gente ter, em curto prazo, 30% de mistura de anidro na gasolina. E para que isso ocorra, é necessário que se cumpra alguns requisitos, principalmente técnicos, que deem segurança para que essa mistura possa existir. Dentro do mercado brasileiro é isso que está sendo feito desde março, quando o CNPE, o Conselho Nacional de Política Energética, criou um um grupo de trabalho interministerial, justamente para estudar a implementação de 30 % da mistura, já a partir do momento que a lei fosse aprovada. Esse grupo já encerrou o seu trabalho e o relatório foi encaminhado para a OCNPE e esperamos que possamos ter novidades nos próximos meses, dentro, obviamente, da disponibilidade de produto e dentro, também da possibilidade técnica. Isso está sendo trabalhado para chegar aos 30% de mistura de anidro na gasolina, porque é importante aumentar a mistura de biocombustível no combustível fóssil. Primeiro tem a questão das emissões. Quando eu troco um combustível fóssil, no caso, a gasolina, pelo etanol, eu posso reduzir em até 90% as emissões. Esse é um ponto. Segundo, o etanol anidro, etanol em geral, ele tem uma octanagem maior. Se eu tenho uma quantidade maior na mistura de etanol na gasolina, melhor é o resultado final. É um combustível de melhor qualidade, que possibilitará, inclusive, a própria indústria automobilística desenvolver motores ainda mais eficientes para esse combustível. Então, tem um componente aí também tecnológico, o que mostra a importância dessa estrutura. Muita gente tem críticado a questão da mistura do etanol na gasolina. A gente sabe disso. O consumidor tem que entender, primeiro que o etanol, que é misturado à gasolina, não é o etanol que se coloca diretamente no veículo. Eles são diferentes. O etanol que a gente coloca no veículo, tem perto de 67% de água e ele é bom também. O hidratado é bom. O motor flex funciona muito bem. Mas o anidro, ele praticamente não tem água, é etanol puro e quando misturad gasolina ele se torna uma mistura com octanagem superior. Ele tem possibilidade de desenvolver motores mais eficientes e levar ao desenvolvimento de motores. O terceiro ponto é preço. Quando comparamos o custo de um litro de etanol anidro e um de gasolina pura, sem anidro, o produto anidro é mais barato do que a gasolina. Ele é mais barato nos seus componentes em tributo, e quando a gente coloca o tributo, ele fica ainda mais barato. A gasolina tem um PIS/ Cofins acima do que é cobrado do etanol.

E a produção?

A nossa estimativa é de que, se conseguirmos alterar a mistura de 27% para 30%, em um ano o nosso potencial de aumento de demanda de etanol anidro é de um bilhão e meio de litros. Dá um bilhão e meio de litros. O que é muito importante para o setor é que nós estamos tendo hoje no Brasil um o etanol partir de cereais. A partir do milho. Esse etanol de milho hoje está ofertando adicionalmente por ano, mais do que essa quantidade que estimamos de aumento de demanda. O crescimento da produção de etanol a partir do milho está sendo muito grande e isso possibilita a incorporação desse produto no mercado.

A produção está sendo impactada pela questão climática?

Nós vivemos esse ano uma seca extrema. Nós já estamos acostumados a ter seca, mas essa foi uma seca muito forte e no Brasil não costumamos ficar tanto tempo sem chuva. Ficamos muitos meses sem chuva e isso, com certeza, afeta. Mas a cana você tem em muitas unidades a possibilidade de adoção de irrigação, o que minimiza um pouco. A cana é uma planta muito resiliente. Não estou dizendo que a gente vai recuperar todo o tempo perdido durante essa seca, mas se o verão for adequado, de chuvas em momentos adequados, como estamos observando agora, não teremos problema. Outubro foi bom, está sendo bom, ainda não terminou. Se conseguirmos ter um período final do ano e o início do ano que vem, com bastante chuva e muita luminosidade, porque esse isso que é o mais importante, a planta, precisa de água e sol, complementando com produtos biológicos ou químicos, os famosos fertilizantes, e cuidar da saúde dela, utilizando defensivos, a cana pode recuperar uma parte desse déficit que ela teve durante esses últimos meses. Temos também o milho da safra. A safra 23/24 já foi plantada e colhida. E a da 24/25, ainda vai ser plantada no ano que vem, então não tem, impacto nesse processo. Precisamos ter uma oferta muito parecida com esse ano, que foi uma oferta bem substancial de etanol para o mercado, que poderá assimilar esse aumento de demanda.

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