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Igor Carvalho de Lima: nenhuma campanha política é fácil 

Paulo César de Oliveira
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Igor Carvalho de Lima

Nenhuma disputa eleitoral é fácil. Candidatos que aparecem liderando as pesquisas de intenção de votos nem sempre vencem. Construir e consolidar uma imagem vai muito além de um nome famoso. Se o candidato não tiver consistência, ele não se estabelece. A disputa em Belo Horizonte contou com todos esses ingredientes e segundo o dono do Instituto Viva Voz, Igor Lúcio Carvalho de Lima (foto/Tião Mourão), que trabalhou na campanha de Fuad Noman, esse foi um trabalho muito forte e consistente. 

Você trabalhou em uma campanha muito difícil, que foi a do Fuad Noman. Ele estava doente e o cenário político estava confuso. O que garantiu a vitória dele? 

Nós começamos um trabalho muito forte com ele, um trabalho iniciado pelo Paulo Vasconcelos um ano antes, de formatação de imagem, porque o Fuad já era um grande administrador. A sua morte foi uma grande perda para o município de Belo Horizonte. Ele tinha muitas realizações e durante a campanha, mostramos também, que nele tinha uma seriedade, que era inerente ao ser dele.  Ele era desconhecido, mas quem o conhecia, via nele essa seriedade e a capacidade de passar credibilidade para o eleitor. Fizemos muitas pesquisas qualitativas e com elas foi se moldando esse discurso para as pessoas verem que o Fuad era uma alternativa consistente.  Na verdade, Belo Horizonte nunca teve aventureiros na prefeitura e tem eleito, por muito tempo, prefeitos que têm o mesmo perfil. São prefeitos na faixa dos 60 anos, que são sérios, idôneos. Esse é o perfil que o belorizontino gosta e o Fuad estava acima da faixa etária. Ele tinha 77, então tínhamos que mostrar que o Fuad tinha essa capacidade. 

Como foi contornada a questão da idade? 

 Ele apresentou muito carisma com o suspensório e com a fala ponderada, mostrando as suas realizações, que eram muitas. Chegou na reta final, teve o reforço do voto útil de esquerda, porque as pessoas também não queriam que o Bruno Engler ganhasse. Teve no segundo turno com aquele absurdo que foi o uso do livro da Cobiça (escrito por Fuad Noman), assunto que deu um trabalho danado na campanha, porque ali eles partiram para o lado ideológico. A exploração do livro balançou muita gente, muita gente conservadora, que ficam balançadas com esses ataques pessoais.  Tudo faz parte da campanha. A gente costuma falar que não tem campanha tranquila. Eu trabalho diretamente com o marqueteiro, faço parte dos comitês e dos conselhos das campanhas e toda hora tem um estresse.  A campanha é igual futebol. O outro time também está jogando, está jogando bem. Então é difícil.  Temos que ser muito precisos, tem que ter muita informação qualitativa e quantitativa. Mas a campanha do Fuad foi toda bem planejada nesse sentido. Nós sabíamos, por exemplo, que o Mauro Tramonte, largou bem na frente. Só que nas qualitativas percebíamos e, nesse caso a Viva-voz percebeu primeiro, que ele tinha aquele perfil do midiático sem consistência, ou seja, era apenas um nome famoso. Temos vários desses exemplos de candidatos da mídia, que não dão certo, porque eles se tornam parlamentares, não mostram serviço, e tem pouca consistência, pouco ou nada para mostrar.  Tem o Carlos Viana, que também tem um perfil similar. Em São Paulo tem um exemplo clássico, do Russomanno, que sempre largou na frente e não conseguiu ir para o segundo turno.  Sabíamos que o Tramonte não tinha consistência e que ele podia se diluir ao longo da campanha. Ao mesmo tempo, fomos colocando consistência no discurso do Fuad. O primeiro instituto que deu a virada e a queda do Tramonte, foi a Viva-voz, em uma pesquisa 10 dias antes da eleição, que foi divulgada na Itatiaia Demos que o Bruno Engler passou para primeiro, Fuad em segundo e o Tramonte terceiro. Mas foi uma eleição muito difícil, muito cheia, com muitos candidatos.  

Nessa eleição, o PT teve um resultado muito baixo e houve a subida do Gabriel Azevedo, pelo MDB. Isso chegou a surpreender? 

 Surpreendeu. O Gabriel pegou um segmento de rede social bem-feito. Teve um antagonismo, que não foi muito radical. Ele conseguiu ser um diferencial de centro. Ele não ficou muito ligado na esquerda nem na direita e acabou surpreendendo, sim. E o PT já era de se esperar esse desempenho por causa das qualitativas do Rogério Correia, um candidato que não tinha como crescer.  Ele não tinha identidade própria e dependia única e exclusivamente do apoio do Lula. Vimos que não deu certo. Esse foi o grande erro do Alexandre Kalil em 2022.  Eu estava na campanha do Zema e víamos a preguiça do Kalil de fazer campanha e só jogar nas costas do apoio do Lula a sua campanha.  Depois disso, o Kalil se acabou politicamente. Ele até aparece em algumas pesquisas com 20%, porque é conhecido, mas ele não tem consistência. 

Qual quadro que está se formando em Minas e nacionalmente? O cenário está em aberto

Em Minas, destacaria o Cleitinho, que foi eleito senador com voto bolsonarista em 2022, só que agora ele está em um posicionamento que acho bem estratégico. Ele está pegando os votos da direita, mas também está com um discurso popular para flexibilizar um pouco e centralizar o discurso dele. Diria que é um grande candidato ao segundo turno, na eleição para governador de Minas. Tem o Nicolas, que é colocado como uma alternativa, mas não acredito que o Nicolas deixe de ser deputado neste momento, porque a popularidade dele no Brasil todo está em ascensão.  Para ele, o cargo de deputado ótimo. Ele está com visibilidade, está com tranquilidade, está com liberdade para atuar nas redes sociais. Se ele deixa de ser deputado e vai ser candidato a governador ele perde espaço nas redes sociais, poque esse é um cargo muito mais complexo, ainda mais em um estado como o de Minas, que tem problemas financeiros. Ele se anula em um cargo de governador, acho que ele tem muito mais projeção como deputado federal.  A tendência é dele se reeleger como deputado. Ele ainda é muito novo também. 

A outra vaga do segundo turno está entre Rodrigo Pacheco, que não sabe se vai ser candidato ainda, ou Alexandre Silveira. Ou seja, um dos um candidato do PSD.  Tem também o Mateus Simões que é o vice-governador. Um deles acho que vai para o segundo turno. Só que o Mateus tem um problema, porque o Zema tem uma figura pessoal muito carismática. Ele é a cara do mineiro do interior, e ele mantém a popularidade dele muito por causa disso, por causa da capacidade pessoal dele. Eu não sei se o Zema consegue transferir votos para o Matheus Simões.  Zema não conseguiu, por exemplo, transferir voto para Marcelo Aro na campanha para senador.  O cenário está desenhado assim.  

Na esquerda? 

O PT não sei se vai ter candidato próprio, porque os nomes são muitos, mas nenhum deles forte. Nacionalmente é o Lula, que está preso à falta de nome do PT. Não pode lançar o Fernando Haddad, porque ele não tem força nenhuma. Lula até tem feito declarações de que vai ser candidato e ele sempre estará no segundo turno, porque ele tem os seguidores que garantem cerca de 30%.  O Tarcísio de Freitas não vai arriscar bater chapa com Lula, porque ele pode se reeleger em São Paulo com uma certa tranquilidade e depois traçar o futuro político dele, sem o Lula na próxima eleição.  Tem vários nomes, como Ronaldo Caiado que declarou que é candidato pela União Brasil, mesmo sem apoio do partido. Mas ele, vem de uma região que é o centro Oeste, que tem um contingente muito baixo de eleitor, que não chega a 10% do eleitorado do Brasil. Ele terá dificuldade para levar a candidatura para o restante do país. No caso do ex-presidente Bolsonaro, acho que ele não consegue ser candidato, mas o nome mais forte que ele tem para indicar é o Michelle, que tem um perfil mais ponderado do que os filhos dele e que provavelmente vai pro segundo turno com Lula. Eu acho que o Bolsonaro consegue transferir votos para ela sim. Tem outros nomes que são mais como franco, como Gustavo Lima, que já desistiu. Pablo Marçal está inelegível? Todos muito ligados a direita. Tem também o Zema que quer ser candidato. Ele ganharia fácil para senador, mas não é o que ele quer. Mas eu acho que, mesmo sem chance, ele vai disputar e vai se tornar conhecido para a próxima eleição. Teremos aí um PT e PL no segundo turno, de novo. Lula e Michelle Bolsonaro. 

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