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Blog do PCO

Por um Brasil mais otimista

Por : Jaqueline da Mata

 

Em um momento de crise econômica grave por qual passa o Brasil, difícil ser otimista, certo? Não do ponto de vista do especialista em gestão organizacional, o engenheiro Raimundo Godoy. Referência técnica do Instituto Áquila, Godoy tem  experiência superior a duas décadas como executivo em organizações do Brasil e do exterior. E ele é taxativo ao afirmar que em momentos de crise, o ideal é criar oportunidades para encontrar soluções diferentes. A hora é refletir, parar e pensar como sair da turbulência. Primordial, como ressalta Godoy, é que as empresas cuidem de seu lastro e nunca deixem de inovar. E como empreendedores é preciso saber investir em tecnologia que é o futuro. Nesta entrevista para o Blog do PCO, Godoy fala sobre  enxergar as dificuldades como oportunidades e ao contrário do que a maioria pensa, o especialista é de opinião que é preciso saber valorizar o “fundo do poço e de lá, sair com bons parceiros”.

 

Como o país pode sair da crise a qual passa?

A cada 20, 30 anos o Brasil passa por uma reflexão. Veja de 1930 em diante, as pausas para refletir. A gente  pensa que não vai sair, mas vai passar. É só uma questão de tempo. As empresas sem preparos, não passam. Vão morrer, assim como outras vão nascer. O momento atual é de profunda reflexão de valores, de relacionamentos entre empresas, entre o estado. E nós precisamos aprender a ter um relacionamento, mais republicando, mais profissional.  Veja as empresas que estão participando do caso liderado pela Petrobras. Toda a cadeia de valores está sofrendo muito, algumas não vão sobreviver e outras vão enfrentar e  passar e o Brasil vai voltar a crescer daqui a pouco. Este ano, com certeza, será difícil. Mas nós temos algo que o mundo precisa que é alimento. Nós somos muito  forte em agronegócio. Por essa razão, o Brasil sempre vai sair um pouco antes dos outros.  Este é o nosso ponto forte, não temos competidores. Nós nos preparamos desde a década de 70 com a criação da Embrapa. O agronegócio tem muita tecnologia. Veja  um trator, por exemplo,  hoje vale de R$ 100 mil  a R$ 1 milhão. O produtor, quando tem uma boa colheita, investe em tecnologia. Hoje toda a proteína animal, nossos grãos têm um conteúdo tecnológico muito grande. Nesse ponto, o Brasil não tem competidor. O grande problema são segmentos onde não se têm tecnologia. Esses deixam de ser protagonistas para serem eternos figurantes.

 

Daí parte nossa grande ameaça? Os chineses?

Se os chineses chegarem hoje com essa fraqueza da nossa moeda, comprar nossas empresas, nós vamos ficar cada vez  pior. Vamos ficar, cada vez mais, nas mãos de terceiros. Vamos trabalhar para chineses. É preciso olhar para o futuro. Temos que ter empresa de grande conteúdo tecnológico. Esse é meu grande debate quando vou visitar uma empresa. Nós precisamos de tecnologia para não sermos eternos figurantes.

 

O senhor acredita  que o futuro do país está no agronegócio desde que se invista em tecnologia?

Sim.Tecnologia para suportar o agronegócio. Nós temos que ter empresas que suportem o agronegócio com micro e alta tecnologia. Algo que nós não temos hoje. A tecnologia que abastece o agronegócio é  toda internacional, com exceção da Embrapa, boa parte é internacional.  Se você não tem patente tecnológica, você é sempre figurante. Protagonista é quem detém o conhecimento.

 

Isso vale como dica para os jovens que ainda não sabem que profissão seguir?

Claro. O meu caso, por exemplo, eu tenho que sair para o mundo, conhecer outras culturas, tenho que aprender todos os dias. Se você não buscar tecnologia, investir na inovação, no desenvolvimento, nas melhorias, você não tem futuro. Aparentemente você faz um investimento que não vê o resultado. Não vê naquele momento pois  pensa que a empresa termina dia 31 de dezembro. Mas a empresa não termina, o  que termina  é o exercício de 2015. Em janeiro nasce outro exercício, e você deve estar preparado para o futuro. Que não seja uma utopia, um desejo: tem que apostar no futuro que está cada vez mais próximo.   No nosso caso, nós investimos 6% da receita em tecnologia, desenvolvimento e inovação. É  duro para uma empresa investir tanto assim. Para que investir se hoje estamos bem? Mas o resultado de hoje não garante o futuro de amanhã. E importante lembrar aos jovens que é preciso trabalhar sim e muito.

 

É a pior crise que o Brasil já passou?

Quando tivemos o plano Collor que sequestrou o dinheiro da poupança foi inimaginável. Naquele momento foi a maior crise. Neste momento estamos vivendo outra grande crise. São  diferentes. Mas faz parte do processo.  O importante é estar preparado para situações difíceis.

 

Como é essa preparação?

As empresas esquecem do caixa, das disponibilidades financeiras. Passam a ficar endividadas e quando vem uma crise  não suporta por não ter o dinheiro. O segredo é ter lastro. As empresas brasileiras, em geral, não se preocupam com isso. As que se preocupam dão saltos longos, avançam  muito. É como a pessoa física. Imagine você trabalhar e não guardar o dinheiro? E se perder o  emprego? É aquela velha máxima: Não importa quanto você ganha, mas quanto você guarda. O importante é  adaptar ao momento. Ganho muito, ganho pouco, mas guardo sempre. Minha empresa pode comprar um avião? Pode e seria mais prático, mas eu perderia a oportunidade de me relacionar com muita gente.

 

 

Qual a opinião do senhor sobre o projeto de lei que pretende regulamentar  a terceirização do trabalho  que deverá ser votada no Senado em julho?

Nós trabalhamos com países diversos. Hoje  temos um cliente  na Colômbia que é especialista em terceirização em prestação de serviços. Ele tem 30 mil funcionários. Presta serviço extraordinário. O  Brasil precisa seguir em outra direção, como outros países que já tem isso consolidado.  Ou nós buscamos nova fórmula ou ficamos desatualizados, obsoletos.  Não podemos ficar do jeito que está. Quem paga, paga muito,  e quem recebe, recebe pouco pois há vários drenos até chegar em seus respectivos bolsos. Nosso modelo é obsoleto, o Congresso Nacional tem que buscar um novo modelo. O modelo atual nos leva a uma perda de competitividade enorme. As empresas estão engessadas. Estamos perdendo a capacidade de desenvolvimento.  A nossa economia não cresce. O empresário não contrata. É claro que a discussão é sempre válida pois estamos  em um país com liberdade de expressão e todos precisam discutir. Mas o Brasil precisa encontrar um novo  caminho da relação  de capital e trabalho. Temos que buscar uma nova relação.

 

Mas qual é o melhor caminho para o Brasil?

Dar um salto de produtividade, de competitividade. Assim o  Brasil vai vencer. Precisamos nos  relançar.

 

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