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Nizan Guanaes: futuro das revistas e outras publicações depende de um novo olhar

Paulo César de Oliveira
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Nizan Guanaes

O futuro das publicações, como revistas e jornais, passa por um novo olhar. A internet mudou o hábito das pessoas de se informar. Mas algumas delas não mudam. Mesmo com todo apelo e facilidade de se acessar conteúdos na tela do computador, as revistas voltam com força total, não só por serem mais elaboradas e com conteúdos cada vez mais interessantes e voltados para determinados públicos. Alguns setores mantêm nesse tipo de publicação um espaço para divulgação de suas marcas. O premiado publicitário Nizan Guanaes (foto/reprodução internet) ressalta que todas as grandes marcas de moda, por exemplo, têm uma revista.

Temos pelo menos uma geração que nunca folheou uma revista. Existe mercado para o conteúdo impresso?

Eu acho que a gente precisa compreender que as pessoas, quando falam de uma geração, essas pessoas não ficam paradas no tempo. A humanidade é cíclica. Ela caminha mais como um pêndulo do que em uma linha reta.  Vou te dar um exemplo: nós viemos aí de uma época em que todo mundo queria produtos com muita marca, muita moda e hoje está se vendo também o surgimento de marcas que não usam marca nenhuma. A marca dela não tem marca. Então, a história é pendular.  Nós também somos ruins de prever. Todo mundo dizia que depois da pandemia as pessoas iam consumir menos e iam pensar só no essencial. Nós não conseguimos prever que depois da pandemia voltamos a consumir, alguns menos, mas continuou outra coisa de antes do isolamento. Voltamos à natureza humana. Muitos disseram: “não vou aproveitar e eu vou mudar minha vida”. Claro que tem essas pessoas. Mas o homem é ruim de prever o futuro. Ele prevê as coisas e depois elas mudam. Vou te dar um exemplo: todo mundo está impressionado com estedomínio comercial da China e da Índia. Mas nos séculos passados, quem dominava o mundo era justamente a China e a Índia.  São questões da história que são importantes paracompreender se conhecer também o futuro. Saber o que aconteceu antes, os fatos que aconteceram e que foram importantes. Alguns dizem que ninguém mais assiste televisão. Não é verdade. Todo mundo assiste televisão. O que as pessoas não estão assistindo mais são anúncios dentro daquilo. E agora, cada vez mais está se colocando anúncios dentro do que antes não se colocava. Os três jovens que estão dominando a música popular brasileira neste momento têm mais de 80 anos. Maria Bethânia vai fazer 80 anos. Na verdade, Caetano, Bethânia e Gil, lotaram os estádios em espetáculos dignos de Dua Lipa. Quando se fala “ninguém lê mais revista” eu posso te dizer que todas as grandes marcas de moda têm sua revista, ou pelo menos a grande maioria. Todas as outras marcas também, grandes marcas de publicidade, de produtos, elas têm suas próprias revistas funcionando.

 Essas revistas funcionam como catálogos do produto? 

Não é bem assim. Elas funcionam para vender a marca. Claro que tem algumas que podem parecer catálogo, mas a maioria vende a essência do que a marca é, misturado a isso, tem os comerciais, como qualquer outra coisa. Mas eu acho que a revista não é para tudo. Eu acho difícil ter uma Placar hoje impressa. É difícil porque a dinâmica do futebol é muito rica, muito rápida. Mas uma revista de análise, são verdadeiros acontecimentos. O problema é que o impresso ficou inseguro. Ele não bate o pé. É preciso ter confiança. O segredo da novela Vale Tudo, por exemplo, é um marketing digital espetacular. Para mim tem muita coisa que eu acho que vai ser revisitada. Se começarmos a fazer uma pesquisa de quantas revistas de marcas são publicadas no Brasil, vamos ver que é uma loucura. O veículo precisa se posicionar, dar categoria ele e é isso que a gente tem que fazer. 

Estamos na era da inteligência artificial. A publicidade lida bem com essa ferramenta?

Não sei por que que as pessoas estão implicando com a inteligência artificial. Claro que ela é uma coisa que te leva para uma série de perigos. Se pensarmos bem,a mesma coisa aconteceu quando a gráfica foi inventada por Gutemberg em 1450, na época do Leonardo da Vinci. Daquela máquina saiu um monte de panfleto, de coisa perigosa. Mas a gráfica foi uma revolução.  Agora, eu, por exemplo, tenho usado a inteligência artificial de maneira espetacular. O que não pode, por exemplo, é você fazer a mesma pergunta para o ChatGPT, porque aí ele vai responder igual a todo mundo. Mas se você fizer perguntas diferentes, podem vir coisas interessantes. 

É mais um instrumento de criação?  

Para o Brasil vai ser um espetáculo, porque a gente muitas vezes não conseguia concorrer em filmes, em comerciais com o mesmo padrão dos Estados Unidos.  Hoje, a inteligência artificial vai nivelar as coisas. Tem uma série de coisas para se fazer. Agora, como tudo, não tem nada que tenha só um lado bom, a não ser Deus. As coisas têm dois lados, os dois lados da moeda. Por exemplo, estou lendo Mar Morto, de Jorge Amado, que eu trouxe para Europa. Conheci Jorge Amado em Paris, que é uma cidade que já reuniu muitos intelectuais, os pintores... Paris também é uma das cidades que mais aponta para o futuro. Eles têm uma visão de futuro muito forte e fazem uma barreira para o politicamente correto, para o que é chato, que está enchendo a paciência do mundo. Em Paris, por exemplo, eles fumam nos lugares, se irritam. Isso não acontece em várias partes do mundo. Mas eles se blindam do politicamente correto para seguir em outro caminho.

Ano que vem é ano eleitoral e caminhamos para uma disputa muito acirrada. A inteligência artificial pode ser um perigo nas campanhas?

A inteligência artificial pode ser um perigo para tudo. Ela tem efeitos colaterais perigosos. Por isso é importante pensar em como regular essa questão. Eu acho que há uma diferença entre regular o pensamento na rede e a censura, que, para mim não deve acontecer.  Agora, se uma coisa que é publicada é mentirosa, se temos anúncios que são horrorosos e mentirosos é preciso ter um olhar sobre essa questão.  O futuro sempre traz desafios novos.

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