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Blog do PCO

A difícil arte do diálogo

A política brasileira parece ter entrado em um ciclo difícil de se romper. A polarização e o extremismo têm custado caro ao país. Quem assiste ao que vem acontecendo nos últimos anos, como é o caso do ex-governador Alberto Pinto Coelho (foto), que é conhecido como um homem do diálogo, por ter presidido o legislativo mineiro e por eu espírito conciliador, sabe que só há uma saída para essa polarização: o diálogo e o consenso entre os que trabalham por uma terceira via. 

Como o senhor analisa o cenário político brasileiro? 

Vejo a soma de variáveis conjunturais de inflação alta, juros subindo, desemprego elevado, essa crise hídrica, que afeta a produção, o agronegócio e paralisa investimentos internos e externos. E nós temos um governo que tem a capacidade de criar fatos negativos e que tem um discurso que visa desestabilizar as instituições democráticas. É um cenário muito sombrio, muito nebuloso e as pesquisas estão a indicar cada vez mais a desaprovação do governo, que beira a 70%. A cada pesquisa ele cai um pouco e ainda temos essa polarização nas intenções de votos. Se bem que temos aí, um terço da população que aguarda por uma opção para sairmos dessa camisa de força, dessa polarização extremada, da direita mais extremada com a esquerda. Mas acho, como cidadão, como brasileiro, torço e alimento a esperança de ter uma conjugação de forças. Aí nós saímos desse caminho de radicalização. Em uma situação dessa, o mais difícil é o day after da eleição. Como governar se não tiver uma conciliação, uma reunião de forças. Tem que ter algo, a chamada governabilidade, com a formação de uma maioria. 

Parece que há uma dificuldade em se viabilizar uma terceira via. Por que essa dificuldade de se colocar um nome para contrapor a Lula e Bolsonaro? 

Toda e qualquer postulação tem sua legitimidade, mas em realidade há que haver uma reflexão das grandes lideranças para que isso venha a acontecer. Mas isso não acontece de véspera. O que nós estamos assistindo agora, que é altamente benéfico até, a diminuição do número de partidos, mesmo a despeito da cláusula de desempenho ou de barreira que vai, naturalmente, fazer isso. A eliminação da coligação proporcional vai acenar com fusões partidárias. Já tem uma tornada pública, que é a entre os Democratas com PSL, e isso vai estimular outras fusões. É preferível ocorrer isso do que sucumbir após as eleições. Tem partidos que dificilmente vão atingir esse novo, digamos, sarrafo de metas eleitorais. Alimento muito a esperança dessa convergência, que por mais difícil que ela seja, só se dará no ano que vem e ela virá em uma linha de convergência. Nós estamos tendo um evento aí, em que quatro partidos se reuniram para discutir o Brasil: o MDB, o PSDB, o Cidadania e do DEM. Aposto na esperança e alimento isso para o bem do Brasil, a despeito de qualquer vinculação política, de qualquer tendência política, como cidadão. 

Estão falando no nome do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, como provável candidato à presidência. O senhor acha que ele teria chances? 

Acho que ele é qualificado. Se formos pegar a trajetória dele, ele se lançou candidato em Belo Horizonte. Não foi ao segundo turno, mas deu a oportunidade da população o conhecer e o admirar. Depois ele deu uma sequência exitosa nas missões que recebeu. Ele tem todas as qualificações e tem um perfil que, certamente, se adequa a esse momento dessa união e também tem uma capacidade aglutinativa. Tem alguns partidos que se interessam pela sua candidatura. O PSD, publicamente, tem dito que gostaria que ele se filiasse e ele vai ter que resolver isso no tempo. Se fica nesse esse partido que está surgindo com a fusão do DEM e o PSL ou se vai para o PSD. Cheguei a fazer um artigo mostrando a importância da reunião de forças para voltarmos à cena nacional através da presidência do Senado. Vejo que ele é um candidato em potencial para aglutinar forças. No PSDB, vejo uma obstinação do governador de São Paulo, mas quando se entra na política, você tem que buscar apoio, mas tem que ter a capacidade de apoiar, se a convergência não for para o seu nome. O Doria não tem essa visão. Ele tem a visão só de tentar aglutinar em torno de si. Ele é um governador de um estado importantíssimo, o de maior colégio eleitoral. Mas vejo nele dificuldades de aglutinação. Aliás, vejo até uma cisão partidária. É legítima a sua postulação? É, mas ela encontrará obstáculos, por essa visão dele, que é obstinado, que é determinado, mas na medida em que você não se coloca para apoiar, dificilmente você será apoiado. 

E em Minas Gerais, esse grupo que sempre andou junto, encabeçado pelo PSDB, agora é cada um por si? 

Vejo em Minas um quadro ainda aberto, com dois nomes sendo colocados e com algumas variáveis, que ainda podem influir nesse quadro. Teremos uma candidatura que possa gratinar e se chegará a uma terceira via? Como é que ela vai influir nas forças políticas de Minas? E tem outro aspecto. Sendo essa terceira via nacional em torno do o senador Rodrigo Pacheco, como ficará o quadro em Minas Gerais? São sinalizações, aqui e acolá, Tem os nomes já colocados do Kalil e do governador, que vão polarizar se esse quadro não tiver essas outras variáveis. Essa polarização gera o seguinte: um dos candidatos que tiver um perfil que vocalize mais à esquerda, pode aglutinar os votos da esquerda. Por exclusão, o outro ficará com os votos da extrema direita, se não tiver um terceiro nome. Tem essas variáveis a serem dissipadas. 

Partidos, como PSDB, que sempre tiveram o nome na disputa, o próprio PT, têm dificuldade em viabilizar um nome. Isso mostra a dificuldade que esses partidos estão tendo de voltar a ter credibilidade junto ao eleitor? 

Eu diria que a polarização que prevaleceu nos últimos 20 anos na política nacional, ela naturalmente pode voltar a ter um protagonismo. As candidaturas nacionais têm que ter um apartamento nos estados, tem que ter um palanque, alguém que trabalhe essas candidaturas a nível estadual. No caso do PSDB, ele está apoiando o governo Zema, partido do seu líder de governo, e vejo o vice-governador atual, que se filiou ao PSDB. Nem sempre você tem o nome para ser o candidato, mas você pode compor a chapa majoritária com um vice, com o senador com relevância. Isso vai variar de estado para estado, mas eu diria que esse protagonismo ocorre quando você tem candidaturas nacionais expressivas e que atraem as composições. Vejo que o PT já o tem, que é o presidente Lula, que se tornou elegível, e o PSDB, vamos ver o que sairá das suas prévias. Se for os mais cotados, se for o atual governador do Rio Grande do Sul, ele agrega, é um nome e ele tem essa disposição e esse princípio que falei que é fundamental “eu quero ser apoiado mas me disponho apoiar se tiver um candidato que tenha mais condições e as pesquisas apontarem”, acho que essa visão esse princípio tem que existir, senão não teremos a viabilização de outras candidaturas. Tem a candidatura do Ciro, que é uma candidatura posta, que falece dessa estrutura nos estados. Ela não tem, por enquanto, nenhum outro partido a não ser o seu partido, o PDT, mas ele é conhecido nacionalmente e tem uma margem de aderência de intenção de voto, que fica aí em torno dos 10%. Na última eleição ele teve 12% dos votos e dificilmente ele vai refluir de sua candidatura. O cenário hoje seria esse né e essa busca desse candidato de aglutinação. 

O senhor vai disputar algum cargo no ano que vem? 

Não. Eu, inclusive, não tenho filiação partidária. Meu filho hoje é deputado estadual. Você pode sair da política com uma participação a nível de mandante mandatário, mas participa da política, nas conversas, porque isso não tem aposentadoria e nem é compulsória. (Foto reprodução internet)

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