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Antes do impeachment Temer tem poucas condições de agir

Após dois meses no governo, Michel Temer ainda não conseguiu implementar medidas mais arrojadas para tirar o país da crise. Mas os economistas, em sua maioria, concordam que houve uma estabilização e os números, mesmo que timidamente começam a melhorar. Para o economista e editor geral da revista Mercado Comum, Carlos Alberto Teixeira, as coisas não vão acontecer tão rapidamente como se imaginava e a decisão do Copom de manter a taxa de juros em 14,25% é um sinal disso. Mas ele acredita que quando Temer assumir o governo de fato, pós o impeachment, ele terá condições de avançar com medidas de maior impacto. Mas se Dilma Rousseff voltar ao governo, será um desastre para a economia brasileira.

 

As últimas decisões do governo em relação a economia sinalizam o que?

Sinaliza que as coisas não vão acontecer tão rapidamente como se imaginava. Mas a linha da condução da política econômica está correta. Não se consegue resolver todos os problemas em um lance só. Mas já há sinalização positiva. O cenário também pode ser considerado melhor, não que a crise tenha diminuído ou atenuado, mas que a velocidade com que acontecia diminuiu. A questão do Copom nos objetiva colocar que os motores da economia são a confiança e a credibilidade, com elas, recupera-se a atividade econômica. E são esses os sinais. Os primeiros sinais já foram emitidos por uma instituição absolutamente conservadora, que é o FMI, que revisou seus dados e já prevê uma queda menor do PIB e com crescimento já a partir do ano que vem. O Copom, evidentemente, nesse primeiro momento, não pode fazer como o que aconteceu no primeiro mandato da Dilma. Ele está inspirado na relação técnica. O primeiro grande problema da atuação do Copom é a redução da inflação. Acho que neste ano nós já estamos caminhando rumo ao atingimento da meta estabelecida para a taxa de juros e aí sim, mais na frente teremos condições de mexer. Mas o quadro é muito mais positivo do que era há três meses, há seis meses e do que era há um ano. Já há manifestação positiva de investidores, a balança comercial brasileira está “bombando” e eu diria de novo: eu acho que o cenário vai descortinar uma perspectiva mais positiva. Não vou falar de otimismo não, em que pese ser a sina brasileira. Nós não temos o direito de ser pessimistas, como dizia Juscelino Kubitschek. Mas acho que o quadro já está com outra coloração e já está respondendo bem.

 

Mas os empresários reclamam que essa alta nos juros prejudica o setor produtivo?

Aí é preciso entender que é um processo. Ele não foi construído apenas pelo governo Dilma, apenas pelo governo Lula. Ele começa desde a época do Collor e que é uma vivencia de longo prazo e no país hoje, em todos os sentidos, é uma exorbitância o que se cobra de taxa de juros. No presente momento há uma outra relação. Em poucos momentos da história econômica brasileira nunca se teve uma taxa de juros tão elevada como agora. Isso por outro lado, tem um ponto positivo: pode sinalizar que a sua queda é iminente. Isso para nós é positivo. Mas temos que separar os estágios: o econômico e o político. O econômico está indo muito bem, com uma das melhores equipes econômicas que nós já tivemos. No político, ainda estamos dependendo da aprovação do impeachment.

 

Alguns economistas entendem que com uma taxa de juros menor poderia ocorrer uma fuga de capitais do país. O senhor acha que isso poderia ocorrer?

Não. O risco país já caiu assustadoramente e mesmo se baixasse, ainda seria uma taxa atraente por uma razão muito simples: nos países no mundo inteiro, principalmente nos países desenvolvidos, como Alemanha, Bélgica e Suíça, eles não estão pagando juros, eles estão cobrando juros. Com um detalhe, as taxas de juros lá são negativas. O capital tem que ser remunerado. Por isso o Brasil continua sendo, em que pese as circunstâncias econômicas, um excelente campo para aplicar em juros.

 

A partir da votação do impeachment, se Temer for efetivado no governo a situação tende a avançar com medidas mais corajosas?

Eu não tenho nenhuma dúvida. Todos os sinais são positivos e a economia já está mostrando. Não quero afirmar que esses dados podem ser considerados como definitivos, pode até ser um alarme falso, mas a cada dia que passa no conteúdo macroeconômico, eles já estão se mostrando com uma certa consistência e essa consistência é positiva.

 

Mas isso em um cenário com Temer. E se Dilma voltar ao governo?

O cenário com Dilma é como Luís Paulo Rosenberg fala: vamos chamar a Matilde porque nós vamos presenciar o maior desastre ferroviário da história do planeta. Não tem essa perspectiva.

 

Temer tem mais condições de diálogo com o deputado Rodrigo Maia na presidência da Câmara?

Não tem a menor dúvida em relação a isso, e dá uma sinalização de que pelo menos as coisas mudaram. Hoje ainda tem muita coisa para acontecer pela frente. Tem algumas medidas emergenciais e outras que chamo de estruturais. Tem a conjuntura, que precisa ser resolvida. Mas não resolve mudando apenas a conjuntura, é preciso resolver as questões estruturais e a primeira delas se chama Constituição. Hoje a Constituição é o maior impeditivo à retomada do crescimento a taxas consistentes. Ela é uma trava, é um obstáculo ao crescimento econômico do país. A revisão da Constituição, dentro desse cenário de prioridades agora, é crucial.

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