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As atenções de Ciro Gomes

Paulo César de Oliveira
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Incansável nas suas críticas ao governo de Jair Bolsonaro e ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o pré-candidato do PDT à presidência da República, Ciro Gomes (foto), busca viabilizar o seu nome na disputa. Minas Gerais é um dos estados em que ele está focando as suas atenções. Desde que lançou a sua pré-candidatura, é a segunda vez que passa por Minas Gerais. A primeira foi em fevereiro e na última quinta-feira voltou ao estado para continuar levando suas propostas, que podem ser potencializadas com as propagandas partidárias, que voltaram a ser veiculadas no rádio e na televisão.

O senhor está aparecendo no programa partidário do PDT. Já é possível perceber alguma alteração nesse quadro? O programa partidário pode alterar essa percepção do eleitor?

A propaganda partidária voltou depois de anos suspensa e ainda é cedo para dizer qual será o impacto. Mas, para nós, que não contamos com a cobertura da grande mídia como outros candidatos têm, é um momento importante para mostrarmos as ideias do PDT para o Brasil. Estamos tendo uma ótima receptividade.

A pandemia mostrou que a população não acredita em seus governantes, ou na sua maioria, e preferiu seguir as autoridades sanitárias. Esse descolamento entre governo e sociedade é um sinal de que o poder público está cada vez mais distante da realidade do cidadão?

A pandemia foi uma catástrofe para o mundo, milhões de vidas foram perdidas. No Brasil, acabamos de atingir a triste marca de 650 mil mortes e lamento profundamente cada uma delas. São milhares de famílias brasileiras enlutadas, que perderam um pai, uma avó, um irmão, um filho. E o mais abominável é que grande parte dessas mortes poderia ter sido evitada não fosse a ignorância, a loucura e a perversidade de Bolsonaro, que boicotou as vacinas e demorou a comprá-las, que desestimulou o uso de máscaras e o isolamento social quando era mais necessário, que fez propaganda e gastou dinheiro público com um suposto “tratamento precoce” com cloroquina, mesmo depois que a ciência mostrou que isso não funcionava. Há pesquisas que mostram que a média de mortes brasileira é muito maior que a mundial. Muitas vidas poderiam ter sido salvas se Bolsonaro tivesse feito apenas o básico, seguindo as recomendações das autoridades sanitárias, comprado as vacinas logo que foram oferecidas, feito campanhas no Ministério da Saúde incentivando o uso de máscaras e o isolamento social. A sua condução desastrosa da pandemia tem como resultado direto a sua queda de popularidade, porque felizmente o povo brasileiro tem uma cultura de vacinação profundamente arraigada e, em sua grande maioria, preferiu ouvir a ciência. Então o Bolsonaro está, sim, completamente distante da realidade do nosso povo. Ele também demonstra isso e o seu pouco caso com a vida dos brasileiros quando tira férias em meio a desastres como os das enchentes recentes na Bahia e Minas, quando gasta milhões no cartão corporativo e em passeios de moto enquanto os nossos irmãos estão revirando lixo ou na fila do osso para se alimentar. É um completo boçal. Mas o cidadão vai dar a sua resposta no voto em outubro, já que não foi possível afastá-lo antes pelo impeachment, que teria sido o melhor para o país.

O senhor tem investido em Minas Gerais, um estado considerado definidor das eleições, mas que tem um eleitorado mais conservador no interior e mais independente na Região Metropolitana. O que esse eleitor tem sinalizado que quer de um governante?

Acredito que o que o eleitor quer de fato, seja do interior ou da cidade grande, é que o país reencontre o caminho do desenvolvimento, que todos tenham um emprego digno, que os pais e as mães brasileiros possam colocar comida na mesa de suas famílias com o produto do seu trabalho. Que os seus filhos tenham boas escolas, que todos tenham saúde de qualidade. Que os impostos que pagam não sejam desviados em roubalheira. Em 2018, cerca de 70% do povo da nossa querida Minas Gerais votou em Bolsonaro contra Lula, não porque nosso povo seja “gado”, como os petistas tentam criticar, mas sim por causa de toda a corrupção que foi central nos governos do PT. Precisamos lembrar que Palocci devolveu R$ 100 milhões? Ou dos R$ 51 milhões em dinheiro vivo no apartamento do Geddel? E também por causa de toda a grave crise econômica do governo Dilma, que foi colocada lá por Lula. Não é possível que agora o nosso povo vote em Lula para tirar Bolsonaro, que é um incompetente e genocida, mas que não é o único responsável pela crise; ele agravou a crise que já vinha dos governos petistas. O povo precisa ter essa clareza.

Religião e política. Como o senhor se posiciona?

Eu sou católico e respeito profundamente a religiosidade do povo brasileiro, a sua moral popular, as suas tradições. Os valores cristãos estão impregnados na alma brasileira. A Constituição brasileira de 1988 tem forte inspiração nesses princípios de solidariedade, direitos trabalhistas e justiça social. Agora, eu defendo a laicidade do Estado, que todos tenham liberdade para praticar a sua fé, seja ela qual for, ou mesmo que não tenham nenhuma religião.

Os governantes se preocupam em criar programas assistencialistas, esmolas mesmo, que no dizer de Luiz Gonzaga ou humilha ou vicia o cidadão de bem. Não é hora de pensarmos em criar um novo modo de vida, com cidadãos menos dependentes do Estado?

O objetivo do Projeto Nacional de Desenvolvimento que defendo é que todos os cidadãos e cidadãs brasileiros tenham direito a um emprego digno, que possam sustentar suas famílias com o produto do seu trabalho. No entanto, até chegarmos a esse estágio, com o nível absurdamente escandaloso de miséria a que os governos das últimas décadas nos levaram, com irmãos brasileiros revirando lixo para comer, é preciso que existam políticas sociais compensatórias para que todos tenham o mínimo para sobreviver. Pretendo implantar a Renda Mínima Universal, tal qual defende o ex-senador Eduardo Suplicy. Mas serão políticas sociais estruturadas, bem desenhadas e com regras claras de financiamento. (Foto reprodução internet)

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