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Até aqui Zema tem mostrado mais habilidade política do que Bolsonaro 

O que têm em comum os governos do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e do governador Romeu Zema (Novo). Os dois estão no primeiro mandato com um discurso que pegou em cheio o eleitor. As dificuldades enfrentadas pelos dois no diálogo com o Legislativo não significa que eles têm a mesma tática. O cientista político, Malco Camargos (foto), analisa a diferença entre os dois, o resultado que conseguiram no primeiro ano de governo e o peso que terão nas eleições municipais de 2020.

 

O ano de 2019 trouxe duas novidades: Jair Bolsonaro na presidência da República, e Romeu Zema, um empresário, assumindo o governo de Minas. Como foi a estreia dos dois no Executivo?

O que é similar entre os dois é uma nova visão de Estado, na qual, a gestão interna tem tanta importância, ou mais, do que a implantação de políticas públicas. São dois Estados voltados mais para si mesmos, do que para a relação com o cidadão. Com vantagens e desvantagens. A vantagem é a de se conter um déficit fiscal e a desvantagem é que as políticas públicas estão mais distantes do cidadão. O acesso aos serviços públicos está mais distante dos cidadãos. A diferença importante entre os dois, mesmo que na campanha Zema tenha sinalizada uma opção pela adesão a pauta de costumes, essa não foi uma tônica do seu mandato, já em Bolsonaro, essa pauta ocupou parte significativa nesse período.

 

Os dois parecem ter muita dificuldade de dialogar com o Legislativo, o que ficou evidenciado principalmente nos primeiros meses de governo. Essa dificuldade é em função dessa decisão de olhar mais para dentro do governo?

Os dois tiveram muita dificuldade na relação com o Legislativo. Mas enquanto Bolsonaro tenha insistido em um mesmo tratamento com o Legislativo, mesmo sabendo que isso não tem trazido bons resultados, Zema tem feito um esforço para melhorar a relação com os parlamentares durante o seu mandato. O resultado ainda é muito abaixo da necessidade e da expectativa. Mas Zema tentou aprender durante esse período, enquanto Bolsonaro insiste na mesma maneira de lidar com os parlamentares. Ou seja, Zema é mais habilidoso, mesmo passando por problemas iguais ao que Bolsonaro passa. Uma das coisas importantes do ser humano é saber se adaptar. Zema mostra esta capacidade, enquanto Bolsonaro tem seus princípios, seus valores acima de qualquer contexto, o que o torna um ser político mais instável, com menos capacidade de encontrar o bem comum.

 

Em termos de resultados, Bolsonaro conseguiu aprovar a reforma da Previdência que era uma pauta difícil.

Se o governo não tivesse conseguido aprovar a reforma da Previdência, o ano poderia ter sido caótico. Nunca se governou tanto com Medidas Provisórias, nunca tantas foram rejeitadas pelo Congresso, o que mostra uma baixíssima articulação política. Porém no tema mais importante para o presidente no primeiro ano, colocado pelos agentes do mercado financeiro, pelos políticos e pelo próprio Bolsonaro, ele logrou um resultado positivo. Enquanto isso, Zema não conseguiu na Assembleia Legislativa o mesmo desempenho. A adesão ao regime fiscal, que é a principal pauta do governo, não tramitou no primeiro ano na Casa.

 

Para o presidente Jair Bolsonaro a questão partidária é acessória?

Pela vida política pregressa de Bolsonaro, ele não tem um lastro partidário, tanto que ele passou por nove partidos durante a sua vida pública. Já Zema teve uma passagem por uma filiação partidária, mas não ficou no partido, e segue a cartilha do Novo e não há dúvida que os valores do Novo são os valores colocados por Romeu Zema no âmbito do governo. Uma tentativa de privatizações, essa visão de um Estado mais para dentro, enxugamento da máquina pública, a reordenação de algumas políticas que gerem recursos financeiros para o Estado. É uma preocupação na gestão pelo caixa e não pelo ganho político partidário.

 

Nestas eleições municipais, teremos Lula de volta àa cena política. O que a presença dele pode significar?

A soltura de Lula é tudo o que Bolsonaro precisava para estancar a sua queda de popularidade. O bolsonarismo tem uma visibilidade muito maior quando é colocado como antítese do petismo. E essa polarização interessa muito a Bolsonaro. A volta à liberdade de Lula coloca o combustível necessário para que o presidente possa falar com as suas bases e discutir um presente e um futuro, fazendo uma comparação com o passado. Por mais que tenhamos tido benefícios econômicos maiores no governo Lula, quando se compara com o governo Bolsonaro, o primeiro ano do governo Bolsonaro já é mais favorável em relação à economia do que os últimos anos, quando a recessão ficou mais forte. Além disso, nem em Minas, nem no governo federal houve denúncias de casos de corrupção por agentes públicos. Tem denúncias relacionadas a comportamentos anteriores, mas não houve nenhum caso de corrupção em nenhum dos dois governos, em Minas ou no governo federal.

 

Para 2020, quem vai sair com vantagem?

Não há muita conexão entre a disputa presidencial, de governador e as disputas locais. As eleições municipais têm dinâmicas muito diferentes devido a proximidade do eleitor com os agentes públicos locais. É claro que nas capitais tem alguma influência, mas está cada vez menor. Bolsonaro não tem a mesma força do que tinha em 2018. Zema tem mantido parte do patrimônio conquistado de supetão às vésperas das eleições. Ele certamente será um agente importante aqui em Minas, mas importante do que o PSL aqui no estado. Não sei se teremos aliança aqui no estado, a minha aposta é que não, mas a eleição municipal tem uma dinâmica um pouco afastada da federal.

 

Os grandes partidos PT, PSDB, MDB, como fica a situação deles nas eleições municipais?

A eleição de 2016 só puniu um partido, o PT. A eleição de 2018 já puniu os três grandes partidos, o PT, o MDB e o PSDB. Mais o MDB e o PSDB do que o próprio PT. A tendência é a de se manter a imagem negativa dos partidos que estruturaram a dinâmica das eleições municipais, estaduais e federais nos últimos anos.

 

Qual será o grande tema dessas eleições?

A trilogia tradicional da gestão municipal é saúde, segurança pública, infraestrutura e educação. Normalmente as duas principais são saúde e infraestrutura. Nesta eleição tem uma nova pauta que é o desenvolvimento econômico, dado a incapacidade do governo federal de promover o desenvolvimento econômico de modo a garantir a manutenção dos empregos para as pessoas, elas estão cobrando cada vez mais de outros agentes. A pauta de geração de emprego e desenvolvimento econômico será importante e essa é a novidade.

 

Partidos como PT e PSDB estão com dificuldade de encontrar nomes para disputar capitais como Belo Horizonte. Por que isso?

Da mesma maneira que esses partidos estão tendo dificuldade, o número de candidatos tem crescido. Ou seja, as pessoas estão buscando outras alternativas que não seja um grande partido para fazer a sua campanha. Mesmo com o fundo partidário, a eleição de 2018 tanto para Zema, quanto para Bolsonaro, mostra que há possibilidade de uma disputa política eleitoral sem que se submeta diretamente a lógica de um grande partido. As redes sociais, abrem alternativas para algo que era canônico nas campanhas, ou seja, para se ganhar uma eleição era preciso estar em um grande partido, com tempo de tv e um grande número de cabos eleitorais. Agora é preciso de uma plataforma digital e uma presença e isso é muito mais barato.

 

Nessa eleição não será permitido coligações proporcionais. Isso vai beneficiar os grandes partidos?

Sem dúvida e beneficia muito o eleitor, que passa a ter mais controle de onde vai o seu voto. As coligações, tal como eram feitas e como o componente ideológico não era considerado na maior parte das alianças feitas. O fim das coligações pode dar mais transparência e clareza para o processo eleitoral.

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