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Daniela Medioli: construindo o próprio caminho

Paulo César de Oliveira
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Daniela Medioli

 Executiva no setor de transportes, mãe de duas meninas e com apenas 34 anos, Daniela Medioli coleciona elogios por sua atuação. Esse reconhecimento também veio da Câmara do Comércio Italiana de Minas Gerais. Ela é a primeira mulher a receber a Medalha Italia Affari. Discreta, ela fala da sua atuação no grupo Sada, composto por 30 empresas, e de como conquistou o seu espaço em um ambiente dominado pelos homens. Além de trilhar os caminhos do pai, o prefeito de Betim, Vittorio Medioli, nas empresas, no futuro Daniela não descarta o caminho da política.

 Esse foi um prêmio especial? Você é a primeira mulher a receber essa medalha. É um reconhecimento ao seu esforço?

 Me sinto muito agradecida e honrada. Primeiro porque é um prêmio que já foi concedido a diversas personalidades que eu admiro e que foram importantes, no fortalecimento da relação comercial entre Brasil e Itália. E eu como filha de um Imigrante (Vittorio Medioli), como uma cidadã também italiana, pois tenho cidadania, me sinto bastante conectada, com a história do prêmio de diversas formas. Foi uma honra, mais ainda sabendo que sou a primeira mulher a recebê-lo. Espero ser a primeira de muitas. Querendo ou não, quando você tem um exemplo, você acaba aumentando o grau de consciência sobre o assunto. Ter representatividade é importante, porque quando a gente olha para uma entidade de tamanha relevância, em um estado tão marcado pela imigração italiana, querendo ou não, traz um gap dessa representatividade. Então, acredito nos programas de diversidade de inclusão não apenas de gênero, mas de todas as minorias, mas especialmente de gênero, eu acho que a representatividade é fundamental para conseguir mudar o ecossistema daqui para frente. 

 Você é representante do grupo Sada e também do Jornal O Tempo? Como é a Daniela executiva?

 Na verdade, em relação ao jornal O Tempo é uma vertical de negócio que eu me dedico. Quem tem se dedicado mais é a vice-presidente da Vertical de Comunicação, que é a Marina. Eu atuo nas áreas corporativas e já fui vice-presidente de Transporte, que é o nosso principal segmento de negócio, mas indiretamente eu participo da elaboração dos mapas estratégicos dos jornais. Mas o valor do trabalho sempre foi um valor muito forte na minha casa. Então, de certa forma, sempre fui muito conectada às empresas. A veia empreendedora para mim é extremamente desafiadora, mas é talvez um dos grandes orgulhos que eu tenho na minha vida e é uma alegria poder estar à frente desse grupo. Já tem oito anos que eu estou em posições executivas, me identifico também com posições de liderança, conseguir conduzir grandes projetos, de conseguir dar um salto de profissionalização em vários aspectos. Tenho aí bastante orgulho desse trabalho e eu espero fazer isso por muitos e muitos anos na minha vida. 

A área de transportes é dominada por homens. É difícil lidar com isso. É preciso impor a sua autoridade?

 Não gosto dessa palavra impor. Eu acredito que é uma postura, com bastante profissionalismo, sabedoria, acima de tudo, capacidade de entregar resultado. Isso é o mais importante. É claro que muitas vezes você vai enfrentar situações difíceis. Situações, de, talvez, ter um assédio, de ter um momento de exclusão por estar em uma posição diferente entre homens, mas tento agir sempre com muita naturalidade, com muita confiança de quem eu sou. E não me intimidar por isso, muito pelo contrário, buscar mostrar maturidade, competência, capacidade de entregar resultado. Então tento não me abalar muito por essas questões, mas sei que eu venho também de uma situação de privilégio, pois eu sou uma liderança que também conseguiu ascender muito, lógico que pela competência, mas também por ser uma das acionistas do Grupo. Então isso facilitou muito a minha jornada de ascensão profissional, que não é a realidade de boa parte das mulheres. Me preocupo muito em melhorar o ecossistema para que elas se vejam representadas e vejam que é possível ascender, independente dos desafios, independente da demografia, do setor, que é bem mais masculina do que feminina, e facilitar esses campos de acesso. Nós, por exemplo, já fizemos inúmeras promoções de mulheres gestantes, fazemos uma série de programas também “Somos uma empresa cidadã”, temos ações afirmativas para ter mais mulheres na operação, temos metas de gênero já em posições de liderança. Fomentamos eventos de liderança feminina para fortalecer autoestima, para ter um ambiente de troca, para ter um ambiente de segurança. Temos um programa de integridade muito robusto. Temos uma série de mecanismos para fazer com que a mudança aconteça de forma genuína na organização. Não é não é só um discurso. Você tem que traduzir o discurso na prática. E uma coisa muito positiva que o setor automotivo, que hoje é o que nós mais trabalhamos, tem também valorizado ações de diversidade, de cuidar de inclusão, com muitas frentes ligadas a sustentabilidade, a descarbonização. Isso também ajuda muito a adaptação às iniciativas que nós estamos conduzindo. Mas sempre tem que ter alguém para carregar essa bandeira. No caso do Grupo Sada, principalmente nas pautas de gênero, eu abraço essa bandeira com muito entusiasmo.

A experiência do pai político te ajuda a lidar com essas dificuldades que aparecem no caminho?

 Existe a política formal e a política informal, né? A política nada mais é do que um ato de você representar outros em prol de interesses que sejam comuns. Então, política tem muito a ver com a negociação, tem muito a ver com buscar uma melhoria, uma defesa de um grupo de interesses, uma visão de longo prazo, não projetos apenas de curto prazo. O ser político transcende até os papéis tipicamente institucionais de Executivo e Legislativo. Ter um político na família tão próximo… meu pai se tornou político no ano que eu nasci, em 1990. Foi o ano que ele se elegeu deputado. Sempre vi muito valor no trabalho do político e sempre admirei imensamente a forma com que ele conseguiu equilibrar a vida política com a vida empresarial. Como homem público. Muitos empresários fogem um pouco de ocupar esses papéis, até porque hoje em dia também o mundo foi criando certas amarras, como ser uma pessoa politicamente exposta. Mas o Vittório sempre foi uma pessoa extremamente determinada, abnegada. Para querermos transformar o nosso país, não adianta não ocupar esses lugares, porque o empresário tem uma capacidade de transformar enorme . Mas se você não ocupa esferas do Executivo e do Legislativo, você está abrindo espaço para pessoas que não estejam tão alinhadas em termos de valores para ocupá-los. A elite intelectual, a elite empresarial brasileira, querendo ou não, ela não é tão engajada politicamente quanto em outros países. Lá fora a gente vê isso e o Vittorio vê isso com muita responsabilidade, quase como uma missão espiritual de deixar um legado, de conseguir transformar um ambiente e fazer uma gestão melhor. Porque se você tem a capacidade dentro da empresa, é óbvio que a gente impacta milhares de famílias, e um cargo político impacta milhões. Você tem um salto de escala bem considerável. (foto/Tião Mourão: Daniela Medioli recebendo a Medalha Italia Affari das mãos da consulesa da Itália Nicoletta Gomiero, do presidente da Câmara de Comércio Italina de MG, Valentino Rizzioli)

 Esse pode ser um caminho também a ser trilhado por você?

 Não é um caminho que eu descarte, mas no meu curto prazo, não. Estou muito engajada na minha vida empresarial e no meu momento familiar. Mas não é algo que eu descarte.

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