Nos últimos anos a sociedade brasileira vem passando por uma revisão dos seus conceitos, criando mitos e vilões. A cada operação do Ministério Público e da Polícia Federal novos atores surgem. Os crimes são sempre os mesmos: corrupção, desvio de recursos públicos, mau uso da verba pública. Empresários e políticos dividem esse cenário, que a cada dia deixa o brasileiro mais descrente de que possa haver mudanças nesse quadro. Essa desesperança preocupa o setor empresarial e as quatro Federações das Indústrias da região Sudeste decidiram fazer ações conjuntas para mostrar que empresários e sociedade fazem parte do mesmo todo. Todos estão no mesmo barco e querem a mesma coisa, segundo o presidente da Siamig e do Conselho Empresarial de Meio Ambiente do Sistema FIEMG, Mario Campos(foto). Mas essa comunicação precisa melhorar, porque o Brasil é um país de empreendedores, do micro, ao médio e grande empresário.
Os presidentes das Federações das Indústrias dos estados do Sudeste decidiram se unir em defesa da indústria e para caminhar junto com a sociedade. O que os empresários estão percebendo?
Essa união aconteceu porque já existe a união dos estados do Nordeste. As Federações do Nordeste, já há algum tempo se reúnem, têm uma união em prol dos interesses da região. É nesse sentido que as Federações do Sudeste, que é a região mais rica do país, estão se movendo e há essa necessidade de se unir em prol de uma discussão, não só do Sudeste, mas do Brasil. Esse é o principal motivador desse processo, porque, pensando que esta é a parte do país mais rica, que gera mais riqueza e renda, e que precisa pensar também no país. Nós precisamos pensar como será o primeiro dia de 2019, depois da posse do novo presidente da República e no final de janeiro, dos parlamentares que, ao que tudo indica, serão os mesmos. Hoje é proibido às empresas financiarem as campanhas, mas ao mesmo tempo há uma percepção, infelizmente, o que pode ser até uma falha do setor empresarial de se comunicar, um mau olhar sobre o empresário de forma geral.
As denúncias da Lava Jato tornaram os empresários em vilões?
Isso, a sociedade ainda vê o empresário como vilão. Essa situação é corroborada por algumas coisas, como os personagens das novelas, os empresários é que são vistos como ladrões, sonegadores, como pessoas que matam, que são corruptos. É um coronel, essa coisa que ficou no imaginário popular durante anos, infelizmente, ainda está na sociedade. Quando analisamos o empresário, nós estamos falando de uma grande empresa, de uma pessoa que tem uma lojinha no bairro, uma lojinha em uma região carente. São todos empresários. Pequeno, médio, grande e enorme empresário. O espectro é muito grande. A palavra empresário, que é normalmente alguém que assume uma postura de fazer algo, seja no comércio, indústria ou agricultura, que está dentro das cadeias produtivas, vai empreender e vai empregar. Quem gera o emprego é o empresário. A motivação dele de ser empreendedor, é fazer e produzir algo, gerar emprego, gerar renda, gerar oportunidades. O que falta no país é esse espírito do empreendedor. Nós vemos em muitos países da Europa e do próprio Estados Unidos, esse espírito empreendedor. Obviamente nós, como federação, como representantes do setor empresarial, nós queremos que o ambiente de negócio seja propício a esse movimento empreendedor, pois acreditamos que se derem condição ao brasileiro, ele avança, porque tem característica de empreendedor. Se o brasileiro encontra muita dificuldade, dificilmente ele vai fazer, porque a vida não é fácil.
Há uma visão distorcida?
Nós hoje, e durante muitos anos, pecamos pela falta de comunicação efetiva com a sociedade. Hoje, uma pessoa que é um empregado, amanhã pode ser um empresário. Não existe empresa sem empregado. Não existe empregado sem alguém que empreendeu e gerou emprego. Nós somos fruto da mesma coisa. Nós somos parceiros e precisamos caminhar juntos. Precisamos defender esse interesse comum da sociedade, de ter um ambiente de negócio propício, que possibilite esse empreendimento e estamos falando de simplificação tributária, de desburocratização de todos os processos. Passam dias e dias para se abrir uma empresa e mais o dobro para fechar. Esses processos todos de que falamos há vários anos, de simplificação tributária, de desburocratização, de redução dos entraves, da necessidade de carimbo pra lá e pra cá, dificultam a atividade empreendedora no Brasil e isso precisa ser discutido. Quando o estado gera emprego é quando ele faz concurso público, mas não é o objetivo dele o de gerar emprego. O objetivo dele é ofertar serviços públicos de qualidade e gerir esse sistema. Quem vai gerar emprego é a atividade empreendedora e pode vir do comércio, da indústria, da agricultura no micro, no médio e no grande empresário.
Como fazer essa aproximação?
Nós temos hoje no discurso do presidente da Fiemg, Flávio Roscoe, quando ele fala do interesse difuso da sociedade, do interesse comum da sociedade. A sociedade quer, atualmente, que nós paguemos menos impostos. É o que nós queremos como empresários, Ao mesmo tempo, queremos que o Estado tenha mais transparência, tenha menos corrupção, menos complicação em todo o processo e ofereça um serviço público de qualidade. O interesse de um lado é o mesmo do outro e nós nunca nos comunicamos. Os quatro presidentes das Federações das Indústrias da região Sudeste têm o mesmo objetivo nesse sentido, de valorização da atividade empreendedora no Brasil e de restabelecer a confiança no sistema produtivo para que o Brasil possa crescer com sustentabilidade.
Como despertar o interesse da população e do empresário para a discussão política?
Não adianta nós acharmos que vamos resolver os problemas sem a política. A política faz parte da democracia e nós. temos que participar. A partir do ano que vem, acredito que efetivamente, teremos que ter uma relação mais próxima com aqueles que nos representam. A cobrança que hoje já é enorme, vai se acentuar. A transparência será muito maior. Qualquer tipo de ação que um parlamentar pratique, ou um governador, o presidente ou um prefeito, tem que estar respaldada por aqueles que são seus representados. Não basta criticar o que não foi feito. Nós temos que aplaudir e valorizar aquilo que foi feito da forma correta. Precisamos colocar os nomes das pessoas que tem espírito público, dos que pensam no bem coletivo, à frente e mostrar para a sociedade que essa pessoa que colocou a cara para bater, ela fez algo de bom para a sociedade. Essa será a nova forma de interlocução entre a sociedade e seus representados no Congresso Nacional, talvez com uma conotação mais regional, devido a base do parlamentar. Essa força regional vai se acentuar. Nós temos que defender o interesse da sociedade, do que une a classe que empreende e do que depende desse empreendedor. Nós estamos no mesmo barco e se não começarmos a andar juntos, esse barco pode afundar. Aliás, já está afundando.